Segundo Capítulo

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Shun aguardava em tocaia, até que pudesse invadir o quarto. Fazia pouco que o último homem chegara do bordel, vozes alteradas soando aqui e ali em discussões sem sentido. Tudo que precisava era que a casa estivesse em silêncio, adormecida. Assim, não haveria ninguém que pudesse impedir seu objetivo.

Matar Aomori Masahiko.

Como se conjurado por sua própria vontade, o jovem surgiu na varanda, esguio e alto como nunca. Ele havia se transformado no homem mais belo que já vira em toda sua vida. Desde pequeno, encantara-se com seu sorriso franco e aberto, os olhos brilhantes que se transformavam em pequenas meias-luas ao rir, a voz rouca, mas com um tom levemente infantil.

Sim, Shun o amava.

"Amara-o", corrigiu em seus pensamentos. Amara com uma entrega total e verdadeira como em todo primeiro amor. Suas primeiras carícias haviam sido cobertas de inocência e doçura, de um jeito que jamais compartilhara com qualquer outra pessoa.

Porém... como poderia continuar amando alguém que não o defendera? Que o deixara ser expulso de sua casa sem nenhum direito de defesa? Alguém que o deixara partir para a morte sem tentar impedir seu destino? Alguém que continuava a lutar contra ele, como se matá-lo fosse seu maior objetivo?

Foi com a certeza de que fazia o que era certo que Shun disparou a primeira flecha. Masahiko, porém, um excelente samurai, desviou de imediato completamente alerta e pronto para o embate.

Apesar do ataque surpresa, os homens que o cercavam estavam vigilantes e contra-atacaram quase imediatamente. Shun tomou a katana nas mãos e seguiu em uma linha reta, disposto a chegar até o líder enquanto os demais ainda estavam ocupados para notá-lo.

Não precisou, contudo, efetuar nenhum esforço neste sentido. Em questão de minutos, o próprio herdeiro havia chegado até ele, cruzando suas lâminas em um estalo metálico.

A cada investida, sentia-se mais levado à sua infância, a ponto de chegar a sorrir ao sentir sua lâmina romper a pele do peito alvo, rasgando a linda yukata. Ele ainda podia se lembrar dos treinos com o mais novo, seus vícios, seus pontos fracos. No entanto, no momento que seus olhos se encontraram, ele perdeu o equilíbrio. Masahiko usou aquele momento para pressionar a katana em seu pescoço.

— Shun... — o sussurro era quase um gemido, como os muitos que haviam trocado em suas noites em claro.

Ele tentou lutar para libertar-se, mas Masahiko sentou-se sobre ele, aproximando-se como se precisasse ter certeza do que acontecia.

Ao seu redor, as lâminas soavam agudas. Naquele momento, porém, era como se apenas os dois existissem em todo o mundo.

— Por quê? — perguntou o nobre. — O que pretendia? Matar-me?

Shun sorriu desafiador.

— Por que não? E por que hesita? Não parece ter a mesma piedade com seu próprio povo!

Masahiko suspirou, olhando ao redor. Acompanhando o olhar do outro, Shun percebeu que o som da batalha diminuía e que seu pequeno exército não obtivera êxito. Talvez, devesse ter ouvido o conselho de Jin e deixado que o embate ocorresse naturalmente com todo exército a seu lado. Não em uma emboscada como aquela com alguém de sensibilidade tão aguçada quanto a do inimigo.

— Por que insistem em tornar isso pior do que deve ser? — perguntou o filho de Aomori, desviando sua atenção do cenário de guerra. — Dispus-me a vir a esta cidade para solucionar o conflito pacificamente. Por que precisavam interferir?

— Por que está lamentando? — gritou, lutando contra as emoções que ameaçavam sufocá-lo. — Enfie logo essa lâmina em minha garganta! Acabe logo com isso!

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