Capítulo 12

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A sra. Dashwood tinha tanta confiança no julgamento do marido que, no dia seguinte, foi visitar tanto a sra. Jennings quanto a filha dela, e sua confiança foi recompensada ao considerar a primeira, a senhora com quem suas cunhadas estavam hospedadas, merecedora de sua atenção;

quanto a lady Middleton, considerou-a uma das mulheres mais encantadoras deste mundo! Lady Middleton também gostou da sra. Dashwood. Havia uma espécie de frio egoísmo em ambas que as atraía mutuamente e simpatizaram uma com a outra por uma insípida se melhança de comportamento e a necessidade geral de compreensão que ambas tinham. Contudo, os mesmos motivos que recomendavam a sra. John Dashwood para lady Middleton não foram apreciados pela sra. Jennings, que a considerou nada além de uma mulher orgulhosa e antipática, que tratava as irmãs do marido sem nenhum afeto; além disso, concluiu que não tinham nada a dizer uma à outra, pois dos quinze minutos que durara a visita dela na Berkeley-street, sete minutos e meio haviam sido de absoluto silêncio. Se bem que não pensasse nem sequer em perguntar, Elinor queria muito saber se Edward se encontrava na capital. Porém, nada deste mundo levaria Fanny a mencionar voluntariamente o nome do irmão diante dela, nem mesmo para dizer que o casamento com a srta. Morton fora marcado ou para indagar se as expectativas de seu marido a respeito do coronel Brandon eram acertadas, porque acreditava que Elinor e Edward ainda estavam muito apegados um ao outro e que era preciso que se continuasse a mantê-los separados tanto por referências quanto pessoalmente em todas as ocasiões possíveis. Entretanto, a notícia que ela não queria dar acabou vindo de outro lado. Lucy não demorou a ir lamentar-se para Elinor por não ter conseguido ver Edward, apesar de ela ter chegado à capital em companhía do sr. e da sra. Dashwood. Disse que o jovem cavalheiro não se atrevia a ir ao Edifício Bartlett por medo de ser descoberto e, apesar da impaciência de ambos em se encontrar, a única coisa que podiam fazer por enquanto era escrever um para o outro. Não demorou muito, Edward confirmou sua presença na capital indo duas vezes à Berkeleystreet. Duas manhãs, ao voltarem das compras, elas encontraram o cartão dele sobre a mesa. Elinor ficou contente por Edward ter vindo visitá-las e não mais lamentou por ter sentido saudade dele. Os Dashwood estavam tão fascinados pelos Middleton que, se bem que não fosse hábito deles dar nada a ninguém, decidiram oferecer-lhes algo: um jantar. Assim, pouco depois de tê-los conhecido, convidaram-nos para jantar na Harley-street, onde haviam alugado uma boa casa por três meses. As irmãs do sr. Dashwood e a sra. Jennings também foram convidadas; por sua vez, sir John tratou de assegurar-se de que o coronel Brandon também recebesse um convite, pois sabia que ele gostava de ir aonde as irmãs Dashwood fossem. O coronel recebeu o convite com alguma surpresa e muito prazer. Iriam, portanto, conhecer a sra. Ferrars, porém Elinor não conseguiu descobrir se os filhos dela estariam no jantar. Contudo, a expectativa de ver a mãe de Edward era suficiente para despertar seu interesse pelo jantar. Se bem que ela não pudesse deixar de sentir uma forte ansiedade causada pela idéia de ser apresentada a essa senhora, se bem que fosse capaz de encarála como se não se importasse com a opinião que iria fazer a seu respeito, não podia deixar de sentir vontade de ver a sra. Ferrars, de ter curiosidade em saber como ela era. A agitação com que ela antecipava esse jantar não tardou a ser aumentada, mais por angústia do que por alegria, ao saber que as srtas. Steele também estariam presentes.

As irmãs Steele haviam sabido ganhar a amizade de lady Middleton tão bem, tinham-na agradado tanto com sua solicitude constante que, apesar de Lucy não ser absolutamente elegante e nem sua irmã ser gentil, ela não hesitou em dizer a sir John que gostaria que as jovens passassem uma ou duas semanas na Conduit-street. E tal fato pareceu particularmente conveniente para as srtas. Steele quando souberam do convite dos Dashwood, ainda mais que a estada delas na casa dos Middleton iria começar alguns dias antes do jantar. Com Os esforços que fizeram para chamar a atenção da sra. John Dashwood para o fato de que eram sobrinhas do homem que dera abrigo para o irmão dela conseguiram também lugares à mesa do jantar, mesmo porque, de qualquer maneira, seriam bem-vindas como hóspedes de lady Middleton. E Lucy ficou mais feliz do que nunca ao receber o cartão da sra. Dashwood, que havia muito tempo vinha querendo conhecer pessoalmente, assim como à família Ferrars, para ver de perto qual era o caráter de seus membros e que dificuldades teria de enfrentar, além de ter a oportunidade de agradá-los. Em Elinor, o efeito foi diferente. Imediatamente imaginou que se Edward morava com a mãe, com certeza iria acompanhá-la ao jantar oferecido pela irmã... Não sabia se suportaria a dor de vê-lo ao lado de Lucy Steele, pela primeira vez depois que tudo acontecera! Essa apreensão talvez não se baseasse inteiramente na razão e com certeza também não em toda a verdade. De qualquer modo, foi aliviada não por iniciativa dela própria, mas sim pela intervenção de Lucy, que acreditava estar infligindo uma decepção profunda em Elinor ao lhe dizer que Edward provavelmente não iria à Harley-street na quinta-feira; com certeza, até pretendera causar-lhe maior sofrimento ao explicar-lhe que Edward iria manter-se distante por amá-la de tal maneira que não conseguiria esconder seus sentimentos dos demais, caso estivessem juntos. Chegou, afinal, a importante quinta-feira em que as duas moças iriam conhecer a provável e formidável sogra de uma delas. - Tenha piedade de mim, srta. Dashwood - disse Lucy enquanto subiam a escada lado a lado, pois os Middleton tinham ido à casa da sra. Jennings E todos haviam combinado de irem juntos. - Não tenho ninguém que me ajude, a não ser a senhorita. Mal posso me manter de pé. Oh, santo Deus! Daquia um momento vou ver a pessoa de quem a minha felicidade depende, a pessoa que vai se tornar minha mãe! Elinor poderia colocar um fim em tanto sofrimento, sugerindo a Lucy que existia a possibilidade da sra. Ferrars tornar-se mãe da srta. Morton e não dela; mas em vez de fazer isso, assegurou-lhe, com sinceridade, que sentia muita pena dela, para surpresa de Lucy, que se sentiu desconfortável, uma vez que esperava ser, pelo menos, objeto de uma irrepreensível inveja de Elinor. A sra. Ferrars era uma mulher pequenina, magra, alti va, até formal no físico e séria, se não tétrica, no aspecto. Seu rosto era pálido, os traços miúdos, sem beleza e, naturalmente, sem expressão. Mas umas interessantes rugas de expressão na testa a salvavam de parecer estar sempre em desgraça ou de ser insípida, conferindo-lhe o ar de quem tinha natureza determinada e orgulhosa. Não era mulher de muitas palavras, pois, ao contrário das pessoas em geral,

Razão e sensibilidade- Jane AustenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora