should

4.8K 436 198
                                    

No começo, Anne, a mãe de Harry ficou muito preocupada, pois ele nunca queria ser o príncipe ou o rei, só gostava de ser bruxa, fada e até princesa. Mas a professora do Harry dizia que não tinha problema.

- Não faz mal, é da idade, com o tempo isso passa. Deixe-o ser o que quiser.
Aí ela deixava, mas ainda ficava um pouco preocupada. O pai não queria saber daquela história.
- Onde já se viu menino vestido de bruxa?

Teve um dia em que Harry acordou com uma vontade enorme de brincar de ser de verdade.
- Como assim, Harry?
- Mãe, eu quero ser uma menina!
- Que é isso, meu filho? Você tá maluco?
- Não, mãe, é verdade, eu queria mesmo.
Anne dessa vez achou que era demais.
- Tudo culpa dessa professora que fica incentivando essas coisas - pensava ela.
- Seu pai nem pode saber de uma coisa dessas, viu?
- Mas, mãe, por que eu não posso ser menina? Você não é?
- Mas eu nasci assim; você não, você nasceu como o seu pai.
Harry nem ouviu direito, entrou no quarto de Anne e ficou lá.
Anne, muito preocupada, resolveu ligar para uma amiga:
- Esse médico é bom mesmo?
A amiga aconselhou-a a levar o menino ao médico, o doutor James, psicólogo. Ele era muito bom.
- Vamos, Hazzy, você precisa de um médico.
- Mas eu não estou doente, mãe!

O doutor James colocou um monte de brinquedos para ele brincar enquanto conversavam. Anne esperava, ansiosa, do lado de fora. Apesar de insistir muito, o Dr. não a deixou ficar dentro da sala.
- Harry, qual é a sua brincadeira preferida?
- Gosto de brincar de ser.
- Brincar de ser? Será que eu conheço essa brincadeira? Você pode me explicar como é?
- É assim: quando a gente brinca, a gente inventa que é outra coisa; quando eu vejo um desenho, eu brinco de ser aquele personagem mais legal do desenho.
- Quais os personagens que você acha mais legais?
- Gosto de um monte: quando eu vejo o desenho do Robin Hood, eu brinco de ser ele; quando eu vejo o da Bela Adormecida, eu brinco de ser a bruxa, eu gosto muito de ser bruxa! Quando eu vejo o do Peter Pan eu fico sendo ele. Lá na minha escola tem o DVD do Peter Pan, aí eu e o Niall brincamos de ser os personagens da Terra do Nunca... Se eu pudesse voar igual o Peter Pan, eu iria embora para Terra do Nunca. Você conhece a Terra do Nunca?
- Conheço, e na sua idade eu vivia indo pra lá.
- Como? Você não sabe voar!
- Do mesmo jeito que você faz: brincando de ser!

No final da consulta, ele disse que não achou nada de errado no Harry, muito pelo contrário, disse que ele era um menino muito inteligente e sensível.
Anne não gostou nadinha desse médico. Ligou para outra amiga, que aconselhou o Doutor Jared, psiquiatra.
- Vamos, Harry, você precisa de um médico.
- Mas, mãe, eu não estou doente!
O doutor Jared fez um monte de perguntas ao Harry e chegou a seguinte conclusão:
- Mãe, seu filho não tem nada. Isso é normal na idade dele.
Anne também não gostou muito desse médico.

Um dia, Harry estava com um vestido de sua mãe, um sapato de sua tia e uns brincos que sua avó havia esquecido em sua casa. Brincava, distraído, com o espelho de seu quarto, quando seu pai abriu a porta.

- Que negócio é esse? Você é mulherzinha?

Os olhos de Harry se encheram de lágrimas, ele não gostava que ninguém o chamasse assim. Outro dia, na escola, Louis, um menino que gostava de bater em todo mundo, chamou-o assim.- Olha lá a mulherzinha - gritou, bem no meio do pátio. Um monte de gente ficou rindo dele...

- Ande, vá tirar essa roupa ridícula!

Anne veio correndo.

- O médico disse que tem que deixar. Ele disse que isso passa.

- Médico? Que negócio é esse de médico?

- Sente aqui que eu lhe conto... - Des fez uma cara emburrada e Anne começou. - Por causa dessas brincadeiras, resolvi levar Harry ao médico, pra ver se ele tinha algum problema. Ele disse que queria ser menina.

- Eu não falei que você estragava esse menino com cuidado demais? Tá vendo só? Agora ele quer ser menina! Meu Deus! Em que médico você o levou? O médico passou algum remédio? Recomendou algum tratamento?

- Não, ele disse que o Harry não tinha nada, que nessa idade isso é normal. Aliás, eu o levei em dois médicos e os dois disseram a mesma coisa.

- Normal? Eu já tive seis anos e nunca me vesti de mulher. Meu pai não deixava a gente nem chegar perto das bonecas da minha irmã!
Anne suspirou.

- Amanhã vou matricular o Harry na escolinha de futebol do clube, ele está precisando praticar esportes. - Anne não falou nada. - Harry, vá colocar uma roupa decente que nós vamos sair, vou comprar uma bola pra você. Você está precisando é de brinquedos de homem. Sua mãe fica comprando essas bobagens de fantasias, de joguinhos. Chega dessas coisas! Vamos logo!

Harry ficou apavorado, ele jamais gostou de futebol nem sabia jogar bola direito. Achava muito chato.

Os dois entraram em uma loja de artigos esportivos e Des foi logo dizendo:

- Escolha uma dessas bolas, olhe só como são boas!

Harry tinha visto, por trás de todas aquelas bolas que ele achou horrorosas, uma toda colorida. Queria levar aquela.

- Pai, pode ser aquela?

- Você não entende mesmo nada de futebol, hein? Não tá vendo que aquela bola ali é só de decoração?

Des ficou desolado. Seu único filho, já com seis anos, nem sabia o que era uma bola de futebol. Os filhos de todos os seus amigos jogavam bola.

Comprou uma bola de futebol de salão e o uniforme completo do clube.

- Agora, vamos pra casa. Amanhã vou matriculá-lo na escolinha de futebol.

- Pai, eu não gosto de futebol.

- Não tem problema, você aprende a gostar.

Naquele final de semana, Des decidiu que iria chamar uns amigos seus para almoçar em sua casa. Chamaria o Justin, ele tem dois filhos mais ou menos da idade de Harry, e os dois faziam futebol no clube.
Em casa, Des foi logo avisando a Anne.

- Esse final de semana, o Justin vem aqui com os filhos. Harry está precisando de outras amizades. Acho que deveríamos trocá-lo de escola.


Play At Being | larryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora