- A sua discrição também me encanta, tentando disfarçar enquanto olha para meu decote neste exato momento.

Ele parece se surpreender pelo fato de eu ter notado, e arregala levemente os pequenos olhos. Em uma fração de segundo, sua expressão natural de escárnio retoma seu lugar, e ele diz, com um sorriso de canto de boca:

- Não pareceu se importar com isso quando foi falar com o piloto. Deveria fechar os botões. - Ele olha para o meu decote descaradamente, e pisca para mim. - Ou deixá-los assim mesmo. Estão ótimos.

Balanço a cabeça, e sorrio com escárnio. Típico. Faço menção de fechar mesmo os primeiros botões da minha camisa, mas não o faço. É muito desaforo. Endureço a expressão facial, erguendo uma sobrancelha e falando baixo:

- Já notou quanto os homens são estúpidos? Sempre acham que estão à nossa frente, que nos enganam, que nos dominam, que nos logram. Mas só nos basta saber usar o que temos, e vocês comem na nossa mão feito cachorrinhos.

- Talvez o cachorro se deixe alimentar pelo simples prazer da saciedade. Não pelo fato de ter fome.

- Isso soou baixo até pra você, conquistador de prostitutas de cassino e ruivas falsas. - cuspo.

- Eu adoro a capacidade humana de explanar diversas vertentes à julgar por ações esporádicas. Não te culpo. Mas também fico aqui perguntando, quantos homens você já fez "comerem na sua mão" usando o que tem?

Ergo novamente a sobrancelha. Por que ele se importa com isso?

- Provavelmente a mesma quantidade de pessoas nas quais você já passou a perna num cassino. Afinal, nós dois sabemos muito bem: quando se trata de dinheiro, vale tudo.

Ele me olha de viés. No escuro, seus olhos roxos parecem acender. Desejo ter sua habilidade, e poder ver, pelo menos uma única vez, o que se passa dentro da cabeça dele.

- Imagino que foram muitas, então. - ele diz, torcendo as mãos. - Mas cada um se vira como pode. Dinheiro não cai do céu.

Seu olhar vago é carregado de nostalgia. Sentado aqui ao meu lado, com o uniforme azul escuro como o meu, pela primeira vez não o vejo como um ladrãozinho conquistador. Vejo-o como um alguém que deve ter um passado doloroso, assim como o meu. Percebo que não preciso de telepatia para ver o que se passa na sua cabeça; preciso de sensibilidade para sentir o que está em seu coração.

Assim, pela primeira vez, sorrio para ele. Não um sorriso carregado de sarcasmo e malícia, mas um sorriso de condolência pela nossa história triste.

Akira me olha, surpreso. Timidamente, ele retribui o sorriso, sem a sedução forçada que carrega seus atos.

- Até que você não é de todo detestável. - digo. No mesmo instante, me arrependo do que disse.

Akira cai na gargalhada, até ficar com os olhos úmidos. Nunca o vi rir desse jeito, então fico furiosa.

Foi um elogio!

Fico carrancuda e desvio o olhar.

- E quem disse que eu sou? - ele pergunta, quando para de rir.

- O bom senso! E já voltei a acreditar nele.

Meu coração bate acelerado. As emoções conflitantes retornam, e desejo (não pela primeira vez) sair correndo daqui. Essa atração esquisita vai me causar problemas, sempre causam.

Ele passa a mãos nos cabelos, e se sobressalta como se tivesse ouvido algo. Olho ao redor, procurando algo na mata.

Sou eu! Me dou conta. Ele está ouvindo a mim. Lendo minha mente. Eu posso sentir.

InfectedHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin