Elliot - 1

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Atrasado.

Estava atrasado. Muito atrasado.

- AI MEU DEEEUS! – grito angustiado. Só podia acontecer comigo. Corro ainda mais rápido, mas quando viro a esquina do corredor da escola, trombo com alguém. Sinto a armação de óculos bater em meu braço antes de deslizar pelo corredor e uma pilha de livros cairem aos meus pés.

- Desculpa Elliot!

Elisa. Só podia ser ela. A menina que era a mais desastrada da história. E mesmo em nosso último ano antes de ir para a faculdade, ela continuava a usar aqueles óculos ridículos dela.

- Elisa! – recolho seus livros e depois pego a armação antes de parar debaixo da sola de algum imbecil. Ela era minha melhor amiga. Na verdade, a única menina que eu conhecia que eu nunca tinha beijado. Conhecemos-nos desde que éramos um feto. Nossas mães continuam amigas até hoje.

- Anda Elliot! Estava te procurando. Está cinco minutos atrasado e nós somos os próximos a nos apresentar!

Ela estava descontrolada. Seus cabelos castanhos antes presos em um baixo rabo de cavalo, agora escapavam alguns fios que iam para seu rosto. Seu uniforme branco estava desalinhado e seu all star preto estava desamarrado.

- Eu sei! Eu tive um... – eu coço a nuca e sorrindo como um idiota com a lembrança. Ela murcha um pouco.

- Eu sei o que você esteve fazendo com a Daniele do segundo ano. – ela fica alguns segundos emburrada antes de se lembrar da apresentação.

- Anda!!

Ela agarra meu braço e entramos na sala. Nesse mesmo momento, o nosso professor de biologia nos chama para vir à frente da sala. Tínhamos que explicar a fase embrionária de um feto. Desde sua fecundação até o nascimento.

Elisa, depois de prender rapidamente os cabelos, começa nossa apresentação dando bom dia e passando os slides enquanto explicava. Decorei todos os slides que deveria explicar e mais um pouco, já que o professor faria algumas perguntas. Os grupos poderiam compor em até quatro membros, mas Elisa não é muito de se enturmar e gosto muito dela. Por isso, sempre que tinha algum trabalho, logo nos juntávamos e no mesmo dia, ela ia em casa e começávamos a fazer. Era nesses momentos que eu esqueço as meninas lindas da sala.

Minha irmã não está estudando na mesma sala que eu, o que eu agradeço. Ela sabia ser chata. Em qualquer momento do dia.

Depois de terminar a apresentação e os professores perguntarem uma pergunta para cada, e respondemos muito bem, alguém taca uma bolinha de papel na cara de Elisa. Alguns soltam risos abafados e outros nem ao menos tentam esconder.

O professor finge que não vê e começa a chamar outra pessoa.

- Ei! – grito pra ele. – Não vai fazer nada?

A sala fica em silêncio. Escuto Elisa chamar meu nome, sua voz estava embargada.

- O que foi que disse Eliiot? – ele me encara sério sob seus óculos fundo de garrafa.

- Escutou muito bem! Algum idiota taca uma bolinha em minha amiga e o senhor não faz NADA?

Ele respira fundo. – Não precisa fazer tudo isso Eliiot. Ela está machucada? – ele me ignora – Está machucada Elisa?

Não viro para ver a reação dela. Vou até a mesa mais próxima e arranco o caderno das mãos de não sei quem. Retiro as últimas páginas do caderno e faço, mais ou menos, umas dez bolinhas de papel. Começo a tacar na cara do professor.

- Está machucado professor? – atiro mais bolinhas. – Está ferido professor?

- PARE JÁ COM ISSO!

Continuo até sobrar uma única em minha mão. – Não achou divertido, não é mesmo? Bom, ela também não achou. E muito menos eu. Espero que da próxima o senhor faça alguma coisa a respeito quando um de seus alunos sofre bulling em sua sala de aula. – viro para o restante da sala. – E se algum imbecil fizer isso de novo, juro que não terá mais um maldito pedaço de pele na cara e terá que fazer tantas cirurgias plásticas que ficará parecido com o Freddy Krueger!

Vou até Elisa e pego sua mão. – Vamos lá fora. Tenho que passar em um lugar. – sussurro. Ela assente e pega sua mochila e eu pego a minha. Retorno a segurar sua mão e juntos saímos da sala. Vou diretamente à ala da enfermaria encontrar minha mãe. Logo que entramos, ela descobre que alguma coisa ruim aconteceu. Elisa corre até ela e a abraça. Seus soluços não são abafados pela roupa de minha mãe.

- O que aconteceu Elliot?

Resumo rapidamente para ela. Seu olhar começa a ficar sombrio e gélido.

- Vou ali rapidinho e já volto. – faço um sinal para mina mãe e falo diretoria sem sair som algum de minha boca. Ela faz leitura labial e assente.

- Elisa querida. Vamos tomar um pouco de água e se acalmar, sim?

Saio de lá e tento não correr para não chamar atenção de ninguém. Quando se trata de Elisa eu não penso em mais nada. Ignoro o mundo ao redor: os babacas, as gatas e até os professores. Ninguém machuca ela e sai impune. Ninguém.

******

Quero deixar uma pequena observação. O que a Elisa sofreu na escola é mais comum do que a gente imagina. Eu já sofri bulling na escola, e muitos achavam que era frescura, pra chamar a atenção ou a que não sabia brincar. Quando você é alvo desses tipos de coisas, você não consegue ser forte, não consegue fingir que Não está escutando. Por mais que fale que não dói, dói muito. Mas quero deixar um recado: se você vê um negócio desses e ninguém tomar uma providencia, reclame para um responsável. Isso é crime! E ah! Sabe como superei tudo isso? Tendo ótimos amigos e tendo livros muito bons para ler. 

Não deixem de comentar o que acharam do cap. 

Um super beijo. 

Gêmeos - Nada IguaisМесто, где живут истории. Откройте их для себя