Primavera

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O Sol raia sublime lá fora,

Alguém na porta bate,

Toc-toc!

É a brisa trazendo notícias,

Primavera, querida, seja bem-vinda.

Senti sua falta, por onde andou?

Por onde se situou?

O Outono esteve aqui,

Fazendo suas atos outonais,

Levando todas as tuas belezas,

Varreu tuas flores,

Tirou teus encantos,

Rabiscou tuas obras de vermelho e marrom,

Logo depois arrancou-as dos galhos,

Revoltou-se, digo eu.

Derrubou tudo no chão e o vento levou.

O Inverno tomou o lugar do Outono,

Abruptamente, digo eu.

Tudo ficou gélido,

Menos o coração da moça da casa 34,

Dizem que ela arranjou alguém.

Mas por aí, o imenso frio igualmente tirou alguém de outro alguém,

Sem dó, digo eu.

Trancaram-se portas, janelas e alguns corações,

Quantos poemas escreveria Lispector ao ver tamanha ousadia?

O Inverno levou um amor?

Uma amizade?

Um familiar querido?

Oras, que direito ele tem?

Alguém precisa pará-lo, digo eu.

O Verão veio devagar,

Mas quando chegou, passou correndo,

Suando.

Deixando o sorvete da criançada derretendo,

Imagine que sujeira.

Mas foi bom, digo eu.

Todos sorrindo,

Brincando,

Divertindo.

Alguns foram para a praia...

Outros... Posso segredar?

Não conte ao Verão para não o chatear!

Outros foram direto buscar um tal de ar-condicionado e seu amigo ventilador.

Deveriam ter aproveitado o Inverno, digo eu.

Mas quando ele chegou, foram atrás do aquecedor.

Só sabem reclamar, digo eu,

São 8 ou 8,

Não querem frio demais,

Não querem calor demais.

Outono também é um tanto quanto frio, Primavera,

Nem todos gostam dele, digo eu.

Mas você...

Ah, você é a melhor das estações, digo eu.

Existe quem não goste de ti?

Dou cabo em quem afirmar e dizer que há,

É como uma blasfêmia contra o tal Senhor,

Mas contra mim, seu admirador.

Ó, Primavera!

Mostre-me suas flores,

Suas cores,

Traz-me teus risos,

Tuas paixões,

Teus amores.

Não quero que se vá novamente, digo eu.

Mas terá de ir, não terá?

Terá de dar espaço aos teus irmãos, não terá?

Outono...

Inverno...

Verão...

Todos de novo!

Até que eu possa me alegrar com sua presença.

Que ciclo demorado, digo eu!

Desnecessária tanta enrolação.

Quero você, Primavera, só você,

Com sua brisa doce vagueando pelos céus.

Conta-me, Primavera...

As fadas existem, não?

No Inverno ouvi uma criança dizer que elas ajudam-te a enfeitar as árvores,

Talvez a cuidar dos pequenos animais também.

Não duvido que você tenha criaturas tão lindas trabalhando ao teu favor, digo eu,

Tão delicadas como tu, Primavera.

Quando você chegou, pude jurar,

Vi com meus próprios olhos uma fada no jardim,

Estava pintando as flores da árvore que você me deu,

Todas coloridas, divertidas,

Alegres como você, digo eu.

Será que ela pintou as flores laranjas da varanda?

Ou foi alguma amiga, ajudante querida?

Não sei, digo eu.

Só sei que vou sentir sua falta, Primavera.

Vou sentir falta das tuas flores,

Tuas cores,

Risos,

Paixões,

Amores,

Da fada danada que pintava a árvore de meu jardim

E talvez de sua amiga, ajudante querida.

Mas estarei esperando, Primavera.

Seu fiel admirador,

Seu fiel amador,

Mande sua brisa bater em minha porta novamente quando voltar!

Com amor,

da casa 17, o morador.

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