Capítulo Dezessete

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Me viro novamente. Nem contei quantos pontos eram. Cinco? Seis? Quatro? Dois? Minha mente se embaralhara completamente.

Saio do meio das árvores e percebo que estou em uma trilha que vai para a esquerda e para a direita. Se continuarmos segundo reto, iremos para o meio de outras milhões de árvores em uma descida bem inclinada

Vejo alguns vultos continuarem reto, seguindo em direção a descida. Eu apenas sigo os vultos, identificando-os como meus amigos, já que não estão atirando em mim.

Nos meus dois primeiros passos, meus joelhos quase dobram e eu quase caio, rolando a descida inteira. Passo por diversas árvores. Ouço disparos perto de mim. Meu coração quase explode. Sinto a adrenalina percorrer meu sangue.

Uma bala atinge outra árvore a poucos centímetros de mim. Os pedaços da árvore cortam meu rosto. Sinto uma dor ardente, que se passa segundos depois.

Não paro de correr. Meus pulmões ardem e imploram por ar. Eu começo a seguir outra direção, totalmente perdida e sem rumo. Balas passam zunindo diversas vezes por mim.

Sinto um tiro atingir minha perna. Uma enorme dor me atinge. Eu não consigo ficar de pé.

Caio e rolo no meio das folhas mortas e dos galhos caídos. Sinto uma dor gigantesca na perna. Provavelmente, a bala atingiu meu osso e o quebrou.

Sinto diversos cortes na pele por causa dos galhos no chão. Meu corpo só para quando se choca contra uma árvore.

Grito de dor. Por um momento, penso que vou desmaiar de tanta dor que sinto. Meus pulmões ardem como nunca.

Sinto a dor de minha perna começar a passar aos poucos. Tento me levantar, mas uma fraqueza nos meus braços me faz cair.

Olho para o alto do barranco que acabei de rolar e vejo duas luzes chegando. Um soldado me levanta, puxando meu rabo de cavalo, enquanto o outro tira uma seringa de um dos compartimentos em seu cinto.

Pego o braço do homem que puxa meu rabo de cavalo e o giro com toda a força. O homem grita de dor e me solta. O puxo para perto e quando o outro soldado vai enfiar sua seringa em mim, acaba acertando seu companheiro. Empurro o soldado que eu usei como escudo humano para longe e ele cai sozinho. Agarro a mão do outro soldado e o puxo. Ajoelho diversas vezes sua barriga e enfio uma flecha em suas costas com toda minha força.

Sinto uma enorme agonia ao sentir minha flecha perfurar sua pele e entrar profundamente em seu corpo. Rapidamente solto minha flecha dentro do soldado e o empurro para longe.

Vejo seu corpo cair no chão e rolar o resto do barranco, deixando seu fuzil para trás. Agarro a arma dele no chão e corro em disparada até o final da descida, chegando em outra trilha.

Meu coração está completamente acelerado. Olho para os lados e não acho meus amigos. Não sei mais o que fazer.

Ouço disparos vindos lá de cima do barranco. Me viro e tento procurar algum sinal de vida. Meu desespero me deixa totalmente desconcentrada.

Vejo uma luz descendo o barranco correndo. Um soldado. Ele aponta sua arma para mim. Rapidamente, levanto meu fuzil e seguro o gatilho fortemente. vários tiros saem seguidos de minha arma. Vejo o corpo do soldado rolar pela descida, sem vida.

Então, vejo diversas luzes aparecerem. Não perco tempo disparando em cada uma delas. Eu corro para longe delas.

Sinto a energia sendo gasta do meu corpo. Ainda sinto um pouco de dor por causa do tiro na perna, mas já estou curada.

Não paro de pensar onde estão os outros. Meu pulmão arde cada vez que meus pés tocam o chão.

A trilha segue em uma descida. Eu tenho que tomar cuidado para não escorregar e cair rolando de novo.

Quando a descida acaba, eu passo perto de um pequeno lago cheio de peixes mortos. Talvez os peixes não consigam resistir ao vírus.

Meus pés doem tanto, que sou obrigada a diminuir a velocidade. Olho para trás e percebo que deixei os soldados bem longe de mim. Não consigo mais os ver. Isso é bom. Mas ao mesmo tempo, é ruim. Onde estão os outros? E se eles foram atrás dos outros?

Preciso encontrá-los.

Fico algum tempo parada, para recarregar minhas forças. Respiro diversas vezes pela boca. Tento recuperar o máximo de ar possível. Tento me recuperar ao máximo. São segundos de descanso para minutos de corrida.

Então, eu começo a correr na direção que acabei de fugir.

O suor pinga de meu corpo e cai contra o chão. Não aguento mais ter que fugir. Ouço tiros ficarem cada vez mais distantes.

Quando eu chego perto do barranco novamente, vejo alguns movimentos lá de cima. Ainda há soldados descendo.

Miro minha arma para eles e disparo. Balas passam zunindo perto de mim. Atinjo um dos soldados e vejo sua silhueta rolar barranco abaixo. Não paro de correr, assim minha mira fica ruim, mas a mira deles também.

A escuridão me ajuda em me deixar invisível na visão deles, e isso faz com que eles errem todos os tiros que dão.

Ouço um grito de longe. Meu coração congela por segundos. Reconheço a voz de Demi. Foi ela quem gritou.

Minhas mãos tremem tanto, que não consigo mais estabilizar a arma na mão.

Vejo duas coisas pretas voarem em minha direção. Elas explodem no ar, levantando uma enorme nuvem de fumaça cinza.

Entro no meio da fumaceira e acabo ficando cega. Não paro de correr. Sigo na mesma direção.

Inalo a fumaça e sinto uma forte ardência nas narinas e no pulmão. Preciso me esconder.

De repente, colido contra uma parede de tijolos. Balanço a cabeça, tossindo. Tateio a parede até encontrar uma porta de metal. Atravesso a porta correndo e a fecho com tudo.

Uma enorme ardência atinge meus olhos, provavelmente uma reação atrasada da fumaça. Tossindo, eu me ajoelho no chão e jogo minha arma para longe. Coloco as mãos no rosto. Sinto lágrimas escorrerem do meu olho. Sinto medo. Sinto fúria.

Onde os outros estão? Será que estão bem?

Isso é culpa minha. A LPB está atrás de mim. Eles não vão parar de nos perseguir até eu me entregar. Eu preciso me entregar para tudo isso parar. Preciso ser capturada.

Respiro fundo, agora que meu pulmão não arde mais. Abro os olhos.

Analiso o local. O piso está todo sujo e grudento. Tem cadeiras jogadas no chão. Vejo uma televisão na parede. Provavelmente aqui era algum lugar onde os guardas deveriam ficar.

De repente, a lâmpada — que está pendurada por fios — acende. Levo um susto.

Energia? Como?

Então, a televisão liga. E eu vejo um rosto nada agradável. Um rosto no qual quero deforma-lo. Sinto vontade de entrar na tela da televisão e soca-lo.

Fecho os punhos com muita força. Cerro os dentes tão forte, que os sinto doer.

— Olá, Claire — diz Max.

Escolhida || Livro 2 da Trilogia SinistraOnde histórias criam vida. Descubra agora