FICA AÍ, ERNESTO!

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Carlos Correia Santos

            A coisa começou mesmo com o cheiro de vela. Parafina derretida. Fragrância quente, incômoda.

            Então, a inconsciência fez pensar em sonho. Devia estar sonhando com um aniversário! Era excessivo o cheiro de vela. Mas qual aniversário? De quem? Quando? Onde? Parabéns... E o parabéns pra você?

            Peraí! Não tinha parabéns, não! Tinha era choro! Aniversário com gente chorando? Que sonho esquisito!

            Soluços, grunhidinhos, um tal de “Ai, ai, meu Deus! Como isso aconteceu? Que coisa horrível...”

            Horrível, na verdade, era esse sonho. Só podia ser um pesadelo, isso sim! Aniversário com gente aos prantos, um festival de fedor de vela e...

            Epa! Calma lá!... Tinha outro cheiro rolando. Tinha, sim. Era cheiro de... cheiro de... Flor! Era cheiro de flor!

            Seria algum aniversário de quinze anos? E aquele chororô podia bem ser a família desesperada com as dívidas que o festório ia trazer... Hihihi...

            Não, mas... Aquele cheiro era de... De cravo! Cravo de defunto!

            Vela, cheiro de cravo de defunto... Arre, quer saber? Ernesto se cansou daquele sonho ridículo! Enviou a ordem às pálpebras: abrir os olhos. Cansara desse negócio de dormir. Queria mais era abrir os olhos e se levantar. Já deviam ser umas sete horas da manhã! Urgia pular da cama e se preparar para rumar ao trabalho – ahrr, empreguinho de quinta!...

            Mas a vista continuou cerrada.

            Vambora, pálpebras amiguinhas! Levantar! Abrir o enxergador!

            Nada.

            A ordem mental de novo: abrir a porcaria das pálpebras e acordar!

            Bulhufas!

            Bem, meus caros amigos, agora é que começamos de fato esse conto!

            Ernesto do Canto Sereno – que nomezinho, einh? – Enfim, Ernesto do Canto Sereno que pensava estar dormindo e sonhando com um estranho aniversário, estava acordado desde que sentira o cheiro de velas.

            “O quê?! Como assim?”

            Sim, é isso mesmo, Ernesto. Tu estas acordado, amigo. Não estás dormindo, não.

            “Que palhaçada é essa, meu chapa? Como é que eu tô acordado, se eu não consigo sequer abrir os olhos?”

            Pois é, camarada, aí é que está o barato dessa história. Tu achas que ainda estás na tua caminha? Na mesma caminha em que te deitaste na noite passada? Olha o dedinho, olha. Ah, não podes olhar, né? Bem, tu não estas na tua cama nem no teu quarto e muito menos na tua casa. Quer saber qual é? Tua mulher, a Cinára, foi te cutucar hoje de manhã e descobriu que estavas duro – não no sentido que imaginas –, tu estavas inerte, frio, frio... todo gelado. Foi ver se respiravas e não sentiu nada. Surpresa, compadre! Tu não estás em nenhum aniversário, não! Estás dentro de um caixão, malandro! Estás no teu velório! Te mete!... Entendeu agora o negócio do choro, o fedor de vela, o cheiro de cravo?

            “Ê, cretino, que merda de história é essa? Tu és doido, é? Bora acabar com essa idiotice! Eu quero abrir a droga do olho!”

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⏰ Última actualización: Jul 14, 2013 ⏰

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