As pessoas do Nilue devem vir testemunhar o que acontece com aqueles que matam homens do Rei.

Era um dia quente, bonito, mas ninguém ao meu redor parecia perceber isto. Todos sabíamos o que aquilo significava. Era a resposta do Rei para o que eu tinha feito na noite passada. Havia resgatado duas gangues, mas uma ficara para trás. Agora eles pagariam.

Uma grande fogueira tinha sido construída durante a manhã, e seis postes igualmente espaçados estavam no meio dela. Lentamente, a Guarda Real levou os membros da última gangue através da praça e os amarrou, dois em cada poste. Apenas as pessoas do Nilue assistiam, os poucos que moravam naquela região de Delarna tinham se trancado dentro das casas.

Eu deveria ter tentado achar outro jeito de libertar o pessoal. Senhora da Noite, não deveria ter pedido para as sombras matarem os guardas. Não deveria ter roubado os escudos e a adaga. Mas ninguém podia voltar no tempo, então o mínimo que eu podia fazer era assistir.

- Não havia outro jeito. - Selir murmurou, ao meu lado.

- Deveríamos ter feito outro jeito. - respondi, me forçando a continuar observando enquanto os guardas conferiam as amarras.

- Não havia como. - ele repetiu, segurando minha mão e esperando até que me virasse para encará-lo. - Eu os encontrei. Estavam acorrentados, sendo levados para as casernas. Poderia ter colocado os guardas para dormir e os libertado.

- Por que não fez isso? - perguntei suavemente, encontrando seus olhos.

- Porque não teria forças para manter as ilusões perto da muralha, nem para proteger qualquer um que você resgatasse. E então senti as sombras se erguendo, mais profundas, se apressando na direção de alguma coisa. Eu os deixei, pensando que poderíamos voltar hoje à noite e os libertar.

Engoli em seco, sem saber o que dizer. Seu olhar prendeu o meu, e forcei as palavras a passarem pela minha garganta.

- Kihamari estava certa. Eu não devia ter roubado do Rei. - Eu não devia ter roubado os escudos. - Isto começou porque eu não pensei no que estava fazendo.

- Talvez. Mas a mesma coisa que fez o Rei construir uma fogueira te transformou em uma heroína no Nilue. - ele ergueu uma sobrancelha antes de soltar minha mão.

- Não sou nenhuma heroína.

E ele não teve tempo de falar mais nada, porque a fogueira foi acesa.

Nos viramos para assistir. Ninguém do Nilue desviou o olhar quando os gritos começaram... Ou quando eles pararam.

***

- Kihamari está esperando vocês dois.

Me virei ao ouvir a voz rouca e encarei o rosto destruído de Khavi. Ela tinha sido uma bruxa poderosa até dois anos atrás, quando perdeu o controle do seu poder e ele devastou seu corpo e quase a matou. Agora ela servia a qualquer bruxa ou bruxo que requisitasse seus serviços, mesmo que não pudesse fazer mais que alguns feitiços simples na maioria das vezes.

- Tamisa? - Cor chamou, seus olhos indo para a bruxa, preocupados.

- Você e Asselya podem ir na frente. - balancei a cabeça para garantir que ele entenderia que não valia a pena comprar uma briga com Khavi e Kihamari agora. - Vocês dois têm trabalho esperando.

Eles assentiram e se afastaram seguindo o fluxo da multidão que se afastava da muralha. Não era exatamente verdade, Asselya tinha trabalho, e Cor não sabia o suficiente sobre cura para ajudá-la. Mas ele poderia ajudar a evitar que o pânico se espalhasse.

Nilue (Degustação)Where stories live. Discover now