5- Oblíqua e Dissimulada

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- Encontrei a primeira coisa que te faz desviar a atenção desse maldito notebook.

O sorriso de Taylor ao dizer isso era tão grande, que revirei os olhos e fingi que ela não existia. Não queria mostrar para ela que Camila me chamava atenção mais do que uma simples garota carioca que apareceu na minha vida por acaso. O corpo balançava de um lado para o outro como se nascesse para aquilo, os cabelos faziam movimentos gostosos de ver, não tenho como explicar as sensações que passavam por mim ao ver Camila dançando no meio da minha sala, enquanto o montador de móveis se esforçava para fingir que ela não estava bem ali. Decidi tomar uma atitude e levantei da cadeira, ignorando minha irmã ou qualquer outra presença naquele apartamento. Quando me aproximei para apertar a mão do montador e fazer de tudo pra que ele sumisse do meu apartamento, escutei minha irmã guinchar do outro lado da sala.

- O que aconteceu, Tay?!

- Esqueci que tenho um almoço marcado com a mamãe, me desculpa por isso. Posso passar aqui mais tarde.

- Vou ter que arrumar tudo isso sozinha?!

- Ei, eu ainda estou aqui, sabia?! – virei nos calcanhares para encarar uma Camila rebolativa na varanda, enquanto Roberta Sá inundava o apartamento com sua voz. – Não tenho nada pra fazer hoje de tarde, vou adorar te ajudar a ajeitar essa toca que você vai se isolar. Vamos lá, gringa, me deixe ajudar.

- Oh God, help me.. – falei comigo mesma e Taylor se aproximou, me dando um beijo estalado na bochecha. – Sério que não pode ficar aqui?! Sabe que..

- Sei que você se sente incomodada com a Camila, mas deixa de pensar nisso e aceite a ajuda dela, é um milagre essa garota se oferecer pra carregar peso, geralmente não leva nem a própria pilha de livros da faculdade. Encontro vocês depois. Te amo.

Minha irmã se despediu de nós, deu um beijo em Joker e quando a porta do apartamento fechou, decidi me dedicar a arrumar a louça na cozinha. Camila continuou dançando a música, parecia interminável aos meus ouvidos. Quando tirei uma pilha de pratos de dentro da caixa de papelão, reparei no corpo da carioca se agitando enquanto observava o verso da capa do disco de vinil. A parte mais legal do Brasil, é que era fácil encontrar álbuns de cantores atuais em forma dos velhos discos.

[PLAY – Roberta Sá – Você Não Poderia Surgir Agora]

Camila se esforçou para acertar qual melodia queria e quando uma batida tranquila e relaxante invadiu o apartamento, ela me ofereceu um sorriso sem graça, enquanto parava de se movimentar, me encarando com olhos iluminados. Tinha algo nela me que chamava atenção, uma chama pequena que me queimava aos poucos. Faziam anos que não me sentia desse jeito, como se uma mulher pudesse me virar do avesso. Saber que era a melhor amiga de Taylor e mais nova que eu, me freava um pouco, mas Camila sabia em qual parte do meu lado tímido tocar, como manusear, como se tivesse o manual de instrução. Tirei o sapato e fiquei descalça, sentindo o frio do piso de porcelanato fazer um calafrio agradável percorrer meu corpo. Camila me olhou por alguns instantes e assim que me aproximei, ela abriu um sorriso. Segurou minha mão e colocou em sua cintura, passando sua outra mão pela minha nuca, arrancando calafrios de mim. Encarei seu olhos distantes e por alguns segundos umedeci os lábios, esquecendo que aquela não era uma moça qualquer, mas a adolescente que vi quando ainda era uma criança. Minha mão ficou firme em sua cintura e ela respirou fundo, me encarando com um sorriso, se aproximando da lateral do meu rosto.

- Dança comigo, gringa, não vou te morder.

Começamos a nos movimentar pela sala semi-vazia e fechei os olhos, enquanto meu corpo dançava com ela, como se já conhecesse aquele ritmo há muito tempo. A letra não era muito clara, mas ouvir a carioca cantando baixinho perto do meu ouvido fez os pelos do meu corpo arrepiarem enquanto nos movimentávamos pela sala e ganhávamos a varanda. Copacabana começava a dar seus indícios de que daria um belo pôr do Sol em algumas horas e quando senti a cabeça de Camila tombar no meu ombro, diminuí nossos movimentos, como uma valsa ensaiada. Era uma cena que não esperava nem em mil anos. O apartamento estava repleto de caixas e nós driblávamos todas, como obstáculos em nosso caminho coreografado. Camila me puxava pela sala, passava pelos corredores, dava giros ao redor de si, mas tudo com uma leveza de bailarina. Meus olhos a seguiam o tempo todo, hipnotizados com a beleza que ela demonstrava com tanta naturalidade. Quando a melodia terminou, nos separamos e senti minhas bochechas esquentarem. Olhar o rosto dela me fez lembrar um romance brasileiro escrito por Machado de Assis que li não tem muito tempo; "Olhos de cigana oblíqua e dissimulada..". Camila me dava misturas de clássicos que faziam minha cabeça dar um nó, algo nela me puxava de uma maneira que era difícil controlar os instintos. Tentando evitar uma possível atitude, me afastei e caminhei em direção à varanda para observar a orla.

Águas de MarçoNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ