Capítulo 5 - Serenade of Spring

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O quarto girou à minha volta num turbilhão, mas meus olhos estavam preocupados em encontrar algum defeito no vestido. Era a terceira vez que o experimentava, indecisa se as cores eram melhores do que um tubinho preto básico, mas toda vez que olhava para o modelo me lembrava de que teria um bom caminho até a casa dos Arcangeli e saltos não estavam no pacote.

— Céus... — sentei nos degraus do porão, encarando o espelho que ficava levemente embaçado com o vapor da água quente.  — Tenho que parecer uma esposa orgulhosa e não tenho ideia de como isso funciona.

Passei os olhos pelo alçapão fechado e ri sozinha, sentindo as bochechas repuxarem de rubor apenas de lembrar a cena que havia acontecido há pouco. Pobre Raphael, estaria com o coração partido nesse momento? Ao menos nunca havia mentido para ele, sempre fui sincera de que esperava meu marido imaginário retornar de algum lugar, algum dia. Eu fazia o que era melhor para todos. Sem esperanças, o jovem não perderia mais seu tempo com seu flerte e eu poderia partir tranquila em breve, pro que quer o meu destino reservasse.

Dei um longo suspiro e me pus em pé, decidida. A roupa não ia se arrumar sozinha, os cabelos não se prenderiam por vontade própria e os sapatos... Bem que eles podiam caminhar sós, não é?

Subi assim que me considerei apresentável. Não era o meu melhor, mas gostava do resultado do vestido estampado, uma frente única que se prendia na nuca e caía levemente rodado acima dos meus joelhos. Um comprimento ideal. Sapatos baixos e cabelos soltos. Apenas um batom rosa, já que os Arcangeli não eram dados a luxos e algumas gotas de perfume, uma lavanda que eu mesma havia fabricado com muito orgulho.

— Frank! — subi para meu quarto já chamando pelo advogado. Homens eram mais ligeiros com roupas, práticos até demais. Com certeza ele já estava pronto e cansado de me esperar, pobre coitado. Mesmo depois de tudo que já estava fazendo por mim, eu ainda o colocava em tantos problemas.

Mas ele quem aceitou o jantar.

— Já estou pronta. — apanhei a pulseira de mini pérolas na caixinha sobre a penteadeira e voltei para o corredor tentando abotoá-la no pulso. Dei de cara com aquele homem nas escadas, imponente e abrindo um suave sorriso a me ver. Minhas bochechas teimaram em reagir, mas baixei meus olhos antes que me denunciassem a timidez extrema. Não sei por que aquele estranho me intimidava tanto. Talvez por sua beleza rude mesclada com olhos azuis tão doces, talvez pela segurança que exalava quando se aproximava de mim, tão alto e grande que poderia me erguer do chão sem esforço, aposto.

— Está muito bonita, Mademoiselle Gabrielle.

Madame Gabrielle. Lembre-se de que sou uma mulher casada. — ele me puxou pelo pulso. Um gesto tão simples e que arrepiou minha nuca. Trouxe-me pra perto para arrumar o fecho da pulseira com que estava brigando desde o quarto.— Obrigada...

Frank não parecia o mesmo homem engravatado e sério que entrou pela porta de Bonvent. Usava um jeans escuro e uma camiseta branca que ficavam perfeitos em seu corpo. O blazer cinza com riscas de giz era um charme que lhe dava um toque despretensioso, mas elegante.

— Pronto.

— Obrigada novamente — os dedos dele arrumaram as pérolas antes de me soltar e me oferecer o braço gentilmente. — Quanto cavalheirismo, senhor Brightview.

— Seu marido não faria o mesmo?

— Não. — fui sincera. — Diego jamais andaria comigo de braços dados ou frequentaria o mesmo recinto que sua esposa troféu. A não ser que houvesse algum ricaço por perto para bajular, mas sempre fugi deles. Não gosto da nata da sociedade e não sou fotogênica para estampar qualquer revista por aí.

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