O seu estilo é simples e condescendente com o seu jeito. Anda sempre com o cabelo preso num rabo de cavalo, é difícil vê-la de cabelo solto ou usando maquiagem, usa também uma daquelas saias de avó até o calcanhar e um par de sapatos sem graça, tudo muito bem conservador. E quem tentasse comentar com ela sobre isso receberia a mesma resposta: "Deus me deixou no mundo exatamente do jeito que sou, e permanecerei assim, até o final". Diria que ela é a típica garota careta. E por ter uma mania estranha de perambular para lá e para cá com uma bíblia, acaba afastando as pessoas, ou melhor dizendo, as pessoas da nossa idade, os jovens modernos e rebeldes, como eu. Menos os mais velhos, são os que mais a adoram e a apontam como um verdadeiro anjo enviado por Deus e uma completa abençoada por ter uma alma caridosa capaz de ajudar qualquer um que esteja necessitando de assistência ou simplesmente de ajuda para atravessar a rua e carregar compras.

Aos poucos fui reparando na maneira que se comportava quando eu a encarava por determinados minutos, expressava timidez, mesmo não sendo nada tímida. Não que eu esteja admirando sua pouca beleza, mas sem dúvidas, dentre todas as mulheres do coral, ela consegue ser o único destaque. Seu olhar trombou com o meu e ela corou. Chega a ser engraçado a maneira que consigo deixa-la. Quando ela terminou o seu refrão, o grupo voltou a cantar "Grande é Sua Fidelidade" em conjunto. No final da canção, todos bateram palmas com vontade e expressavam através de sorrisos o quanto tinham adorado, logo em seguida se sentaram em seus lugares. Diferente de todos, fingi entusiasmo batendo palmas fracamente. Se todos notassem, perceberiam que eu não estava nada animado com a tão adorada admiração deles.

— Aleluia! Este é o nosso maravilhoso coral. — o reverendo fechou o punho e balançou com convicção e felicidade. — Eu li em Isaías 33 essa manhã o seguinte — começou a andar de um lado para o outro. — O senhor será a estabilidade de seus tempos, a riqueza da salvação, sabedoria e conhecimento. E sabem o que acho? Eu acho que é do senso que todos têm, mas o senhor sempre será a estabilidade dessa igreja e nós iremos emergir mais forças. Agarremos nossas forças e juntos lutaremos pela nossa glória!

— Aleluia, senhor. Em ti confiarei! — minha mãe proferiu, toda alegre.

— Que droga. —reclamei baixinho, voltando a cruzar os braços e ficar emburrado.

Passei a mão pela testa impaciente, observando todos os pequenos detalhes da igreja. O reverendo disse algumas palavras antes de finalizar e deu o veredito final, convidando todos para o próximo culto. Fiquei animado e agradeci muito por ter acabado, já não aguentava mais ficar sentado ali e ouvir alguém como o reverendo falar durante horas. Como alguém conseguia suportar e ficar sossegado? Todos saíram ordenadamente das fileiras de cadeiras para cumprimentar Maya e elogiá-la como de costume, e lá estava ela, com um sorriso acolhedor no rosto agradecendo a todos. É uma pena essa sua genuinidade, se torna uma porta aberta para brincadeiras de mal gosto por parte dos outros.

— Venha Justin. Vamos cumprimentar o reverendo Caster. — minha mãe me puxou pela mão do meio da multidão para subirmos até o altar onde estavam Maya e o reverendo.

O grupo do coral deixou o altar para se reunirem e fazerem uma oração antes de se despedirem um dos outros, incluindo Maya, que correu para participar. Depois retiraram suas becas e penduraram nos braços. Diferente das outras vezes, por baixo da beca, Maya usava uma calça jeans fora de seu costume, um all star extremamente limpo e o mesmo suéter vermelho de sempre, e sou obrigado a confessar que os jeans lhe caíram muito bem. Reparei tanto que mal percebi a sua aproximação repentina para perto da rodinha que formava minha mãe, o reverendo e eu.

— Olá, Sra. Mallette. Fico feliz em vê-la por aqui. O culto foi ótimo, não? — Maya sorriu para ela. O reverendo beijou sua testa, completamente orgulhoso.

A Filha do ReverendoWhere stories live. Discover now