O primeiro encontro

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-Do jeito que esse carro anda, o bebê vai nascer aqui! - Gritava e esperneava Mary.
-Já estamos chegando, se acalme.
-Ah, por favor Roberto! Você disse isso meia hora atrás. Não me obrigue a ir à pé!
Era 2 horas da madrugada. Ninguém nas ruas, nenhum barulho nas estradas. Apenas os gritos de Mary Elizabeth que estava a parir a primeira menina depois de 3 homens: Lucas, Nicolas e Juan.
A estrada estava terrivelmente deserta. Estava tão quieta que parecia uma cidade fantasma. Podia-se escutar a garoa que caía sobre o carro e a respiração acelerada de Roberto e Mary.
De repente, ouviu-se um barulho e o carro parou. Então a única coisa que se escutava eram corações acelerados.
-Ah, mas que droga!
- Eu não acredito que vou ter que dar à luz a um filho no meio do nada. Roberto, te prepara porque quando isso passar, eu vou ficar viúva.
-Terei que chamar um guincho.- Como se isso não fosse óbvio.
Se passaram 5, 10, 15, 20 minutos de muita angústia. Nada do guincho. Nada da menina nascer. É como se ela estivesse esperando com a agonia dos pais.
- Ai meu Deus! Por favor, manda uma ajuda pra gente...
-Não sei se vai adiantar, mas talvez eu possa ajudar em alguma coisa?
Era um garoto jovem, não podia ter mais de 19 anos. O cabelo era cacheado e loiro claro, os olhos azuis cor do céu e tinha mais ou menos 1.90 de altura.
- Minha esposa está grávida, estamos indo ao hospital mas o carro não está funcionando então a não ser que você tenha um carro ou saiba consertar o meu, pode ir embora.
- Bom, parece que suas preces foram atendidas. Podem ir comigo até o hospital, meu carro está logo ali do lado.
O garoto transbordava simpatia e tinha um ar de confiança que não se questionava.
- Aaaah.
- Querida o que houve? - perguntou Roberto assustado.
- Vai nascer. - Respondeu em pânico Mary.
- Tudo bem. Você vai com o moço e eu espero o guincho. Eu sei que é perigoso, mas não temos dinheiro para um carro novo e eu não posso deixar aqui. Eu chego o mais rápido que eu puder, prometo. - Deu um beijo na testa da esposa e depois na barriga. - E você, não complique muito com sua mãe mocinha!
- Vamos logo. Não vou aguentar mais muito tempo.
Caminharam até o carro do garoto. Mary sentou no banco de trás, tensa e suando frio.
- Então, é uma menina? - perguntou o garoto, tentando quebrar o gelo.
- Sim.
-Já tem um nome?
- Ainda não sabemos qual colocar.
- Tem mais filhos?
- Tenho 3 meninos.
- Que família grande. Eu sou único.
- Quantos anos você tem?
- 19
- Como conseguiu esse carro?
- Hahaha eu trabalho sabe?
- A me desculpe, não quis ser insensível. É que você parece tão jovem, hoje em dia é difícil ver um trabalhador tão novo.
-Não precisa se desculpar. Eu entendo.
O silêncio apareceu novamente.
As dores estavam ficando mais fortes e a velocidade do carro aumentava com a dor. Como se o garoto soubesse que Mary estava com dor.
- Qual é o seu no...
- Chegamos, finalmente!
Mary saiu do carro. O garoto foi junto.
- Com licença, estou em trabalho de parto e preciso de um médico urgente.
A infermeira a olhou como se não estivesse acreditando e mascava o seu chiclet igual uma vaca
- Nome?
- Mary Elizabeth
- A doutora já vai te atender. Por favor aguarde.
- Garota, você não entendeu? Minha gravidez é de risco, não posso "aguardar" a doutora, preciso de atendimento urgente!.
- Mary Elizabeth? Venha, vamos fazer sua cesariana. - Disse a doutora encostada na porta da sala.
Mary hesitou. O garoto pousou a mão no seu ombro e perguntou:
-Tudo bem?
- Não quero ir sozinha...
- Quer que eu vá?
Mary olhou para o rapaz com gratidão. "Por favor..." sussurrou.

A correria começou.
Mary estava deitada na maca, os médicos ao redor e mão dela apertando a do rapaz que sussurrava "vai ficar tudo bem." Ela queria acreditar.
- Então Mary. Já decidiu o nome? - perguntou a médica.
- Ainda não.
O sangue nas mãos dos médicos deixava ela assustada apesar de já ter passado pelo parto 3 vezes.
Mas então, tudo passou quando ouviu o delicioso choro da sua filha.
Pegou-a nos braços e perguntou:
- Ela não é linda?
- Muito linda mesmo - A médica respondeu
Mary olhou para os lados e sentiu falta de algo.
- Onde está o rapaz que estava aqui comigo?
- Do que está falando? Você chegou aqui sozinha! - respondeu a médica
- Não! Eu tenho certeza que...
- Querida!
Roberto entrou no quarto. Estava suado, cansado e sorrindo feito idiota
- Como se chamará a nossa pequenina?
Mary pensou em tudo. No desespero de não conseguir chegar a tempo no hospital, no garoto que a acompanhou como se fosse um anjo.
Anjo
- Ângela
A menina sorriu nos braços de Mary ao ouvir seu nome.
- Em homenagem ao anjo que me ajudou a passar por isso...
E ali no cantinho, invisível para todos, o anjo de cabelos loiros cacheados ria. Mal sabia o trabalho que daria proteger a pequena Ângela...

Meu Anjo Da GuardaWhere stories live. Discover now