Capítulo Vinte e Nove

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Eu e os outros partiremos amanhã. Não podemos mais ficar aqui. Eu vou tentar convencer Tomás mais uma vez, mas se isso não der certo, eu terei que partir com as mesmas pessoas que me acompanham desde o início de tudo isso. Talvez Tomás nos ajude com armamento e com mais algumas informações sobre o Centro antes de partirmos.

De repente, minha atenção é voltada para um pouco mais para frente, onde um círculo de pessoas começa a se reunir aos poucos. Percebo que há duas pessoas no centro do círculo. Tomás e Mike.

— O que está acontecendo? — pergunto.

— Não sei, mas parece que Tomás está bravo com alguma coisa — diz Anne.

Nós corremos em direção ao círculo de pessoas. Nos juntamos a elas e assistimos a cena.

— ... foi irresponsável! — ouço Tomás dizer em um tom bravo. — Não deveria ter deixado ela ir!

— Ela nos ajudou — Mike fala em tom baixo. — Ela salvou Luiz e nos salvou também.

Eu não preciso ouvir mais para saber de que estão falando de mim. Tomás está bravo por eu ter ido com os Buscadores.

Ele está prestes a falar alguma coisa quando eu avanço para o meio da roda de pessoas e interrompo a discussão:

— Tomás, fui eu que pedi para ir com eles — digo. — Não culpe Mike...

Por um segundo, penso que ele nem notou minha presença, já que continua olhando para Mike, furioso.

— Foi irresponsabilidade dele deixar uma sobrevivente novata no abrigo ir com eles em uma missão arriscada como essa! — Tomás continua com o mesmo tom de antes.

Sinto-me um pouco mal por Mike levar uma bronca de Tomás. Por minha culpa.

— Tomás, deixe isso para lá — insiste Mike. — Voltamos todos vivos e ainda com o sobrevivente...

A discussão é interrompida e a atenção de todos é voltada para um grupo de três garotos vindo correndo desesperadamente em nossa direção. Eles atravessam as árvores do parque e correm incrivelmente rápido. Percebo que dois deles estão chorando e um está com lágrimas nos olhos, as segurando para dentro de si. Eles três tremem e parecem ter menos de 14 anos.

Meu coração falha uma batida ao pensar em uma coisa. Fico paralisada e prendo a respiração. Não sei exatamente o motivo de estar prendendo a respiração.

Sinto minha transpiração começar quando penso novamente no que pode estar acontecendo. LPB.

Então, os garotos chegam em nós arfando e colocam as mãos nos joelhos. O garoto que segurava o choro não resiste e começa a chorar.

— Ele está morto! — diz ele, tremendo tanto que penso que ele vai cair. — Eu o vi morto!

— O que está acontecendo? — pergunta Mike.

— O garoto está morto! — outro menino fala. — Ele se enforcou!

Me alívio um pouco por não ser a LPB. Mas me sinto desconfortável com a notícia.

Tomás olha para mim e para Mike. Sua expressão é como se ele estivesse falando "vamos".

Então, começamos a correr na direção em que as crianças vieram. Outras pessoas correm atrás de nós — Anne está entre elas. Nem precisamos perguntar onde os garotos viram o garoto morto. Um tumulto de pessoas já nos indica isso. Vejo que as pessoas estão ao redor de uma árvore e elas olham para cima. Algumas choram e outras parecem apavoradas.

Nós nos aproximamos e atravessamos diversas árvores. Quando chegamos a uma mais velha e grossa que as outras, vejo, em um de seus galhos, uma corda e uma pessoa com o pescoço amarrado nela. Levo um choque ao ver aquilo.

Ouço as pessoas cochichando e conversando ao redor da árvore. A pessoa está virada de costas para nós, mas a corda começa a girar e seu rosto vai ficando cada vez mais visível. Quando ele já está virado completamente para nós, eu levo outro choque.

Sinto meus pulmões perderem o ar. Meu coração quase sai pela boca. Mike e Tomás parecem tão surpresos quanto eu.

Não consigo segurar as lágrimas.

O garoto na corda é Luiz. Ele está morto.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraWhere stories live. Discover now