Capítulo 5

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Tomás

- E Tomás? - ela se virou parcialmente, seu jeans justo me dando um ótima visão de sua bunda. Resisti à tentação de molhar os lábios. Se eu não tivesse tão certo que ela já estava toda derretida, porque, qual é, ela deu um maldita risadinha para mim, eu poderia ter visto o olhar superior que ela me lançou, ao invés de ter ficado mais focado no seu traseiro.
-Sim? - Foi o que eu respondi. Mas o que eu realmente pensava era algo como: Sim, claro, meu apê está livre esta noite. Não se preocupe em por uma calcinha, baby.
-Eu nunca transaria com você.
Ela saiu, rebolando, como se fosse a Rainha do Inferno. Soltei uma risada, meio em choque, mas depois o sorriso se tornou real. O challenge accepted tipo de sorriso.
A partida havia começado.
Peguei meu celular.
-Oh, Sara... Você não vai transar comigo, mas pode apostar que vai querer.

Sara

HÁ-HÁ! Toma essa Chamas!
Ou Tomás, quem se importa.
O que realmente importava era que eu tinha conseguido sair dali sem fazer nenhuma estupidez, como por exemplo, apenas hipoteticamente falando, ter rasgado aquela camisa cinza com minhas unhas perfeitamente feitas -por mim, aliás- e lambido cada um dos quadradinhos do seu abdômen que eu sabia que existia, porque estava bastante íntima com eles na outra noite. Então, eu poderia explorar outras parte de sua anatomia que eu ainda não estava familiarizada, mas que adoraria.
Hipoteticamente falando, é claro. Não que eu tenha pensado em fazer isso.
Masss, o ponto é, nada disso aconteceu, e apenas de imaginar sua cara de choque me fazia exibir o mais satisfeito e também um pouquinho maléfico dos sorrisos, o último resquício de mau humor da manhã extinguido.
Luce do Bem estava na sua mesa, falando ao telefone, e o cara grande do sofá tinha sumido. Mandei-lhe um sorriso-despedida e ela devolveu, sem deixar de falar no aparelho e escrever rapidamente o que a pessoa do outro lado da linha falava.
Assim que entrei no elevador meu celular começou a tocar, e me surpreendi com a boa recepção de sinal no cubículo de metal.
-E aí, Nanduxa? - praticamente cantei.
-Uau, apelidos fofos antes do almoço? Devo presumir que foi tudo certo no estúdio? -ela brincou.
-Sim, pode-se dizer que sim. Apesar que terei que voltar daqui 15 dias para fazer a definitiva.
-De boa. Talvez dessa vez eu possa ir com você?
-Claro, por que não? - disse, mas então lembrei que não havia contado sobre Chamas, quer dizer, Tomás, para ela. Eu sabia que ela iria me dar um sermão sobre me deixar levar e blá blá blá então resumi a história, contando uma versão que ela não poderia argumentar. -Falando nisso, acredita que meu tatuador é um cara que eu conheci na boate? Um idiota arrogante que não sabe levar um não como resposta, mas desenha bem.
-Nossa, que coincidência! Então melhor ainda que eu vou com você, assim ele não tenta nada, né?
-Verdade, mas eu sei me cuidar muito bem. - ri um pouco, com o mesmo tipo de humor com que eu sai da sala.
-Oh, Sara. O que você fez?
-Ah, nada demais. Não feri ele de maneira nenhuma, mas seu ego...
Meus lábios esticados se racharam e eu comecei a procurar naquela bolsa-que-tem-de-tudo-menos-o-que-eu-preciso minha manteiga de cacau. Prensava o celular entre meu ombro e ouvido, vasculhando aquele buraco negro que eu carregava por aí.
-Oh-oh, será que eu escuto a antiga Sara do Ensino Médio? - minha melhor amiga agora gargalhava e eu não pude deixar de acompanhá-la. - O que você fez com o ego do tatoo boy?
Ali! Acho que vi a forma familiar do hidratante bucal e respondi Nanda quando as portas do elevador abriram no primeiro andar.
-Pisei nele com meu salto agulha e tirei sangue. - sorri satisfeita ao conseguir encontrar o que queria naquela bolsa.
Ao levantar os olhos saindo do elevador, me deparei com a Luce do Mal parada, o dedo em seu caminho para apertar o botão do elevador, a boca meio aberta e os olhinhos cheios de maquiagem preta brilhando de entusiasmo.
-De... De quem você estava falando? - ela perguntou, animada.
-De ninguém. - pega de surpresa, respondi apressadamente e sai, passando manteiga de cacau na boca.
-Ela deve estar pensando em cada coisa. - resmunguei contra o telefone.
-Do que você está falando? - Fernanda perguntou, confusa.
-Nada não. De qualquer jeito, precisa de algo?
-Humpf, não posso ligar para você apenas para saber como está?
-Ah... Não?
Silêncio.
-Ok, é o seguinte, eu fui tomar banho e eu encontrei essa mancha na minha coxa que simplesmente não parece uma picada, e...
Nanda me explicou como a sua picada que não parecia uma picada estava feia. Foram usados uma grande quantidade de adjetivos e eu prometi verificar depois. Meu peito aqueceu em um sentimento confortável e genuíno.
Aquilo me lembrava da conversa que eu tivera com o Doutor Célio, cardiologista, há alguns anos. Ele resmungava no telefone e quando a ligação terminou, voltou a me encarar, balançando a cabeça em perplexidade.
-Desculpa, era minha sobrinha. Ela queria que eu diagnosticasse a dor de barriga do seu bebê pelo telefone, por escutar o choro dele, vê se pode.
Então ele sorriu tão docemente que nem parecia que estava reclamando a momentos atrás.
-Não é uma graça?
-Hã, sim? - confirmei, em dúvida. Achava meio incômodo ligar durante o período de trabalho do tio para isso. Ele riu com minha resposta não convincente.
-Pode ser estranho para você, mas eu acho que isso representa como as pessoas veem os médicos. Eles confiam na gente, acreditam fielmente no que dissemos. Às vezes acham que podemos fazer milagres, mas receber toda essa convicção e fé não é maravilhoso? Só espero me provar ser merecedor disso.
Essa foi um das últimas conversas tranquilas que eu tive com ele.
Mas foi durante essa troca de palavras que eu me firmei na ideia de que queria Medicina. E alguém dia abrirei minha própria clínica de Pediatria.
Esse era o meu sonho.

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