CAPÍTULO 1

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Sigmund Freud.

Para alguns engraçadinhos, apenas a expressão "Freud explica". Para outros mais conservadores, um depravado que nada contribuiu para o desenvolvimento da sociedade. Para os estudiosos, o pai da psicanálise. Para os ignorantes, apenas mais um nome qualquer na vastidão do mundo. Para mim... as melhores duas horas da semana.

Não só porque as teorias do neurologista me fascinavam, nem mesmo porque eu só havia escolhido cursar psicologia para poder entender melhor os seres humanos e os seus impulsos, mas sim porque o professor daquela matéria em específico era Alexandre Sandstorm, e eu simplesmente o venerava.

A maioria das alunas queria apenas uma coisa com o professor de Psicanálise Avançada: levá-lo para cama. Mas não eu... Claro que os seus lindos olhos azuis, a sua barba loira sempre por fazer e a expressão de quem havia passado a noite inteira lendo - ou fazendo outras coisas, se é que você me entende - era um distrativo e tanto, mas era a sua inteligência que me absorvia, que me levava para outro mundo, um em que eu poderia passar horas, dias, semanas e meses apenas ouvindo o que ele tinha a dizer – e tudo o que ele dizia era incrível. Alexandre era o tipo de homem que apenas abria a boca para contribuir com a sociedade de alguma maneira.

— Ah, pelo amor de Deus, Alexia — a voz sempre carregada de sarcasmo de Apolo tirou a minha concentração, e eu fui obrigada a tirar os olhos do professor e virar-me para trás. — Eu consigo ouvir as suas coxas roçando daqui.

— Cala a boca, Apolo — eu resmunguei, tentando voltar a prestar atenção na aula, mas era impossível ouvir o que Alexandre dizia com as risadas divertidas do meu amigo direcionadas ao meu pescoço.

— Alexia e Alex, o nome de vocês até combina! — ele continuou, ainda rindo. — Eu fiquei sabendo que ele transou com aquela bonitinha do quarto ano e deixou ela de DP. Que tipo de monstro faz uma coisa dessas?

— Apolo, eu juro por Deus que se você não calar essa sua boca eu arranco a sua língua com um alicate — eu murmurei em resposta, e então o professor Alexandre se voltou para nós dois.

— A fase oral — ele falou mais alto para que parássemos de cochichar, olhando dentro dos meus olhos e da minha alma — representa a primeira fase da evolução libidinosa.

— Aposto que você não se importaria em fazer uma demonstração da fase oral no professor Alexandre — foi o último comentário do meu amigo, que voltou a sentar-se corretamente na cadeira.

Eu fui obrigada a segurar a risada, observando o homem mais incrível do planeta apresentar a sua aula com maestria, como se ele tivesse nascido para ser professor. Mesmo falando sobre bebês que colocam tudo na boca, menininhas com inveja do pênis e crianças que choram ao ver o cocô ir embora, ele conseguia ser sensacional e prender a atenção de 100% das pessoas no recinto. Era, sem dúvidas, um dom.

Antes de entrar para a faculdade, eu queria apenas me formar em psicologia e trabalhar com recursos humanos, seguindo o rumo que todas as mulheres da minha família seguiram: arranjar um emprego, conhecer um bom partido, casar, largar o emprego e ser uma mãe e dona de casa em tempo integral. E aquele plano estava ótimo para mim, nascida e criada em um núcleo muito cristão e conservador. Talvez justamente por isso que os primeiros anos do curso tivessem sido um choque de realidade para mim.

Não só conheci outras facetas da sociedade, como descobri um mundo de possibilidades, um vasto mar de conhecimento e uma imensidade de rumos a se tomar. Em pouco menos de quatro anos, descartei a possibilidade de levar uma vida que não me pertencia, rompi com os meus preconceitos e quebrei uma coleção inteira de paradigmas.

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