Depois do almoço, Theodor sentou-se na porta da frente com uma maçã na mão esquerda e ficou jogando para cima e começou a refletir em sua vida durante todos aqueles anos até àquela hora, ficou se perguntando o que tinha feito todos aqueles dias, não tinha nada de concreto, enquanto seus amigos, ele tinha amigos, estavam com um bom emprego, casados ou noivos, por sinal um deles casará nesta noite, mas Theodor não poderá ir, está sem grana pra ir até lá, o lugar é muito longe e levaria quase uma hora pra pegar dois ônibus pra ir e mais dois pra voltar, se pudesse estaria lá para felicitar o casal. Ele parou de pensar alguns minutos em Helene pra pensar em si mesmo, sem emprego, nem faculdade, muito menos uma namorada e a garota que ele tanto pensa nem sabe que ele existe.

-Engraçado como são as coisas não é? O que foi que eu fiz pra estar assim? Será que nada mudará em minha vida?

Essas perguntas dançavam por cada neurônio, mas respostas nem sinal de sua chegada, ele tirou um pedaço da maçã e ficou ali até o momento que caiu em si e pensou que tinha que tomar alguma atitude na vida.

Theodor decidiu que iria trabalhar com o tio todos os dias para ter pelo menos dinheiro pra pagar o cinema e até mesmo caso ele um dia ficasse com Helene tinha que ter dinheiro pra poder sair com ela, pelo menos pagar um sorvete só pra não fazer feio.

Klaus estava entrando em casa quando Theodor lhe surpreendeu pedindo, quase implorando que deixasse trabalhar na feira com ele, disse que iria prestar atenção nos clientes, que não faria mal acordar na madrugada, que não se importava com a viagem. Seu tio lhe olhou com olhos desconfiados e até tomou um susto com aquela cena, achou que seu sobrinho tinha enlouquecido, mesmo assim aceitou a ideia, já que precisava mesmo de um ajudante e seu sobrinho precisava de dinheiro, sendo que se contratasse alguém de fora teria que pagar mais.

Durante algumas semanas Theodor ficava lá trabalhando e esperando sua paixão passar, mas nem sinal dela, mas esses não foram os piores de seus dias, haveria outros sem que ele esperasse, mas quem esperaria?

Seu tio sempre pagava quando o dia terminava e todos os dias que ia até Nuremberg ele imaginava que iria encontrar sua amada.

Certo dia chega um cliente bem arrumado, ele parou e viu os esboços de Theodor e ficou encantado com aquilo.

-Posso ajudar? Perguntou Theodor

-Claro! Quero umas flores, aquelas amarelas ali do canto.

-Boa escolha, senhor.

-Não pude evitar e vi aqueles desenhos, são todos seus?

-São sim, mas nada que alguém como o senhor gostaria de ver.

-Alguém como eu? Não tem nada a ver o que disse garoto, gosto de artes e vejo que você tem potencial, gosta de ópera?

-Gosto sim, senhor. Respondeu o garoto

-Haverá um concerto neste sábado, gostaria que fosse.

-Ma, Mas senhor, não tenho dinheiro, óperas são muito caras.

-Isto não é problema, eu que estou organizando, amanhã passo aqui para deixar um par de ingressos, pra você ir com seu pai.

-Ele é meu tio, se chama Klaus.

-Que seja, vá com seu tio então, gostaria de sua presença lá, você terá um grande futuro garoto, pode apostar. Até mais.

-Até mais.

Theodor e seu tio trocaram olhares surpresos com a cena que acabaram de viver, mas com uma felicidade tamanha dentro de si, nenhum dos dois nunca tinham ido a uma ópera antes, nem o próprio Klaus em seus quase cinquenta anos de vida, apenas ouvia no seu pequeno rádio de pilha que ficava sobre a cômoda em seu quarto.

-Já imaginou tio nós dois assistindo uma ópera?

-Seria ótimo, garoto, pena que será no sábado, no domingo nós acordaremos de madrugada, esqueceu?

-Droga! Tinha esquecido este pequeno e importante detalhe.

-Mas não ficaremos pobres por faltarmos um dia aqui, já que aquele cliente nos ofereceu o par de ingressos, não negaremos então nós iremos.

-Você é o meu tio predileto!!!

- Eu sou o único tio que você tem.

O dia foi longo para Theodor, ficava ali trabalhando, desta vez com o pensamento longe, pensar sempre naquela garota estava lhe fazendo mal. Fora que ficava lá pensando em tudo que não aconteceu em sua vida. Estava até pensando em cursar faculdade, queria fazer engenharia ou literatura, duas áreas bem diferentes, mas a maior intenção de Theodor era de ter um bom emprego. Ele pensou e pensou, ele amava a profissão de um advogado, mas também gostava de escrever, estava tão indeciso que parou de pensar naquele assunto, ficou apenas imaginando como seria o dia seguinte, o dia que iria assistir a ópera pela primeira vez.

Quase não dormia de tanta ansiedade, ficou especulando se aquele homem iria lhe dar os ingressos prometidos, virava-se de um lado para o outro tentando dormir, mas a bendita ansiedade o deixou com insônia, já era quase meia noite e teria que levantar às quatro e meia. Depois de tanto lutar com suas pálpebras, Morpheus o abraçou e logo dormiu. Pouco, mas dormiu e assim acordou com uma imensa dor de cabeça que quase não deixou levantar, mas ele tinha que receber os tão valiosos ingressos e assim com todo sacrifício do mundo esforçou-se e levantou-se.

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THEODORWhere stories live. Discover now