Capítulo 1

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Talvez o caminho para a grande evolução da consciência esteja na capacidade individual de quebrar alguns conceitos aprendidos desde a infância. E o Junior estava aos poucos aprendendo isso com a vida.

Era noite de quinta–feira quando ele, já um pouco tonto pela bebida que havia tomado minutos antes, atravessava a pista de dança de uma casa noturna localizada no centro de São Paulo. A música estava alta, alguns rapazes dançavam sem camisa e ele, que tinha acabado de chegar, só precisava ir ao banheiro esvaziar sua bexiga. Quando entrou no banheiro, Junior observou que na fila para usar o reservado estava um rapaz que ele tinha visto lá fora, bem na entrada daquela famosa boate, e pelo qual havia se interessado. O cara, muito bonito, estava com uma garota que parecia ser sua namorada, e por isso ele não tinha dado tanta importância antes. Mas, felizmente, ela não estava ali com ele. Talvez esta fosse uma ótima oportunidade para ele investir. Ou não: Junior precisava perceber se o cara também tinha interesse nele; afinal, o que um não quer, dois não fazem.

Felizmente, ele queria. Após utilizar o reservado, o rapaz foi lavar as mãos e, ao se virar, deu de cara com Junior ainda na fila. O encontro de olhares foi fatal. Sabe quando você conhece alguém, os olhos ficam fixos e tudo em volta parece acontecer em câmera lenta? Foi exatamente isso o que aconteceu. O moço, ainda olhando fixamente em seus olhos, soltou um leve sorriso, e Junior, mesmo sendo muito tímido, retribuiu automaticamente. Até que o cara, por conta da música alta, foi até seu ouvido e disse:

– Uau, você é uma graça!

– Obrigado! Você também.

– Qual é o seu nome? – perguntou o rapaz, enquanto voltava a fixar seus olhos nos de Junior.

– Meu nome é um pouco complicado – respondeu Junior com seu sotaque interiorano, olhando para baixo. – Mas pode me chamar de Junior. E o seu? – continuou baixinho, enquanto seus rostos voltavam a ficar próximos.

– Carlos. Pode me chamar de Carlos – disse todo cheio de si, tentando beijá–lo logo em seguida.

– Ei! Espera! E a sua namorada? – Junior disse, empurrando-o.

– Aquela garota? Nem faço ideia de quem seja! – ele gargalhou. – Eu vim para cá sozinho – continuou ele, voltando a ficar sério.

– Sozinho? Mas vocês estavam quase se agarrando lá fora. Na fila.

– Ah, então quer dizer que você já estava me espiando, é?

– Não. Claro que não. Eu só vi você rapidamente – Junior disse, desviando o olhar.

– Não, eu vim sozinho mesmo. – insistiu ele, depois continuou. – Se eu conhecesse aquela garota, eu diria que era minha amiga. Ou então que eu estava ficando com ela. Mas não é nada disso...

– Tem certeza?

– Claro! A gente nem se conhece, por que eu mentiria para você?

– É verdade. Você tem razão. Não há motivo nenhum para mentir.

Com um argumento destes, não restavam mais dúvidas. Foi então que Carlos investiu novamente e os dois acabaram se beijando ali mesmo. Carlos era um alemão alto e muito atraente, usava cabelo curto, raspado nas laterais como se fosse um soldado do exército, uma camisa clara e calça jeans. Já Junior era um moreno bonito e musculoso, tinha a cabeça raspada e vestia uma regata branca e bermuda. O que eles tinham em comum? Falavam grosso e nenhum dos dois tinha trejeitos. Talvez por isso eles tenham se curtido tão rápido: nem sempre os opostos se atraem; aliás, o mais comum nas relações humanas é que características iguais ajudem na aproximação, principalmente nas amizades. E assim eles ficaram: se beijando no banheiro por incontáveis minutos, até que Carlos resolveu parar porque Junior também precisava usar o banheiro.

THEUS. Romance Gay.Where stories live. Discover now