CAPITULO ÚNICO

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1944-Rio de Janeiro

Nos braços de Théo, Melissa ia até as nuvens sem sair do chão. Ela sentia que nada poderia os separar, muito menos o fato de que ele era apenas um aspirante a escritor, e ela uma garota da alta sociedade.
O mundo temia todos os horrores da segunda guerra mundial, mas por mais que ambos sofressem muito por todo aquele momento que o mundo atravessava, eles esqueciam o mundo quando estavam juntos.
Era mais um de seus encontros secretos, Melissa escolhera o seu melhor vestido e penteara o cabelo de forma impecável e seguira para o encontro de seu amado, o qual também separou sua melhor roupa para encontrá-la, a mesma de sempre, porém ela não se importava.
Melissa tinha em seu coração um terrivel sentimento de tristeza, pois sua mãe lhe avisara que em breve seu pai lhe arranjaria um noivo. Ela estava se portando como se aquele pudesse ser um dos ultimos momentos dela com seu grande amor.

- Eu te amo. - Ela lhe disse recostando sua cabeça no peito de Théo, o qual por sua vez se apoiava em uma árvore de tronco largo.
- Eu também te amo. - Ele sentira as lágrimas dela molharem sua camisa, e tocando o seu queixo de maneira delicada o posicionara de modo que seus olhos se encontrassem. - O que houve minha pequena?
- Meus pais querem encontrar um noivo para mim, e eu não quero perder você. - Disse ela o abraçando ainda mais forte.
- Eu não posso deixar isso acontecer, vou falar com seu pai e pedir sua mão em casamento. - Disse ele tentando mostrar força em meio ao desespero que o atingira.
- Théo, meus pais nunca te aceitariam, talvez devessemos aceitar que não tem jeito.
- Eu não posso te deixar ir, eu te amo. - Agora foi a vez dele apertá-la em seus braços fortes forjados pelo trabalho duro, o que lhe roubou o ar.
- Está me sufocando Théo. - Disse ela gargalhando brevemente.
- Desculpa amor. - Ele gargalhou para logo depois deixou uma expressão séria invadir seu rosto. - Precisamos achar uma saída.
- Eu não posso viver sem você. - disse ela voltando a chorar.
- Você iria comigo a qualquer lugar? - Perguntou ele em tom sério.
- Até ao inferno se for preciso. - Respondeu-lhe com a mesma seriedade.
- Foge comigo? - Disse ele com um sorriso esperançoso.
- Para onde vamos? -Ela lhe disse devolvendo o sorriso.

(...)

Ela esteve lá naquela estação com as malas prontas durante toda a tarde, mas ele não chegou e após chegar a conclusão de que o chão não a engoliria percebeu que o único caminho era voltar para casa derrotada, e desejou ter tempo para tanto quando viu que sua mãe surgira no terminal com uma expressão impássivel atravessando um dos portões da rodoviária e avançando na direção dela.

- Mamãe, eu posso te explicar tudo. - Melissa tremia de medo.
- Não há o que se explicar. - Disse Nora em tom menos severo do que o esperado.
- Eu o amo mamãe.
- Eu sei, mas não posso deixar que você destrua sua vida dessa forma.
- Mamãe eu...
- Infelizmente o mundo não é justo. - Disse ela interrompendo Melissa.
- Enquanto pessoas como nós tem muito outros não tem nada, eu não posso evitar que pessoas morram de fome, mas posso evitar que você passe por isso.

Melissa chorava, seu coração estava quebrado tudo dera errado, contudo, ela sentia que o pior ainda estava por vir. Deitada em sua cama, chorava desesperada, e sem chão se perguntava aonde estaria Théo naquele momento, por mais que tudo acabasse apontando que Théo a havia abandonado, ela tinha a esperança de que tudo acabaria se esclarecendo e eles seriam felizes.
Ouvindo o som da campainha ela rapidamente correu em direção da porta na esperança de que fosse Théo, contudo ela teve a surpresa de descobrir que na verdade era um senhor que possivelmente já adentrava a casa dos 60 anos de idade, aproveitando que seus pais não estavam em casa ela o convidou para entrar.
Eles se sentaram na sala de estar, ele parecia assustado como se fosse um peixe fora d'água, ela tratou de tratá-lo de forma mais igual possível, pois já percebera que se tratava de um homem humilde.

- Então, o senhor gostaria de beber alguma coisa?. - Disse ela em tom solícito.
- Não, muito obrigado. - Respondeu ele da mesma forma. - Eu sou Ernesto, o pai do Théofilo, e creio que você era a namorada dele.
- Era? Eu ainda o amo.
- Ele me contou sobre o plano de vocês, eu tentei convencê-lo, mas ele se manteve irredutível.
- Nós dois nos amamos muito, o esperei durante toda a tarde de ontem, por que ele não foi? - Disse ela chorando novamente.
- Ele teria ido se tivesse tido a chance. - Ao perceber o tom de voz de Ernesto que mudava, sua expressão de choro deu lugar a uma expressão de preocupação. - Na noite anterior à manhã em que ele iria te encontrar aconteceu um incêndio na fábrica na qual ele trabalhava, infelizmente meu filho não conseguiu escapar.

Ambos mergulharam em um pranto mútuo, Melissa queria morrer, queria encontrá-lo, contudo se sentia presa e por mais que gritasse numa tentativa de diminuir sua dor, ela só aumentava.
Como a vida podia ser tão cruel? Como o amor de sua vida lhe fora arrancado de forma tão brutal de modo que ela nem ao menos teve a chance de se despedir. Ernesto a abraçou, e antes de ir embora lhe disse remexendo os bolsos.

- Essa é a única foto que eu tenho dele, eu quero que fique com você.
- Eu não posso aceitar. - Disse ela com as forças que lhe restavam.
- Eu quero você fique com ela. - Ele lentamente se desprendeu dela e seguiu para a porta.
Ela então estava sozinha, e ali mesmo no sofá, deitou-se com a foto de Théo encostada em seu peito e sem perceber, adormecera.

(...)

Melissa deixou a máscara cair, ela sempre demonstrava ser forte na frente dos outros, uma mulher de ferro e imbatível, mas naquele momento permitiu-se ser fraca e chorar, desabar sem medo, sem fingimento, apenas lagrimas.
Lágrimas por toda saudade que sentia do amor de sua vida, saudade do garoto que nunca esquecera. As vezes ela sentia como se a qualquer momento ele pudesse voltar, mas logo constatava que ele se fora para sempre.

Melissa fechou os seus olhos e enfim contendo suas lágrimas orou:

- Deus, se o Senhor estiver me ouvindo me leve até ele.

Ela olhou as estrelas a procura de algo que não conseguia nomear, somente sentia ainda mais forte a sensação de que Théo iria entrar por aquela porta.
No céu, encontrou uma estrela que brilhava ainda mais que as outras, e aos poucos viu o brilho da estrela se tornar cada vez mais forte; era ela que estava sendo guiada para a eternidade.

Fim

Victor Pacheco.

O GAROTO QUE VOCÊ NUNCA ESQUECEUWhere stories live. Discover now