Capítulo III

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— Olá — falo, e ela fica confusa, procurando de onde veio a voz. — Estou aqui do outro lado do espelho que está aí.

— Me tira daqui, por favor — ela implora.

— Se afasta do espelho.

Ok. Vou fazer isso de novo. Espero que eu consiga.

Me encosto no vidro e de repente estou lá dentro. Vejo ela surpresa com o que viu.

— Gostou? Não sei como fiz isso, mas fugi da minha cela do mesmo jeito que entrei aqui. Tudo bem com você? — pergunto timidamente, e ela balança a cabeça em negativa.

— Não estou bem, estou presa feito um animal em um zoológico. Não gosto disso. Já passei a vida inteira assim naquele orfanato, não aceitei vir com aqueles caras para fazerem isso comigo — ela fala, num tom irritado. — Não sabia que eles me colocariam em uma cela.

— Um orfanato? — fico surpreso com o que ela fala. — Não sabia que em San Diego existiam orfanatos.

— Sim. Um orfanato. Onde crianças sem pais ficam até alguém adotá-los.

— Pensei que não existissem mais. Logo após aquela guerra de 100 anos atrás, não existem mais pelos Estados Unidos. Foram destruídos. Eles dizem que um país vencedor da 3ª Guerra Mundial não pode ter aquilo e as pessoas não podem mais simplesmente abandonar seus filhos porque não podem criá-los. Ou criam ou são mortos juntos com eles. Os Estados Unidos ainda continua sendo o país mais rico do mundo, principalmente após ganhar a Guerra — explico a ela. — Meu professor falou isso no ano passado.

— Espera aí. Estados Unidos? Mas estamos no Brasil, não? — indaga ela, surpresa.

— Brasil? — Bem que desconfiei do seu sotaque, é tão diferente das pessoas da minha cidade. Daí me surge uma dúvida: posso simplesmente não estar nos Estados Unidos. Talvez esteja em qualquer país por aí. Não se pode visitar os outros países. É proibido. A guerra mudou tudo. O estilo de vida de todos. — Devemos estar em outro lugar, provavelmente.

— Que tipo de lugar você acha que estamos? — pergunta ela, confusa.

— Não sei. Provavelmente num lugar bem longe de onde viemos.

Ela concorda e ficamos em silêncio por uns 30 segundos, até que resolvo quebrá-lo.

— Qual o seu nome mesmo?

— Sophia, e o seu? — responde gentilmente. Até estranho.

— Que nome bonito, Sophia. Me chamo Bernard.

Ela parece gostar do meu nome. Fico feliz.

Sophia Medeiros

Foi aterrorizante. Ver aquele cara desmaiando na minha frente e as pessoas carregando-o para fora não foi o melhor momento.

Então não estou mais no Brasil e nem nos Estados Unidos. Quero saber onde estou.

— Voltem aqui! — gritei, em vão.

Mas que droga. Quando aqueles homens do governo apareceram no orfanato, dizendo que precisavam da minha ajuda, vi a oportunidade perfeita para sair de lá e descobrir mais sobre meu passado, afinal, é o governo, devem ter dados de todos, inclusive dos meus pais. Só não achei que iriam me dopar e me prender.

Acordei nesse lugar que parece uma cela. Poderia ter investigado o local, mas isso pouco me importa. Gritei o mais alto que pude e meus gritos serviram para algo. Conheci um garoto que também estava preso, o Bernard. Alto, loiro, bonito. Não que eu conheça muitos garotos, mas ele parece estar nos padrões de beleza e parecia ser muito gentil e legal. Talvez eu possa confiar nele. Ele estava tão confuso quanto eu nesse lugar. Quando ele atravessou minha cela foi bizarro. Fiquei perplexa e ele me disse que descobriu isso hoje.

— Está com fome? — ele perguntou mexendo em seu bolso, como se estivesse procurando algo.

Não tinha pensado nisso até aquele momento e, com certeza, estava faminta.

— Sim, muita fome. — respondi, e ele tirou um pacote de chips do seu bolso e me entregou.

Eu não deveria comer. Não sei de onde aquilo veio, mas estava morrendo de fome, e acabei com o pacote.

Bernard ia dizer algo, quando três homens altos e fortes entram na cela.

Um deles foi para cima do garoto, que tentou se defender, mas logo foi detido. Tentei ajudá-lo, mas fui impedida pelo segundo. O terceiro aplicou algo no pescoço de Bernard, que apagou na hora. Me soltaram e o levaram.

Agora estou aqui, sozinha, de novo.

Meus pensamentos são interrompidos pelo movimento da porta da cela, que se abre novamente, e um homem elegante com uma cara nada amigável entra.

— Me siga, Sophia.

É só o que ele diz. Vou atrás dele, pois não tenho opção.

Ele não diz uma palavra, nem sequer olha para trás. Eu poderia fugir, se não fossem os três guardas me cercando.

Sou empurrada para dentro de um carro preto. O homem senta na frente e diz algo ao motorista, o qual me lança um olhar rápido pelo retrovisor, como se eu fosse um tipo de extraterreste, mas logo desvia o olhar e liga o carro, me levando para mais um lugar desconhecido.

InfectedWo Geschichten leben. Entdecke jetzt