A vida doce e normal!

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Lucas dormiu aqui em casa hoje, pois eu estava morrendo de dor de cabeça e ele insistiu que não me deixaria sozinha mesmo após eu dizer várias vezes que era só uma dor, e que em instantes ficaria melhor. Ele pareceu não ligar com a minha tentativa, mas continuou do meu lado massageando minha cabeça. 

Essa era uma das coisas que eu admirava nele, Lucas sempre parecia saber o que eu precisava, ou pelo menos na maioria das vezes, mesmo quando as vezes eu achava uma coisa, ele vinha e provava por a+b que se fosse um pouco diferente, podia ser melhor. 

Mas sim, também haviam as vezes em que ele não fazia ideia do que estava fazendo. E tudo bem, ele não é obrigado a saber de tudo.

— Amor, o que acha de você se mudar pro meu apartamento, hum? — Ele me pergunta, me abraçando por trás, deitados no sofá, enquanto ele massageava minha testa.

— Na-na-ni-na-não! Só depois do casamento! — Quando digo isso, sinto meu estômago se encher de borboletas — casamento — Repito a palavra com um ar feliz e incrédulo.

— A gente que não imaginava né? — Ele percebe. Eu concordei.

Lembrei-me da Susana, e de como éramos amigas, de como costumávamos ser inseparáveis. Senti como se tivesse dando uma facada em seu peito, e balanço a cabeça para afastar pensamentos negativos.

— O quê que foi dessa vez? — Lucas pergunta.

— Nada, é só que, eu lembrei da Su. Você não sente a falta dela? — Questiono. Meus olhos enchem de lágrima. Era difícil descartar alguém da sua vida que só te fez bem até hoje, que melhorou seus dias 100% quando você mais precisou. As vezes ainda sinto como se a culpa foi inteiramente minha.

— Sinto — ele me responde cabisbaixo — claro que eu sinto, mas o curso das nossas vidas tomaram rumos completamente diferentes, a Susana está feliz, está namorando, e morando em São Paulo, como sempre sonhou.

— É, eu sei. — concordei, e fui em direção a sala.

— Eu estava pensando em, sei lá, arrumar outro emprego pra mim, matinal sabe, já que eu trabalho até as 17h, acho que posso fazer algo extra. — disse, olhando para mim, que me arrumava no momento, penteava o cabelo.

— Sim, se isso fizer você se sentir bem, tudo bem... 

— Não é essa a questão — ele sorri — mas pelo menos eu arranjo mais grana pra nossa lua de mel. Eu quero te levar para algum lugar legal de verdade.

— Mas isso não seria justo — digo, o contrariando — afinal, eu também quero pagar por nossa lua de mel. — Afirmei.

— Eu não vou deixar isso acontecer, meu amor. — Disse ele, simplesmente.

Acredita?

— E por que não? — perguntei, claramente ofendida.

— Porque não.

— Seu machismo me incomoda. — respondi, indo para o quarto — além disso, seremos casados, temos que dividir as despesas e coisas assim.

— Eu não sou machista! - Lucas quase grita, mas sorri depois — Eu só quero ser romântico.

— Que milagre! — brinco, e ele me faz cócegas — Não! — grito, em meio ao riso.

— Depois da lua de mel pode preparar o bolso. Vamos precisar! — Garantiu. Foi impossível não dar outras boas risadas.

Quando paramos de gargalhar, eu ouço o despertador tocar.

— Eu estou muito atrasada! — exclamo.

— Eu ainda não acredito que você coloca alarme pra saber quando você deve sair de casa — ele fala, revirando os olhos — Só você mesmo...


A faculdade foi bem normal hoje, na verdade, diferentemente dos outros dias. Meus atuais dois melhores amigos Clara e Henrique, ficaram falando sobre como estão cansados da vida deles, com piscina, comida boa, e milhões de reais na conta. Realmente, a vida deles é muito difícil!

— Vocês não sabem do que estão falando, sério — Eu disse, com a minha cabeça apoiada nas mãos. — Peguem meus boletos!

— Claro que sabemos, nossa mãe não tá nem ai se a gente morrer amanhã. Uma vez a Clara disse que iria ir a uma balada +18 quando ela tinha apenas sete anos, sabe o que ela respondeu? — Henrique indaga — "Vá, mas não me volte grávida!" ah, fala sério, que tipo de mãe fala isso?

— Nossa, que pesado. — Afirmei.

— A gente já está acostumado. O lado bom disso é que enquanto eles não prestam atenção na gente, podemos viver nossa vida do jeito que a gente quiser, sem nenhum babá no nosso pé.

— Verdade, maninho. — Clara concordou.

— Não acha que está exagerando? — Perguntei, interessada.

— Exagero é a conta bancária dela!

Clara começa a rir, se divertindo com a situação.

— Você é engraçado, maninho — ela comenta.

Desvio meu olhar para o lado, tentando disfarçar a risada que me esforcei para não sair, Henrique era mesmo muito engraçado, mas eu não queria rir da desgraça alheia. Mas quando olho, vejo Lucas, parado, e apoiado no carro, ele também me vê e acena.

— Gente, eu já vou indo, ok? Boa sorte com a mãe de vocês, qualquer coisa, me liga! — Aviso.

— Tudo bem, Uni! — Uni foi o apelido que eles criaram para mim, uma abreviação para "universitária" — Fica na boa. — Clara diz.

— Vai lá, amiga! Vive a sua vida perfeita... — Henrique brincou e eu sorri. Queria mesmo que minha vida fosse perfeita como eles dizem.

Isso me faz pensar que a noção de felicidade que temos é muito relativa. Henrique e Clara com muito dinheiro e acham que eu sou mais feliz porque tenho minha mãe próxima a mim. Pensando bem, acho que quase nada supre isso, mas no caso deles, vale a pena procurar amor em quem tem para devolver na mesma medida.

Vou em direção ao carro, e dou um beijo em Lucas, percebo que ele parecia um pouco tenso, colocando e tirando os óculos de sol do rosto, então finalmente pude entender o motivo quando alguém sai do banco traseiro me fazendo uma baita surpresa.

— Sentiu minha falta?



O melhor amigo da minha melhor amiga 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora