Nesta época Theodor tinha 22 anos e vivia aquela vidinha de sempre, sem um futuro profissional certo. Theodor era um jovem sonhador, desejava tantas coisas, queria trabalhar para ajudar em casa, mas não sabia por onde começar, o mercado já era muito exigente, não aceitava quem não tinha experiência e ele não tinha nenhuma, somente em escrever suas inspirações e caminhar na bendita floresta, que naquele tempo já não atraía tantos turistas,  ele já estava cansado daquilo.

Foi no domingo daquela mesma semana tranquila e sem vaidades que Theodor foi ajudar seu tio Klaus, ele não gostava muito, achando que iriam zombar dele por trabalhar na feira, mas já que não tinha nada pra fazer e sem emprego, não estava ajudando em casa, então lá foi ele.

Acordou às 04h30min da manhã, sonolento escovou os dentes, não tomou banho, tava um frio de dar dó, seu tio já estava de pé do lado de fora da casa arrumando a mercadoria no seu antigo caminhão que fazia mais fumaça do que andava.

Theodor se sentou e tomou seu café da madrugada lentamente, parecia que ainda não tinha acordado, quando terminou, deu um beijo no rosto de sua mãe e foi ao encontro do tio que já estava dentro do caminhão apenas esperando pra seguir viagem que durava uma hora e meia até Nuremberg.

Chegando lá, o sol já estava risonho e o dia frio com o vento bailando de um lado para outro, vez por outra se engraçava nos vestidos das mulheres que caminhavam por aquelas ruas.

Theodor e seu tio tiraram tudo que havia no caminhão e armaram sua barraca, neste dia não tinha muita gente na feira, até parecia que a maioria das pessoas não estavam muito a fim de sair já que o frio batia em cada porta e janela naquela estação.

Theodor ficou lá sentado com seu caderno desenhando as formas que habitavam sua mente naquele momento, não prestava atenção em muita coisa, apenas em seu lápis que já estava perto do fim e no alvo papel sobre seu colo.

Ele desenhava bem, mas Klaus estava lá atendendo alguns poucos clientes que iam comprar algumas coisas e também pensando em seu sobrinho que não estava ajudando em nada.

Ele já estava ficando irritado, pois enquanto fazia todo o trabalho, Theodor ficava lá sentado apenas. Muitas pessoas não enxergam o potencial do artista no seu inicio e não lhe dão muito crédito, não foi diferente com Theodor, até que irado seu tio o chamou: -Venha até aqui rapaz, tire essas caixas e coloque ali no canto. Tá pensando que ficar ai sentado com seu caderno e esse pedaço de lápis vai te trazer algum dinheiro? Afinal você precisa de um lápis novo e eu não lhe darei nenhum centavo já que estou fazendo o serviço sozinho.

-Mas não tem ninguém aqui tio. Respondeu Theodor.

-Mas virá alguém e este que vier você que vai atender que agora eu descansarei um pouco, já não sou tão jovem assim como você.

-Tudo bem tio, tudo bem.

Theodor ficava lá em pé, também parado, não havia movimento nenhum diante de seus olhos escuros e quase fechados de sono.

Estava um dia tranquilo para um dia de feira, o jovem desenhista arquitetava formas com o pensamento até que alguém dobra a esquina com seus passos leves como se estivesse pisando em nuvens, ela estava com um vestido negro com fitas e um chapéu que cobria seu rosto e mostrava apenas a parte de sua boca, deixando escondida a sua beleza que era encantadora.

Ele a observou passar pela rua encharcada de orvalho da manhã e assim se apaixonou só de vê-la caminhar. Ela parecia um anjo e sorria de forma inexplicável de algo que sua mãe comentara.

Era Helene que decidiu aproveitar o ar daquela manhã para conhecer um pouco da sua nova cidade onde iria passar bons, senão os melhores momentos de sua vida. Ela ficou maravilhada com várias coisas da cidade e nem prestou atenção em Theodor que ficou atônito e nem percebeu que um cliente saiu sem pagar. Só despertou quando seu tio lhe deu uma tapa no pescoço.

Deste dia em diante não parou de pensar naquela imagem esculpida por Deus, realmente Theodor se apaixonou à primeira vista, coisa que nunca tinha acontecido em sua pequena vida, ele já tinha vivido alguns romances, mas eram apenas "coisas de adolescente" como ele mesmo tinha batizado.

Seus olhos não tinham lhe enganado, apesar de ter visto Helene de verdade, às vezes se pegava duvidando do que tinha visto, pra ele foi a pessoa mais linda que já tinha visto na vida, e desta vez sua mãe não fazia parte da lista, Helene estava no topo, em primeiro lugar de toda e qualquer lista que ele viria a fazer.

O dia se foi e eles também, tio e sobrinho no velho caminhão de volta para a sua aconchegante casa, Theodor que na ida estava conversando até demais pra quem tinha acordado muito cedo e falando muita besteira para alguém que tava com muito sono, desta vez estava calado, mudo, pensativo.

Não deu uma palavra.

-O que aconteceu rapaz? Ficou calado esse tempo todo! Disse seu tio.

-Não houve nada tio, só estou pensando, nada demais. Respondeu.

-Cuidado! Que pensa demais faz pouca coisa. Replicou o tio.

E essa foi toda a conversa que tiveram até chegarem em casa.

Era noite, depois do jantar, sua mãe o mandou ir lavar toda a louça e lentamente ele olhou para o lado desacreditando no que estava ouvindo, não queria parar de pensar na imagem que foi captada pelos seus olhos por uma tarefa boba que qualquer pessoa (até ele mesmo) poderia fazer, então falou que sua avó poderia fazer e então sua mãe pegou seu chinelo e lançou em direção ao jovem pensador que estava sentado na poltrona de seu pai, então ele saiu correndo e foi em direção à cozinha para fazer a tarefa que até ele mesmo poderia fazer.

Não pense que Theodor é um rapaz sem caráter e preguiçoso, qualquer um que se apaixonasse como aconteceu com ele faria a mesma coisa, não sejamos hipócritas. É pode rir, sei que concorda comigo.

Voltemos a falar sobre nosso amigo.

K�~g�͂

THEODOROnde as histórias ganham vida. Descobre agora