Amor de Perdição Memorias d'uma familia

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AMOR DE PERDIÇÃO ***

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AMOR DE PERDIÇÃO.

AMOR DE PERDIÇÃO

(MEMORIAS D'UMA FAMILIA).

ROMANCE

POR

CAMILLO CASTELLO BRANCO.

* * * * *

Quem viu jámais vida amorosa, que não a visse afogada nas lagrimas do desastre ou do arrependimento?

D. Francisco Manoel, (_Epanaphora amorosa_).

* * * * *

PORTO

EM CASA DE N. MORÉ--EDITOR,

PRAÇA DE D. PEDRO.

A mesma casa em Coimbra, Rua da Calçada.

Casa de Commissões em Paris, 2 bis, Rua d'Arcole.

1862.

PORTO: 1862--TYP. DE SEBASTIÃO JOSÉ PEREIRA.

Rua do Almada, 641.

AO ILLUSTRISSIMO E EXCELENTISSIMO SENHOR

*ANTONIO MARIA DE FONTES PEREIRA DE MELLO*

DEDICA

O Author.

_Ill.^mo e Ex.^mo Snr.

Ha de pensar muita gente que V. Ex.^a não dá valor algum a este livro, que a minha gratidão lhe dedica, porque muita gente está persuadida que ministros do estado não lêem novellas. É um engano. Uma vez ouvi eu um collega de V. Ex.^a discorrer no parlamento ácerca de caminhos de ferro. Com tanto engenho o fazia, de tantas flôres matizára aquella árida materia, que me deleitou ouvil-o. Na noite d'esse dia encontrei o collega de V. Ex.^a a lêr a Fanny, aquella Fanny, que sabia tanto de caminhos de ferro como eu.

Que V. Ex.^a tem romances na sua bibliotheca, é convicção minha. Que lá tem alguns, que não leu porque o tempo lhe falece, e outros porque não merecem tempo, também o creio. Dê V. Ex.^a, no lote dos segundos, um logar a este livro, e terá assim V. Ex.^a significado que o recebe e aprecia, por levar em si o nome do mais agradecido e respeitador criado de V. Ex.^a

Na cadêa da Relação do Porto,

aos 26 de Setembro de 1861.

Camillo Castello Branco_.

PREFACIO.

Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartorio das cadêas da Relação do Porto, li, no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte:

_Simão Antonio Botelho, que assim disse chamar-se, ser solteiro, e estudante na Universidade de Coimbra, natural da cidade de Lisboa, e assistente na occasião de sua prisão na cidade de Vizeu, idade de dezoito annos, filho de Domingos José Correia Botelho e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castello-Branco, estatura ordinaria, cara redonda, olhos castanhos, cabello e barba preta, vestido com jaqueta de baetão azul, collête de fustão pintado e calça de panno pedrez. E fiz este assento, que assignei.

Filippe Moreira Dias_.

Á margem esquerda d'este assento está escripto:

_Foi para a India em 17 de Março de 1807_.

Não será fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor, se cuido que o degredo de um moço de dezoito annos lhe havia de fazer dó.

Dezoito annos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que ainda não sonha em fructos, e todo se embalsama no perfume das flôres! Dezoito annos! O amor d'aquella idade! A passagem do seio da familia, dos braços de mãe, dos beijos das irmãs para as caricias mais dôces da virgem, que se lhe abre ao lado como flôr da mesma sazão e dos mesmos aromas, e á mesma hora da vida! Dezoito annos!... E degradado da patria, do amor, e da familia! Nunca mais o ceo de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem rehabilitação, nem dignidade, nem um amigo!... É triste!

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⏰ Last updated: Mar 16, 2008 ⏰

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