Capítulo I

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O verão era sempre a temporada mais empolgante do ano de Louisa Holbrook. Era durante esta estação que seu irmão, Alexander, vinha de Cambridge para passar as férias com ela e com os tios, o barão e a baronesa de Lochfergus. Também era durante esta estação que ela e a tia voltavam a Londres para a temporada. Durante todo o resto do ano, ambas viviam encerradas em uma grande propriedade na fronteira entre Escócia e Inglaterra. Mas, no final de abril, as duas damas davam adeus as românticas terras escocesas e seguiam em direção ao coração pulsante do Império Britânico, onde os tios de Louisa, possuíam uma grande e confortável casa no elegante Mayfair.

- Oh, céus! Como estão demorando! – queixou-se a baronesa observando o movimento da rua através da janela da sala – Será que aconteceu algo?

- Talvez tenham encontrado algum conhecido, tia. – respondeu Louisa sentada em uma poltrona com sua atenção voltada para um belo bordado de sua autoria. A tia sempre ficava ansiosa com o seu reencontro com o marido e ela, como sua única companhia, tentava sempre evitar que lady Lochfergus desmaiasse de ansiedade.

- Oh, lá está a carruagem de Angus! – exclamou dando pulinhos e fazendo a saia do vestido se agitar em comemoração. A robusta baronesa se adiantou apressadamente até a porta principal de Cochrahe Hall e dali, observou o desembarque do barão, seu sobrinho, Alexander, e mais dois cavalheiros. Louisa permaneceu sentada enquanto a tia cumprimentava os recém-chegados com efusividade.

- Meu querido Angus... – guinchou de maneira amorosa enquanto o esposo lhe beijava a face – Seja bem-vindo! – disse com um longo suspiro – Alex, meu sobrinho, como está magro! – exclamou esticando a mão para que o sobrinho a beijasse – Iremos tratar disto nesta temporada. – Não deixando o sobrinho responder, ela tornou sua atenção com igual alegria para os dois jovens remanescentes – Senhor Churchill, Senhor Blackwell, bem-vindos novamente!

Logo, a empolgada dama incitou os cavalheiros a cumprimentarem a sobrinha que "não saia daquele bordado por nada no mundo", segundo disse. Alexander se adiantou, se separando do grupo e seguindo em direção a sua única irmã.

- Louisa! – chamou o jovem que avançava entre mesinhas e poltronas da sala até a irmã que o aguardava de pé. Os irmãos se cumprimentaram de maneira terna, símbolo da proximidade que tinham entre si. Instantes depois, Louisa, se lembrando de seu dever como anfitriã, tornou para os demais.

- Senhor meu tio... – cumprimentou de maneira respeitosa, inclinando graciosamente a cabeça ante ao barão.

- Minha querida, como cresceu! – disse Angus Cochrane, um homem forte de aspecto ligeiramente bárbaro por conta da vasta cabeleira escura que possuía – Nestas horas, fico agradecido por você não circular por ai. Os rapazes não nos dariam trégua com tamanha beleza. – ao terminar sua fala com voz de trovão, ele se aproximou e deu um beijo paternal na testa da sobrinha.

- Como se ficar encerrada em casa fosse uma opção, tio Angus. – comentou a sobrinha com um ar docemente irônico nos lábios.

Ao contrário das outras moças de sua idade e posição, Louisa não se permitia frequentar saraus, jantares e muito menos visitar certas famílias. Apesar do status privilegiado do pai e do tio, a senhorita Holbrook tinha na pele a marca que a desabonava diante da sociedade e fazia com que algumas pessoas a vissem como inferior. Louisa era mulata, nascida da mistura de seu pai branco e a mãe negra. Ela tinha a pele caramelo e todos os traços que descendia do povo africano. Para uma sociedade onde aparência e origem diziam a que esfera social uma pessoa pertencia, a pele da jovem, por mais bonita que a fizesse ser, era o sinal de que ela não seria aceita em nenhuma sociedade dita elegante. O comentário de Louisa fez o tio dar um suspiro resignado e a tia morder um lábio nervosamente. Aquele fator incomodava profundamente os tios, que queriam muito bem a sobrinha.

- Eles não sabem o que estão perdendo, minha criança... – suspirou a tia esboçando um sorriso maternal nos lábios.

- Se me permite dizer, senhorita Holbrook, lady Lochfergus tem razão. – comentou Andrew Churchill, melhor amigo de Alexander, que sempre tratara Louisa com cortesia – São os de lá de fora que estão perdendo.

- Senhor Churchill, sempre tão gentil. Fico feliz que este verão tenha escolhido ficar conosco – Louisa falou em tom simpático ao jovem muito loiro que há muito era amigo do irmão. – Senhor Blackwell, seja bem-vindo também. Espero que tenham feito uma viagem agradável.

- Senhorita Holbrook...- rosnou Blackwell com um sotaque do norte e um leve inclinar contrariado perante Louisa. – A viagem para a casa de seus tios é sempre cheia de expectativas.




Sob o signo do café (PRÉ-VENDA NA AMAZON A PARTIR DE 29/4)Where stories live. Discover now