CAPÍTULO XIII DA ARTE DE SEMEAR A DISCÓRDIA

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exército junto, não pela força de seu braço, mas por sua prudência, por seu

brio e, sobretudo, por sua argúcia. É preciso que, ao primeiro sinal, uma parte

do exército inimigo passe para o seu campo, para combater sob seus

estandartes. É preciso que o general seja sempre o árbitro que estipula as

condições da paz.

O grande segredo para vencer sempre consiste na arte de semear a

divisão: nas cidades e nas aldeias, no exterior, entre inferiores e superiores, de

morte, e de vida.

Os cinco tipos de divisão são apenas os galhos de um mesmo tronco.

Aquele que sabe empregá-Ios é um homem verdadeiramente digno de

comandar. É o tesouro de seu soberano e o sustentáculo do império.

Chamo divisão nas cidades e nas aldeias aquela mediante a qual se

consegue conquistar os habitantes das cidades e das aldeias que estão sob

dominação inimiga, envolvendo-os para que possam ser usados com

segurança, em caso de necessidade.

Chamo divisão exterior aquela mediante a qual se consegue aliciar os

oficiais que servem no exército inimigo.

Pela divisão entre inferiores e superiores entendo a que nos coloca em

condições de aproveitar a dissensão que semeamos entre os aliados, entre as

diferentes guarnições, ou entre os oficiais dos diversos escalões do exército

inimigo.

A divisão de morte é aquela pela qual, após dar falsos avisos sobre o

estado de nossas forças, espalhamos rumores tendenciosos, inclusive na corte

do soberano inimigo, o qual, acreditando na veracidade dos boatos, toma

atitudes condizentes com as falsas informações recebidas.

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A divisão de vida é aquela mediante a qual se distribui dinheiro em

abundância, para todos os desertores do campo inimigo.

Se souberes infiltrar traidores nas cidades e nos vilarejos inimigos, em

breve terás ali muitas pessoas inteiramente devotadas. Conhecerás, por seu

intermédio, as disposições da maioria em relação a ti. Esses traidores

sugerirão a maneira e os meios que deves empregar para conquistar seus mais

temíveis compatriotas; e quando chegar o momento de efetuar o cerco,

poderás vencer sem dar o assalto, sem desferir nenhum golpe, sem

desembainhar a espada.

Se os oficiais inimigos estão em constante desacordo; se desconfianças

mútuas, inveja, interesses pessoais os mantêm divididos, poderás facilmente

cooptar uma parte deles, pois, por mais virtuosos e mais devotados a seus

soberanos, a promessa de vingança, de riquezas ou de postos eminentes

bastará para atiçar-Ihes a cobiça. E quando esta estiver acesa em seus

corações, tudo farão para satisfazê-Ia.

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