— Vai dar tudo certo. Os golfinhos te amam! E você é ótima como sereia!

— Obrigada. – sorri, envergonhada.

— Quem diria... De tanto falar e pesquisar sobre isso, acabou arrumando um emprego para ser uma!

— E eu tive ainda mais inveja das sereias depois disso! Tem ideia do quanto é legal nadar com aquela cauda? Isso que a minha é apenas uma fantasia... Agora imagina ter uma de verdade!

— Lynn, você sabe que sereias não existem, não é? – ele me olhou, apreensivo.

— Existem sim. Como você explica o garoto que me salvou há quatro anos atrás, no meu aniversário de quinze anos?

— Lá vamos nós... – Armin revirou os olhos – Ele não era um "sereio", Lynn. E isso foi há quatro anos! Não acha que já deveria ter esquecido?

— Se isso tivesse acontecido com você, tenho certeza que não esqueceria tão fácil. – rebati.

— E você acha que eu me esqueci? Foi horrível a sensação de não te encontrar no barco, de andar e olhar para todos os lados e só ver ondas e mais ondas, sem nenhum sinal seu. Você não faz ideia do quanto fiquei feliz quando te vi e te trouxemos de volta. – ele me abraçou de lado, beijando o topo da minha cabeça – Desde aquele dia, sempre me preocupo quando você resolve entrar no mar.

— Eu sei. Mas fiz aulas de natação e agora sei nadar até melhor que você! – falei, dando um soco de leve em seu ombro.

— Sim, sim... Claro que sabe, "baixinha". – disse ele, ironicamente, agora que estava muito maior no quesito altura – Vou trabalhar, os pinguins e os leões marinhos estão esperando por mim. Nos vemos no almoço?

— Claro. Até depois! – ele sorriu, despedindo-se.

Sempre que podia, Armin se vingava por todas as vezes em que o chamei de "baixinho". Quatro anos se passaram e foi o suficiente para ele crescer e mudar bastante. O garoto gamer que era menor do que eu, agora era 15cm mais alto. Seu corpo que antes era magro, agora tinha músculos firmes e fortes. Ele não fazia o tipo "maromba" de academia, mas estava perfeitamente em forma. Os cabelos negros, lisos e sempre desajeitados, eram seu charme. Mas o que tornava-o realmente lindo, eram seus olhos azuis, tão claros quanto as águas das piscinas do Aquário.

Eu tive uma pequena queda por ele aos 17 anos, nosso último ano na escola. Mantive esse fato em segredo até hoje, pois Iris também começou a gostar dele nessa época. Ela teve coragem, se declarou e o beijou no baile de formatura. Ver aquilo me magoou muito, então percebi que, Armin e eu deveríamos ser apenas melhores amigos. Iris ele estão juntos até hoje, mas nos últimos meses, vivem brigando como cão e gato. Ela quer ir para uma faculdade nos Estados Unidos e está tentando convencê-lo a ir junto, mas Armin não tem interesse nisso. Ele quer continuar aqui e estudar em Sydney. E eu? Bem, estou realmente feliz por ele ter escolhido ficar aqui. É difícil imaginar como seria não ter o meu melhor amigo ao meu lado.

Caminhei até uma das máquinas de café, inseri as moedas necessárias e cliquei no botão ao lado da palavra "mocaccino". A máquina fez alguns barulhos e logo o café já estava pronto, servido em um pequeno copo de isopor.

— Lynn, bom dia! – ouvi uma voz conhecida me chamar – Estava te procurando, queria lhe apresentar uma pessoa.

Era Dakota, ou como todos o chamavam: "Dake". Meu supervisor e também treinador dos golfinhos. Ele era alto, fazia o tipo atleta e surfista. Tinha olhos verdes, uma pele bronzeada que combinava com seus cabelos dourados, sem falar, com as diversas tatuagens espalhadas por seu corpo.

— Bom dia, Dake! – sorri, cumprimentando-o. Ele caminhava em minha direção e vi que havia alguém caminhando atrás dele.

— Lynn, quero lhe apresentar o novo gerente do Aquário. Esse é Lysandre Henz, ele ficará no lugar do Sr. Faraize por um tempo. – disse ele, abrindo passagem e revelando um rapaz, vestido elegantemente em um terno preto com uma gravata verde-escuro.

— Muito prazer em conhecê-la, Srta. Lynn. Dakota elogiou muito seu trabalho aqui no Aquário.

Ele estendeu a mão para que eu cumprimentasse, assim o fiz, quase que em modo automático. Eu estava perplexa diante do homem parado à minha frente. Não era possível. Era ele. O garoto que havia me salvado anos atrás, estava ali, diante dos meus olhos! Claro, ele estava mais velho agora, mas... Era exatamente como eu me lembrava, os cabelos prateados, os olhos heterocromáticos âmbar e verde... Não poderia ser apenas uma coincidência.

— M-muito prazer... – gaguejei, sem conseguir desviar o olhar.

— Algum problema? – ele perguntou, analisando-me. Realmente, eu devia ter problemas, para encará-lo daquela forma.

— Não, eu só... Tenho a impressão de que já nos vimos antes... – expliquei.

— Isso é impossível. – Dake interrompeu – Sr. Henz chegou ao país essa semana. Ele vivia na Europa anteriormente. E pelo que eu saiba, você nunca saiu do país, não é mesmo?

— Deve ter me confundindo com alguém. – comentou Lysandre – Espero que por uma boa pessoa. – sorriu, sendo gentil.

— Sim, desculpe-me. – sorri de volta.

— Já pode ir se preparando para sua primeira apresentação do dia, Lynn. – disse Dake – Acompanharei o Sr. Henz até sua sala e em seguida, estarei lá para o último ensaio.

— Ok. – assenti, segurando meu café com mais força do que precisava – Seja bem-vindo ao Sea Life, Sr. Henz. Tenho certeza que irá gostar muito daqui. – falei, amigavelmente.

— Obrigado. Pode ter certeza que gostei muito de tudo o que vi até agora.

Ele sorriu e pude sentir um arrepio em todo meu corpo, quando seus olhos bicolores encontraram os meus. Foi impressão minha ou ele estava se referindo a mim com essa última frase? Eu devo estar enlouquecendo! Ele apenas quis ser educado, só isso.

Observei por mais alguns instantes sua silhueta afastando-se com Dakota. Havia alguma coisa diferente nele. E se realmente fosse o garoto que me salvou? E se há quatro anos atrás ele estivesse aqui e não na Europa? Nos últimos quatro anos, pesquisei muito para tentar encontrar alguma pista, qualquer coisa que pudesse me ajudar a encontrar o garoto misterioso. O que mais se aproximava do que havia ocorrido, era o mito das sereias. Eu vi uma cauda de peixe aquele dia, vi o garoto, ele desapareceu mergulhando na água... Tudo se encaixava perfeitamente. Ele só podia ser um tritão. Conforme as lendas e os filmes, diziam que sereias e tritões eram mágicos. Eles tinham o poder de enfeitiçar os marinheiros e afogá-los quando sentiam-se ameaçados, assim como um beijo deles também podia salvar uma pessoa que estivesse se afogando. Eram criaturas misteriosas e cheias de segredos.

Se o Sr. Henz fosse mesmo um tritão, como conseguiu pernas e transformou-se em um humano? E por que seria gerente em um Aquário? Úrsula, a bruxa do mar, existiria e teria feito isso? Não, não, não... Eu só posso estar alucinando! São tantas perguntas! Preciso falar com Armin. Será que ele já o conheceu? Talvez pudesse saber de alguma coisa.

Precisava descobrir mais sobre ele.

E se realmente Lysandre Henz era o garoto que me salvou.

(...)

From The SeaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt