Os pais estragam os filhos.

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Meu pai é um dos que acham que psicólogo, psiquiatra, são coisas de louco, mas eu vejo que quem mais precisa de ajuda aqui nessa casa é ele próprio e vejo que ele não está pronto para assumir que tem problemas.
Eu comecei com psicóloga para conseguir aturar ele. Ele é casca grossa e faz chantagem emocional, essas coisas. É um marmanjo, digamos. É indelicado sabe? Grosso.
Eu já não estava mais aguentando, então implorei para a minha mãe me levar a uma psicóloga, que no começo não apoiava mas me levou. Agora ela entende. Meu pai ainda não, como já era de se esperar, ele fica falando que eu não preciso dessas coisas, que eu estou bem.
Ele acha que ter tudo o que quer é estar bem. É porque eu sou um pouco mimada e tenho bastante coisas do que eu quero. Ele acha que por isso eu estou bem, como se o meu emocional não existisse.

Minha psicóloga me deu soluções para eu aprender a lidar com ele.
Porque o jeito dele não irá mudar, então eu tive que me adaptar a ele, já que ele se recusa a se tratar.

Antes eu respondia, ficava com raiva do que ele falava e ia lá e me cortava. Eu me culpava por tudo.
Sim, eu me cortava e é a primeira vez que eu admito isso em "publico".
Agora eu ainda fico com raiva do que ele fala, mas eu me controlo, eu converso comigo mesma e digo: "Aline, a culpa não é sua."
É claro que se eu faço algo eu reconheço que a culpa foi minha.
Mas no caso do meu pai, que quem faz merda toda é ele, então eu nem me culpo mais.
Não faz sentido.

Então, mas como eu dizia... Meu jeito de lidar com ele é o seguinte: Antes eu respondia, ficava contra a ele nas discussões e sempre excluía ele.
Agora eu percebi que tudo o que ele mais precisa é de apoio, é de alguém do seu lado. Não apenas com abraços e beijinhos.
Por exemplo, quando ele faz uma comida que eu não gosto, antes eu reclamava, mas agora eu elogio, eu falo que está gostoso, para ele não se sentir inútil, para ele sentir que o trabalho dele valeu a pena e agradou, para motiva-lo.

Antes eu respondia ele, agora eu fico quieta. Ele fica falando e falando eu fico ligando ligando o meu "foda-se".
É claro que quando se trata de conselhos da vida ou me chingando por algo errado que eu fiz eu escuto porque eu mereço, mas quase sempre é porque eu não entendo matemática, é por causa de psicóloga e blá blá blá. Não faz sentido ele ficar brigando por isso, mas o que eu posso fazer?
Ficar quieta, escutar por um ouvido e soltar pelo outro. É isso o que eu posso fazer.

Se eu ficar com raiva, venho para o meu quarto e em vez de me machucar, soco o travesseiro várias e várias vezes imaginando ser quem eu estou com raiva, até passar.

Agora, quando eu vou oferecer água para a minha mãe, ofereço para ele também.
Antes era só para ela. Mas depois que eu vi que tudo o que ele precisava era ser incluso, o inclui.
Faço as coisas para os dois, igualmente.

Ele melhorou um pouco seu jeito chato depois que se sentiu incluso.

É claro que ainda continua um inferno, mas melhorou do que era antes e isso é bom, é um pequeno progresso.

Minha mãe, sempre foi um amor de pessoa, mas ela sempre trabalhou a vida toda todos os dias.

Uma parte da minha deprimencia foi porque minha tia que eu amava mais que tudo morreu quando eu era pequena, minha mãe trabalhava e meu pai também. Eu me sentia e ainda me sinto sozinha.
Só que agora eu não ligo para a presença do meu pai. Eu me sinto sozinha pela minha mãe não estar comigo.
E o pior é que meu pai não trabalha e fica aqui infernizando minha vida.

Minha tia vinha todos os dias, isso era um alivio porque quando ela ficava aqui, ele ficava na casa do fundo.
Mas agora o marido dela teve um infarto e ela vai ter que ficar em casa cuidando dele, de sua saúde e alimentação e é agora que eu vejo minha vida parando de fazer sentido sem ela.
Quero muito chorar agora.
Com ela aqui, minha vida era ótima.
Agora que eu estou maior, não sinto falta do meu pai. Preferia que ele fosse embora. Preferia viver só com minha mãe. Mas como sei que não vai ser possível porque minha mãe tem dó, vou ter que ficar lidando com o jeito dele.

Ás vezes, as pessoas só precisam de um pouco de apoio para melhorar. E é isso que eu estou tentando fazer, apoiar.

É como dizem por ai, os pais realmente estragam os filhos... Digo por experiência própria, afinal, eu fui "estragada" pelo meu pai.
Sinto raiva, muita raiva dele, mas não vou dizer que não tivemos momentos bons porque isso não é verdade.
Tivemos, mesmo sendo mínimos.

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