— Certo — digo. — Estou um pouco mais receptiva agora.

— Bem, Thief, temos motivos para crer que a radiação te afetou geneticamente de maneiras diferentes.

Ergo uma sobrancelha.

— Todos estão afetados pela radiação. Houve uma época em que não haviam alguns humanos rápidos como carros, não é?

— Sim. Esse é um dos efeitos que a radiação deixou em alguns dos descendentes dos que tiveram contato com ela. Mas essa é uma característica que só existe em alguns dos humanos. Por outro lado, quando todos nós chegamos aos 45 anos, você sabe o que acontece, não sabe?

— Os órgãos da pessoa entram em falência e ela morre aos poucos — falo, com a voz esganiçada.

— Sim, Thief. E sabemos que não há como parar isso.

— Sorte tem aqueles que chegam aos 45, que resistem à fome, à sede e a falta de medicamentos a preço acessível — disparo.

Ela morde o lábio, abaixando um pouco a cabeça.

— Thief... — ela diz levemente, e eu explodo. Encaro a ruiva com ódio.

— Meu nome é Anippe. Pare de me chamar de Thief. E, afinal, o que você quer comigo aqui?

Mederi deposita a estatueta na mesa ao meu lado.

— Quero te convocar para uma missão, em nome da OCRV.

Euzinha, Anippe Mahlab, linda, loira e ladra, embarcar numa missão em nome de uma Organização que eu detesto desde sempre?

Ah tá. Que piada.

— Estou desinclinada a aquiescer à sua solicitação. Tradução: não.

A mulher me olha de viés, e se abaixa na minha frente, como se fosse argumentar com uma criança teimosa.

— Mencionei que você não tem alternativa? — Mederi passa a mão pelos cachos dos meus cabelos. — A não ser, é claro, que você não esteja desinclinada a aquiescer à sua morte. Sabe a pena para quem rouba.

Minha respiração fica acelerada. Que raiva dessa mulher. Olho para baixo, como se ela tivesse me vencido. Murmuro:

— Falando com carinho assim...

Ela sorri satisfeita. Rapidamente, pego a estatueta na mesa e dou uma pancada na cabeça dela.

— Ruiva falsa maluca — cuspo.

Ela cai desmaiada, e vasculho seus bolsos procurando a chave dessa sala. Vejo que a fechadura é leitora de digitais, assim, arrasto-a até a porta e pressiono sua mão contra o leitor.

A porta se abre, revelando um corredor vazio. Quais são as minhas chances de correr para fora sem que ninguém me veja? Desejo com todas as minhas forças ser invisível.

Entro em choque quando olho para baixo e vejo que meu corpo desapareceu.

Meu Deus! Há quanto tempo sei fazer isso? Era disso que Mederi falava, da radiação me afetar de maneiras diferentes?

Bem, não importa. Deixo o choque de lado, e me ponho a correr.

Corro pelos corredores, sem rumo. Não consigo encontrar nenhuma escada, nenhum elevador, nenhuma porta, nada. Por duas vezes, reapareço no meu terrível traje marrom, mas com muita concentração consigo voltar à invisibilidade.

Finalmente, encontro uma porta.

Atrás da porta de vidro, vejo uma garota esguia sentada num canto, encolhida como se estivesse se defendendo de um adversário invisível. As ondas escuras dos seus cabelos caem sobre seu corpo, e formam uma capa ao redor dela, contrastando com a cor morena clara de sua pele. Ela está numa espécie de cela azul. Resolvo não incomodá-la — seja lá o que ela esteja fazendo aqui, não é problema meu.

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