1.Quinta-feira, 4 de setembro

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Maggie May – É hoje, gato.

Gato Gatuno – É hoje. Como você vai estar vestida?

Maggie May – Vou direto do trabalho pra lá. Estou de branco. Blusa de renda. Só vou tirar o avental.

Gato Gatuno dá uma piscadinha.

Maggie May – E você?

Gato Gatuno – Camisa verde e calça preta.

Maggie May – Quem vai falar primeiro? Fala você comigo, eu prefiro.

Gato Gatuno – Está com medo?

Maggie May – Não... É que acho estranho nunca termos nos visto.

Gato Gatuno – Essa é a ideia, gata. Não foi por isso que entramos naquele site de encontros às cegas, que preenchemos nossos dados, que confidenciamos nossas músicas preferidas, bebidas preferidas, cores preferidas? Tudo para que eu pudesse encontrar você.

Maggie May manda uma carinha sorrindo.

Maggie May – De qualquer forma, vamos nos ver hoje. Eu queria pelo menos saber um pouco mais sobre você. Alguma coisa, qualquer coisa.

Sim, ela pensou em fuçar na internet em busca de alguma foto do "Gato Gatuno". Mas aí seria traição, não um verdadeiro encontro às cegas – e ainda poderia se frustrar ao não descobrir nada, após muito procurar. Até porque ela ainda não tinha informações suficientes para uma investigação. E também tinha gostado tanto dele, que nada podia dar errado. Ele contou que era alto, informação importante. Maggie era uma garota vaidosa, adepta dos saltos, e se incomodava em sair com caras baixinhos pois corria o risco de, mesmo usando sapato sem salto, ficar mais alta do que ele. Então se esse quesito fosse cumprido, não teria nenhuma grande surpresa. Para ela, a feiura nem era um defeito tão grande quanto a altura – quer dizer, a falta de altura. Outro ponto positivo para o "Gato Gatuno" era ser da mesma cidade dela. Sem contar que gostavam das mesmas músicas, bebidas e cores. Enfim, era o match perfeito.

Gato Gatuno – Tudo bem, eu conto o meu nome. Assim você pode me chamar pelo nome verdadeiro quando nos encontrarmos. Sou Felipe.

Maggie May – E o Gato é Gatuno por quê?

Gato Gatuno – Vou roubar seu coração! ;-)

Maggie May envia um emoticon de beijo.

Gato Gatuno – Agora é a sua vez. Como você se chama?

Maggie May – Maggie May.

Gato Gatuno – Pode me contar, eu já contei o meu. Sem sobrenomes, só o primeiro nome.

Maggie May – Não é meu apelido, é meu nome mesmo.

Não era novidade para ela que ele não acreditasse. Ninguém acreditava. Acontece que o pai de Maggie, o Boca de Ouro (como era chamado), tinha fissura por nomes de música. Maggie chamava-se assim por causa da música homônima de Rod Stewart, da década de 1970. E parece que todas as suas esposas, incluindo sua mãe, não tinham escolha nas decisões, já que suas irmãs também ganharam nomes de canções. Ela achava que tinha sido a mais prejudicada, mesmo que isso não fosse uma verdade absoluta. Era chamada também de Meg pelas amigas.

Independente, Maggie May tem vinte e três anos. Formou-se em Medicina Veterinária há cerca de um ano, tempo de existência da sua clínica – presente do pai, que sempre sonhou em ver a filha formada. Ele juntou dinheiro por anos, mesmo antes de ela pensar em escolher o curso, porque, qualquer que fosse sua escolha, ele a ajudaria, assim como ajudou suas irmãs. Maggie tinha, portanto, uma profissão que amava, seu negócio próprio, mas lhe faltava uma coisa: um marido. Uma situação absolutamente normal para uma mulher com a sua idade. Menos na cabeça de Maggie.

O Pulo da GataWo Geschichten leben. Entdecke jetzt