Parte 01

408 38 6
                                    


Oi! ;)
O notebook continua no conserto, e eu estava aqui mexendo no wattpad pelo celular, quando dei de cara com esse conto que estava nos rascunhos. Então decidi republicar pra compensar um pouco a falta de capítulos de Confissões de Heloísa e Caderno de Receitas.

Espero que vocês gostem!

Eu ainda não acredito que a Cecília me obrigou a estar aqui! Definitivamente, eu não nasci para correr atrás de trio elétrico, muito menos na virada do ano.

– Desfaz a cara, Milena! – a Cecília grunhiu perto de mim.

– Eu não. Você me obrigou a vir, agora aguenta. – respondi irritada.

– Você perdeu a aposta, sabendo que o pagamento era sair comigo para onde eu quisesse, agora tem que pagar.

– Mas Réveillon com trio elétrico e abadá? Eu nem sabia que isso ainda existia! E ainda mais com dupla sertaneja em cima do trio? – não tinha como não fazer careta.

– É sertanejo universitário. – minha amiga rolou os olhos como se eu tivesse ofendido o próprio Mozart.

– Não sabia que a música sertaneja tinha prestado vestibular. – birrei.

– Ai, Milena, deixa de ser chata. Bebe! - ela empurrou uma garrafinha com um líquido branco na minha direção.

– Eu não bebo essas coisas, você sabe.

– Sei, você gosta de vinhos caros e drinks metidos a besta. Mas hoje você tem que fazer o que eu quiser, então bebe logo.

Pior que eu sabia. Aposta é aposta, e nessa eu perdi feio. Tomei um gole da bebidinha branca que ela me empurrou, e nem achei tão ruim.

– É doce. – afirmei – O que é isso?

– Vodka com suco de limão, é fraquinho.

– Tem gelo?

– A madame quer um tira gosto também? – ela tirou onda comigo – Não tá vendo onde a gente tá?

– Credo! Quem tá chata é você. Bebe também então. – falei devolvendo a garrafa.

A banda que abriu o show, ou, mais especificamente, a espécie de carnaval sertanejo fora de época encerrou, e o trio com a dupla principal estava entrando no espaço da festa, chamado de arena. Pelo menos o lugar era enorme e a Cecília não me obrigava a ficar no meio da multidão, o que tornava tudo um pouco menos desconfortável, porque não havia ninguém nos empurrando ou esbarrando na gente o tempo todo.

Para mim era muito estranho estar ali, no meio daqueles jovens que pulavam, cantavam e beijavam uns aos outros como se não houvesse amanhã. Não que eu fosse velha, mas aos 29, eu já não me sentia a vontade com aquele mundo. Alguns caras se aproximaram, a Cecília insistindo que a gente desse uma chance, mas eu sequer conseguia me imaginar beijando um desconhecido. Não. Nem pensar.

Porém, duas garrafinhas da tal "Ice" depois, e eu me peguei dançando e gostando das músicas que estavam sendo executadas. Mais três garrafinhas e eu estava adorando todo aquele excesso de som e luzes. Meu rosto estava quente, meus cabelos úmidos de tanto dançar, e um sorriso estampado no meu rosto que não saía por nada.

Foi aí que eu vi aquele cara. Branco, cabelos lisos e bem negros, também úmidos. Ele, assim como eu, carregava o abadá no braço, e vestia uma camiseta preta. Eu não conseguia ver o restante do corpo, pois as outras pessoas o cobriam. Ele não me viu, e eu não gostei disso. Sem dizer nada puxei a Cecília e atravessei no meio de algumas pessoas até passar pela frente dele, mas não o olhei. Dei a volta e retornei ao lugar onde estávamos antes. Levei a garrafa até a boca e percebi que ele me olhava. Meu truque dera certo. Sustentei o olhar, deixando-o me observar sem nenhum constrangimento. Depois de um longo gole na bebida eu sorri, no que ele correspondeu, deixando entrever duas lindas covinhas na sua bochecha.

Não deu tempo para mais nada. Em poucos passos ele chegou até mim e me convidou para dançar, o que eu obviamente aceitei. Nossos corpos se encaixaram perfeitamente. Não faço ideia de que ritmo nós dançamos juntos, já que não havia muito espaço. Só sei que meu nariz ficou na altura do queixo dele, e eu sentia seu perfume misturado ao cheiro de homem que ele exalava. Sua roupa estava úmida, mas o cheiro era divino. Eu via a minha amiga me olhando boquiaberta e me dava vontade de sorrir, mas estar aconchegada nos braços daquele desconhecido era muito melhor.

Não conversamos. Não sei quanto tempo dançamos. Quando vi o nariz dele estava no meu rosto. Ele procurou a minha boca e eu não fiz questão de dificultar.

Nos beijamos.

Muito.

Um beijo de mexer com o corpo todo.

Um beijo de arrepiar da cabeça aos pés.

Um beijo com química.

Com tesão.

Com gula.

Ele pareceu surpreso quando afastou momentaneamente nossos rostos:

– Assim eu vou querer mais.

– Isso é um problema? – me ouvi perguntar com ousadia.

– Pelo contrário. – ele respondeu antes de me beijar de novo. E novamente foi incrível. E sabendo da reação que eu causava nele, me entreguei ainda mais, puxando seu cabelo e movimentando meu corpo no ritmo da música, grudada nele.

Depois de alguns beijos que esquentavam cada vez mais ele me olhou novamente. Um sorriso surpreso brincava naqueles lábios agora levemente vermelhos. Meus óculos haviam manchado e eu aproveitei pra tirar. Ele me mantinha colada nele.

– Isso tá ficando perigoso.

– Por que? - provoquei.

– Porque com esse beijo gostoso eu te quero toda. – apenas sorri – Me manda ir embora.

– Por que? Você tá devendo alguma coisa?

– Nem um centavo. – ele respondeu, puxando o celular do bolso e ligando – Quero seu número.

Esperei o telefone dele iniciar e digitei meu número e nome, salvando em seguida. Só aí percebi que eu não sabia o nome dele. Isso jamais havia acontecido antes.

– Qual teu nome? – aproveitei para perguntar.

– Marcelo. – fiz um acordo silencioso com a minha memória pra não esquecer. E ele me beijou, de novo.

Quando encerramos esse último beijo algo chamou atenção dele atrás de mim, mas eu não consegui olhar. Meus olhos só procuravam apreender cada centímetro da pele dele. Sem dúvida alguma era um dos caras mais lindos que eu já havia ficado na vida, e eu não queria esquecer os detalhes.

– Eu preciso ir. – ele falou e eu procurei não demonstrar nenhuma reação – Meu amigo está sozinho.

– Tá. – foi o que respondi, e apenas me soltei dele, tentando dar um passo pra trás, mas ele me segurou, e me deu um último beijo.

– Feliz ano novo, Milena.

– Feliz ano novo, Marcelo.

Da mesma forma rápida com que apareceu na minha frente, ele sumiu. Minha amiga me olhava boquiaberta, mas antes que ela dissesse qualquer coisa eu a puxei. Queria sair dali. Queria ir para o lado oposto de onde ele saíra.

– Amiga! Que cara lindo! De onde vocês se conhecem?

– A gente não se conhecia.

– Como assim não se conhecia? – ela estava boquiaberta.

– Não se conhecendo. Ponto.

– Minha nossa, ninguém vai acreditar quando eu contar que você se atracou em altos beijos com um desconhecido na balada!

– Ninguém precisa saber, Ceci, deixa de exagero. Aconteceu, pronto acabou, vem, vamos dançar.

A festa continuou e eu não deixei mais a Cecília tocar no assunto "Milena beijou um desconhecido no réveillon", mas confesso que quando finalmente estava deitada na minha cama, um sorriso bobo ainda brincava nos meus lábios. Eu não queria me iludir achando que ele me ligaria, mas não conseguia deixar de desejar.

Pedidos de NatalWhere stories live. Discover now