Criaturas Da Noite

Capítulo 10

Acordo de manhã em um quarto completamente estranho, olho em volta e vejo um guarda-roupas de madeira grande, a cama em que estou deitada é super espaçosa e confortável, com lençóis brancos e um edredom vinho, a dois criados-mudos em cada lado da cama também em madeira, vejo as cortinas fechadas e me levanto para abri-las.

Percebo que estou vestida com uma camisa branca e me lembro de Lester, aqui deve ser a casa dele, assim como essa camisa. Mas quem vestiu ela em mim? Meu rosto cora só de pensar em Lester me vestindo. Vejo em uma poltrona o meu vestido, todo rasgado e sujo, e me lembro dos meus pais, lágrimas descem dos meus olhos e choro em silêncio. Perdi meus pais, jamais os verei novamente e isso faz meu coração apertar em meu peito. Toda aquela cena na floresta vem como uma avalanche na minha cabeça e isso é tão doloroso que sinto vontade de vomitar. Aperto a camisa no rumo do meu coração implorando para que tudo isso seja uma mentira, mas eu sei que não é, minha cabeça dói por conta do acidente do carro, levo minha mão até meus cabelos e desejo ter morrido junto com os meus pais. Agora eu estou completamente sozinha e sem entender nada do que aconteceu e porque aconteceu. Isso é uma tortura.

Meu pai tinha algo importante para me dizer mas não houve tempo, e não saberei mais o que era. Limpo minhas lágrimas que escorrem pelo meu rosto tentando ser forte, mas não sei o que farei agora, pra onde ir.

Olho pra uma lareira que está acessa com algumas madeiras e as ouço estalar, e esse fogo mantém o quarto aquecido. As paredes são feitas com algum tipo de pedra acinzentada escura intercalando entre pedaços pequenos e grandes, o chão é de madeira bem polida, o ambiente tem aquele "que" de casarão antigo, até mesmo de um castelo. 

E acabo pensando em como Lester conseguiu me salvar daqueles monstros, eles são grandes e fortes, de maneira nenhuma ele conseguiria afugentar aquelas criaturas, a menos que ele também seja algo sobrenatural, a menos que possua algum poder. Devo estar delirando, Lester parece normal pra mim.

Dou um passo para ir até a janela e sinto uma pequena dor em minha canela, olho para baixo e vejo que há alguns arranhões, me lembro de ter caído quando estava correndo daqueles monstros, e está ai mais uma prova de que tudo o que aconteceu na noite passada foi real. Destranco a janela, abro as cortinas e deixo o sol da manhã invadir o quarto. 

A vista daqui é linda, há um grande jardim com lindas flores, algumas estatuas de pedras e fontes. Mais a frente há um pequeno lago e posso ver alguns peixes nadando ali. Fico olhando o jardim encantada e percebendo o quanto esse lugar é grande, os muros são altos e rodeiam a casa toda, em que parte de Seatle fica esse lugar? Ouço duas batidas leves na porta e me viro.

- Entre - digo.

Vejo Lester entrar mas logo sai do quarto e deixa a porta entre aberta.

- Aléxis, poderia fechar a cortina por favor? - pergunta. Fico sem entender o porque ele me pediu isso, mas o faço. Fecho as cortinas e ele logo entra com uma bandeja com o que eu acredito que seja o meu café da manhã.

- Oi - diz tímido e sorri.

- Oi - digo.

- Como você está? - pergunta sem jeito.

- Ah, você sabe - digo de cabeça baixa.

- Trouxe café da manhã - diz Lester e coloca a bandeja em uma pequena mesa em frente a lareira com duas poltronas de cada lado.

- Obrigada - digo. Não estou com fome mas também não irei recusar, não quero ser mal agradecida.

Sento em uma poltrona e Lester senta em outra, ficamos em silêncio enquanto eu como, ou pelo menos tento comer alguma coisa.

- Não precisa comer se não quiser - diz Lester baixo.

- Desculpe, não quero ser sem educação mas não estou com fome - digo e o olho.