Um Desastre no Natal

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- Desculpa, não foi por querer. Eu juro que não vi seu carro - o cara disse com a voz embolada e segurando uma garrafa de vodca.

- Mano, você tá bêbado! - Peguei a garrafa e joguei longe. - Você vai pagar todo o estrago, tá ouvindo?

- Tá, tá. Calma, cara.

Fiz ele ir comigo na oficina mais próxima pra arrumar o carro. O cara da oficina disse que ficaria pronto daqui a quatro dias e o cara bêbado já pagou o quanto daria lá. Mas eu tive que ir até o hospital de táxi. É claro que quando eu cheguei lá as enfermeiras me xingaram de tudo quanto é nome, dizendo que eu sou irresponsável, que eu não penso nos outros, só em mim, até que eu não aguentei.

- HOJE É O MEU DIA DE FOLGA, HOJE É VÉSPERA DE NATAL. EU NÃO DEVERIA ESTAR AQUI COM VOCÊS, SUAS MAL COMIDAS, EU TINHA QUE ESTAR COM A MINHA FAMÍLIA. EU ESTOU AQUI POR CAUSA QUE TEM CRIANÇAS PRECISANDO DE MIM, E VOCÊS DIZEM QUE EU NÃO PENSO NOS OUTROS? VOCÊS NÃO PENSAM NOS OUTROS. FICAM MORGANDO AQUI NO HOSPITAL, AS PESSOAS PEDEM INFORMAÇÃO E VOCÊS FINGEM QUE NÃO SABEM E MANDAM PERGUNTAR PARA OUTRA PESSOA. QUEREM SABER? EU VOU TRABALHAR HOJE E DEPOIS DISSO, EU. ME. DEMITO! - Algumas pessoas que estavam ali me aplaudiram... Mentira, eles estavam pouco se fodendo pra gente. - Quem é o garoto que está com dor? - perguntei a Olga, a enfermeira que tinha me ligado.

- E-ele. - Ela apontou para um garotinho no colo de uma mulher.

- Venha. Vamos descobrir o que está acontecendo com você, pequeno.

Quando deu 16:57, eu fui até a recepção e fiquei olhando o relógio. 16:58... 16:59... Quando deu 17:00 em ponto, eu tirei meu jaleco e joguei em cima das mulheres que estavam ali. Assim que saí, vi uma garotinha com a perna machucada entrando no hospital. Eu poderia ligar o "foda-se" na minha mente e ir embora, mas fiquei com dó dela. Entrei de novo e a atendi.

Ela havia quebrado a perna, depois que caiu de um brinquedo do parquinho. Me lembrei de Johanna, que adorava se jogar dos lugares. Entrei em um táxi e recebi uma mensagem do Zack, pedindo pra eu fazer... biscoitos? Ah, não vai dar não. Vou ter que comprar doces numa confeitaria, porque não vai dar pra fazer não.

*** Melissa ***

Assim que Andy saiu, eu comecei a me olhar no espelho pra ver o que dava pra ser feito. Nada, eu disse a mim mesma. Vou ficar com esse cabelo aí mesmo... Vou nada. Chamei a Johanna e nós fomos à farmácia mais próxima, pra comprar tinta de cabelo. Vou comprar uma castanho-escuro, pra eu conseguir enxergar quando já está escuro ou não. Eu estava na fila do caixa, quando...

- Melissa? Melissa Harper?

Virei pra trás e... Ah, não, Connor Wings, meu namoradinho do colegial. Ah, porra.

- Connor, quanto tempo!

- Quem é essa?

- Johanna, minha filha.

- Jura? Ah, que legal.

- Você tem filhos?

- Tenho. Dois. Mas estão com a mãe, nós somos separados.

- Ah, entendi. - Percebi que eu era a próxima. - Ah, foi bom te ver, Connor.

- Quer tomar um café comigo?

- É, não vai dar.

- Vamos, apenas alguns minutinhos.

- Eu quero ir, mãe! - Johanna disse.

- Tá, beleza. Mas só uns minutinhos.

Nós fomos em um café/padaria/confeitaria, que ficava ali perto. Estava um inferno, com um monte de gente querendo comprar doces pra de noite. Sentamos em uma mesa e fizemos o pedido. Ficamos relembrando os tempos de escola, rindo na maioria do tempo. Johanna nem prestava atenção, ela só queria comer o bolo de chocolate dela.

- E você lembra daquela vez em que seu vestido do baile prendeu na porta do carro?

- É claro que eu lembro! Perdi metade do vestido, praticamente.

- É... Você estava linda naquela noite. - Ele pegou na minha mão instintivamente e assim que percebeu o que havia feito, a soltou. - E como é o seu marido?

- Ah, ele é loiro e tem os olhos castanho-claros.

- Que desperdício. Dois loiros de olhos castanho-claros. Vocês, loiros, deveriam ampliar seus horizontes e casar com pessoas de cabelos castanhos e olhos castanhos também.

- E sua ex-mulher, como é?

- Morena, com os olhos castanhos.

- Que desperdício! - falei. Connor também é moreno com olhos castanhos. - E você sabe que eu não sou loira.

- Você é loira, Mel. Sempre foi.

Olho de relance pro balcão dos bolos e vejo Andy.

- Johanna, aquele não é o papai?

- É! Pai! Oi! Ei! Pai! - Ela saiu correndo para encontrá-lo.

- Pois é, Connor, tenho que ir. Foi um prazer te rever. - Nós nos abraçamos.

- O prazer foi meu, Mel. Feliz Natal.

- Pra você também.

Fui até Andy e vi que ele estava pegando praticamente tudo o que tinha naquele lugar.

- Moça, o que a senhora tem de cupcakes decorados de natal? Quantos tem?

- Tem... 34.

- Quero todos. E esse bolo também. Só tem ele?

- Só. É o último.

- Tá. E esses cookies também. E esses troços que eu não sei o que são... Ah, oi, amor, o que está fazendo aqui?

- Eu estava conversando com meu ex namorado do colégio.

- Ah, legal... Me demiti hoje.

- Ah, ok. Vamos ficar pobres, legal - eu disse. Nós temos que conversar depois.

Saímos de lá e Andy foi falar com um táxi que estava parado no meio da rua. Tá, mas cadê o carro dele? Fomos para o meu carro e colocamos tudo no banco de trás. Perguntei o porquê de ele ter vindo de táxi e ele respondeu que um cara estragou o carro dele. Ou seja, tá tudo uma beleza hoje.

Na hora em que Andy foi tirar o bolo do carro, o querido círculo de veludo vermelho com decoração de estrelas douradas e super brilhantes resolveu cometer suicídio e se espatifou no chão.

- O bolo já era.

*** Andy ***

Entramos em casa e Melissa foi pintar o cabelo de novo enquanto Johanna foi tomar banho. Eu fui tentar fazer alguma receita. Eu consegui fazer duas receitas e, ah, já tá ótimo, né? Depois de um tempo, Melissa entrou na cozinha, com o cabelo meio pintado, meio não. Sério, tava repartido no meio! Era platinado do lado direito e castanho escuro do lado esquerdo.

- Andy, vai comprar mais uma tinta pra mim. Não deu pro cabelo todo.

- Amor... Halloween já foi, viu? Você se veste de tabuleiro de xadrez ano que vem, ok?

- VAI NA PORRA DA FARMÁCIA COMPRAR OUTRA TINTA PRA MIM, CARALHO.

- Tô indo. Tô indo. Que marca que é?

- É da única que tem lá.

Fui correndo até a farmácia mais próxima de casa. Tava lotada. Peguei a primeira caixa de tinta de cabelo que eu vi e fui pra fila. Eu esperei no mínimo uns vinte minutos na fila pra pagar. Depois, voltei correndo.

- Toma.

- Você tá me zoando, né?... ESSA TINTA É PRA QUEM QUER FICAR RUIVA.

- Você falou que era a única que tinha lá!

- A ÚNICA MARCA, SUA ANTA - ela gritou, balançando a caixinha. - VOCÊ TINHA QUE OLHAR A COR. Quer saber? Não vou me desesperar, vai dar tudo certo. Tudo certo.

- Isso amor, mas vai logo que já são... 19:56. Ah, Deus, eu tenho que tomar banho!

Por isso que chegamos atrasados na casa da Ariel. Eu super suado mesmo depois de ter tomado banho; Johanna com uma cara de bosta porque queria ficar em casa; e Melissa com o cabelo de umas vinte tonalidades diferentes e um chapéu. Pois é.

Hoje foi um dia muito estranho. Sério.

A Menina dos Olhos Bicolores *Especial de Natal*Onde histórias criam vida. Descubra agora