Capítulo sete

1.3K 156 11
                                    

Certo, eu estou com um problema e tanto. Era impossível lutar com tantos ao mesmo tempo, aconteça o que acontecer, preciso salvar Luna que se encolhe contra minha costa apavorada, eu sinto seu medo. Sei bem que ela não é um anjo de guerra, tão pouco eu sou, mas fui treinado para lutar, caso fosse necessário. Tento manter a calma, e pensar na melhor solução possível. Eu tenho uma ideia, só não sei se ela é boa, ou idiota o suficiente para acabar com nos dois.

—O que vocês querem?— pergunto encarando o anjo caído, que sorri para mim sarcasticamente.

— Você!— Uma resposta simples, que revelava muito da intenção deles. Automaticamente lembrei que desobedeci ao continuar e ignorar a advertência que recebi. E que agora teria que arcar com as consequências.

—Não!— Ouvi a voz de Luna, não podia correr o risco de discutir com ela agora. Dei uma leve pressionada em sua mão, pedido para que confie em mim. Não sei se ela entendeu, mas, pelo menos, fica quieta.

— Certo? E ela?— Sinto Luna se remexer, percebo que para ela ficar quieta não está sendo uma tarefa muito fácil.

— Ela é inútil para nos, no máximo uma diversão.— Luna se encolhe contra minhas costas diante da resposta dele.

Sei muito bem do que ele estava falando, já ouvi caso de anjos que foram capturados por grupos de demônios. Os miseráveis abusam da inocência do anjo de todas as maneiras possíveis, e quando não consegue corromper definitivamente, o anjinho retorna todo machucado para cidade celestial, e nunca mais é o mesmo, pois foi maculado pelo mal. Geralmente ficam impossibilitados de voltar a cumprir seu trabalho. Não são muito bem-aceitos, por que todos julgam e pensam que se foram capturados é por que de alguma forma desobedeceu, e que o castigo foi do que justo. Pelos arcanjos um anjo molestado nunca deveria ter sua entrada permitida na cidade celestial, mas como não são eles que mandam, são obrigados a obedecer. Infelizmente isso não faz com que a estadia de um anjo que caiu em desgraça seja mais agradável, muito pelo contrário.

Não quero isso para Luna, ela merece algo muito melhor. E outro sinto que ela só está aqui por causa de mim, esse pensamento mexe com meu âmago.

— Deixe que ela vá, que me rendo sem lutar.— Escutei um bochicho entre os caídos e os ceifadores. O caído a minha frente, solta um riso alto.

— E por que eu faria isso? Você já e nosso. E meus rapazes precisam de um pouco de diversão, depois podemos deixar que você se divirta um pouco com ela, se quiser.— Aquele comentário me encheu de ódio, tive que me controlar para não avançar para cima dele.

— Aí que você se engana, meu camarada. Você pode até arrancar minhas asas, mas se alguém tocá-la, juro que nunca servirei aos seus propósitos.— Me preparo para lutar, por nada nesse mundo eu entregaria os pontos assim tão fácil, não sem ter a certeza de que ela está bem. Percebo que para mantê-la salva eu de fato entregaria minhas asas.

— Quem disse que isso nos importa? Cedo ou tarde irá se juntar a nos.

— Ai que você se engana Saimom, precisamos dele de corpo e alma ao nosso lado, deixe que ela vá.— Esse surgiu do nada. Tentei encontrá-lo, mas demorou um pouco para que aparecesse em meio ao escuro. Talvez seja minha impressão, mas a noite parece estar mais escura do que antes.— Você não quer deixar os mestres nervosos, quer? Sabe muito bem o que acontecerá se isso acontecer.

— Michael!— O caído falou com desdem, sinto a animosidade entre eles, está na cara que existe uma disputa ali.— De novo se metendo em meus negócios! Mas essa será a ultima vez que fará isso.

Quase não consegui enxergar o que aconteceu a seguir, por causa do breu que rapidamente estava tomando tudo. Saimom atacou Michael que se defendeu rapidamente, a atenção de todos os caídos e ceifadores se voltaram para os dois que lutavam, com golpes rápidos e certeiros, vez ou outra ouvia-se uma rizada de escarnio de um dos dois combatentes. Era agora, tínhamos que fui dali.

— Vamos!— falei baixinho no ouvido Luna. A situação era propricia para fuga.— Voe você primeiro, pois se sairmos juntos chamaremos mais atenção. — Ela quis abrir a boca para discutir.— Não seja teimosa. Vá e não volte mais aqui, mesmo que eu demore, entendeu?

Luna assentiu e mesmo contrariada voou para longe, e eu fiquei aliviado por saber que ela estava a salvo. Logo em seguida abri minhas asas tentando não fazer barulho, apesar de que o barulho da luta era muito maior do que qualquer batida de asa, mas a ultima coisa que eu desejava era chamar a atenção para mim. Estava saindo sorrateiramente quando sinto alguém segurar a minha perna e me jogar contra um muro. Minha cabeça bateu tão forte que chega zunir meus ouvidos.

— Onde você pensa que estava indo anjinho? Curta seus últimos instantes de morte, por que a vida que conhece está prestes a termina. Não se preocupe, a vida de ceifador não é tão ruim assim. Não precisa ter medo. Quer dizer, isso só vai depender de você.

Aquele deveria ser um ceifador, eu não conseguia ver direito. Somente o vulto a minha frente. Os filhos da mãe pareciam ter visão de gato, só pode. Tentei levantar, mas eu estava tonto e cai novamente e ouvi um riso. Sim, estavam tirando sarro de mim.

— Você tem sorte que serei eu quem irá fazer isso. Outro não seria tão rapido e benevolente contigo, antes acabaria com você antes. Mas eu me conformo em ter suas asas.

Tento levantar, preciso lutar, mas antes que eu pudesse me defender o ceifador me empurrou me fazendo ficar de com as costas para cima. Segurou firme as minhas asas e apoiou um pé entre a junção delas, me preparei para dor que viria e fechei meus olhos bem forte. Nunca pensei que me tornaria um ceifador, fui criado para pertencer ao céu e nunca cogitei a ideia de pertencer ao submundo. Mas agora não havia tempo para pensar, ou para desistir, meu destino estava traçado e não haveria escapatória. Senti a primeira pressão, meus músculos tentando se manter firmes. O medo me invade como um rompante, o medo do desconhecido e de não saber o que me espera depois da passagem.

— NÃÃÃÃOOO!!!— Uma voz feminina fez com que as mãos que seguravam minhas asas firmem ao ponto de arrancá-las paralisassem. Percebo isso com um alivio.

— Senhora!— O ceifador falou em tom de respeito. Ele me soltou. Foi só então que percebi que tudo estava em silencio. Fiquei tentando entender o que aconteceu com os dois lutadores e sua plateia.

— O que estava fazendo?— Ela perguntou num tom indignado. — O machucou?

Achei estranho, ela parecia preocupada. O escuro não me permitia ver quem era e por sua voz não pude reconhecer.

— Não senhora. Eu estava arrancando suas asas. Não é isso que se faz com os anjos da morte?— Essa frase poderia parecer petulante e desafiadora, porém no tom em que ele falou, pareceu uma explicação, de alguém humilde que não pretendia errar.

— Não com esse, eu tenho planos para ele.— Estava estranho aquilo, por que ela parecia falar com voz carinhosa. Será que me conhece?

—Eu não sabia senhora, não quis chateá-la.— Eu estou tentando entender tudo aquilo para poder falar alguma coisa.

— Sorte sua que estou de bom humor hoje.— Isso foi um suspiro de alivio que escutei? Quem era aquela mulher que parecia ser temida por todos? E que planos tem para mim?— Levem-no para meus aposentos, eu já vou para lá. Antes preciso resolver uma coisinha com dois caídos que quase colocaram tudo a perder.

Foi então que percebi que haviam mais caídos e ceifadores aqui, escondidos no breu. O fato de parecer ser o único que não enxergava no escuro estava me incomodando muito. Que merda! O ceifador me pega pelo braço, de uma maneira que me imobiliza e me leva em direção a danceteria que a pouco eu desejava entrar. Que idiota sou.

Eu nunca tinha entrado em um lugar como aquele, era um odor horrível de pecado. Para onde eu olhava haviam corpos se esfregando em grande balé sensual. Antes de ser puxado para a escadaria que me levava para o andar de baixo, eu a vi. Era idêntica, mas ao mesmo tempo tão diferente, se eu não tivesse certeza que Alice estava em um leito no hospital eu poderia jurar que era ela.

Curtiram o capítulo? Deixe seu voto e seu comentário. Quero pedir perdão pela demora em postar, semana passada foi fera, muita correria. Quem quer que o próximo capitulo saia essa semana ainda????? Quem? Quem? Quem? Me comovam. Hehehehe



Deixe-me voarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora