dia, e outras que pedem as trevas do segredo. Não posso determiná-Ias de
antemão. Só as circunstâncias podem ditá-Ias. Opomos grandes blocos de
pedra às corredeiras que queremos represar. Empregamos redes frágeis e
miúdas para capturar pequenos pássaros. Entretanto, o caudal rompe algumas
vezes seus diques, após tê-Ios minado aos poucos, e os pássaros, as peias
que os aprisionam, à força de se debaterem.
É por seu ímpeto que a água das torrentes corrói os rochedos. É
regulando a distância que o falcão se orienta para estraçalhar a presa.
Possuem verdadeiramente a arte de bem comandar aqueles que
souberam e sabem potencializar sua força, que adquiriram uma autoridade
ilimitada, que não se deixam abater por nenhum acontecimento, por mais
desagradável que seja; que nunca agem com precipitação; que se conduzem,
mesmo quando surpreendidos, com o sangue-frio que têm habitualmente nas
ações meditadas e nos casos previstos antecipadamente, e agem sempre com
a rapidez, fruto da habilidade, aliada a uma longa experiência. Assim, o ímpeto
de quem é hábil na arte da guerra é irrefreável, e seu ataque é regulado com
precisão.
O potencial desse tipo de guerreiro é como o dos arcos retesados. Tudo
verga sob seus golpes, tudo é derribado. Como um globo que apresenta
perfeita esfericidade em todos os pontos de sua superfície, eles são igualmente
resistentes em toda a parte; em todos os pontos, sua energia é a mesma. No
auge de uma confusão e de uma desordem aparente, sabem conservar uma
disciplina de ferro. Fazem brotar a força no seio da fraqueza. Despertam a
coragem e a determinação no meio da covardia e da pusilanimidade.
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Mas saber manter uma ordem impecável, inclusive no meio da
desordem, exige profunda reflexão sobre todos os acontecimentos que podem
suceder.
Transformar a fraqueza em força só é dado àqueles que têm uma
energia absoluta e uma autoridade ilimitada. Pela palavra "força" não se deve
entender "dominação", mas sim a faculdade que permite que se transforme em
ato tudo aquilo que se propõe. Saber engendrar a coragem e o valor no meio
da covardia e da pusilanimidade significa tornar-se herói e, mais do que isso,
colocar-se acima dos mais intrépidos.
Um comandante hábil busca a vitória baseando-se nas circunstâncias e
não a exige de seus subordinados.
Por mais maravilhoso que tudo isso pareça, exijo algo mais dos que
comandam as tropas: é a arte de manipular o deslocamento dos inimigos.
Aqueles que dominam essa arte admirável dispõem de ascendência sobre o
próprio exército, de tal forma que manipulam o inimigo sempre que julgarem
apropriado. Sabem ser liberais quando convém. Agem da mesma forma em
relação aos que querem vencer: dão e o inimigo recebe; abandonam e o
inimigo recolhe. Estão prestes a tudo. Aproveitam-se de todas as
circunstâncias. Sempre desconfiados, vigiam os subordinados e, desconfiando
destes também, não descuram de nenhum meio que lhes possa ser útil.
Consideram os homens que devem combater como pedras ou troncos
que tivessem que despencar de um penhasco.
A pedra e a madeira não têm movimento próprio. Uma vez em repouso,
não se mexem por si mesmos, mas seguem o movimento recebido. Se são
quadrados, mantêm-se parados. Se redondos, rolam até encontrar uma
resistência mais forte do que a força recebida.
Age de forma que o inimigo seja, entre tuas mãos, como uma pedra
redonda que terias que precipitar de um penhasco: a força necessária é
insignificante; os resultados, espetaculares. É nesse ponto que se reconhecerá
tua força e autoridade.
CAPÍTULO V DO CONFRONTO DIRETO E INDIRETO
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