Capítulo 2

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Conheci Camilla em uma festa de casamento, ela era madrinha da noiva e eu era um dos convidados dos pais do noivo. Quando vi aquela linda moça de cabelos soltos, longos e castanho-avermelhados que desciam em cachos pelas costas, passando na passarela no gramado onde era realizada a festa, eu me apaixonei. Foi amor à primeira vista.

Durante a valsa dos noivos, eu me aproximei e começamos a conversar. Ela era ainda mais bonita de perto. Não de uma beleza extraordinária, ela era comum, tinha olhos escuros, um rosto perfeito, mas seu sorriso iluminava sua face.

Quando todos começaram a dançar, eu não hesitei:

— Quer dançar?

Notei sua repentina tristeza, e sem titubear ela ainda me respondeu:

— Sinto muito, jamais poderia. — E saiu me deixando só e com o coração partido.

Na terceira taça de champanhe daquela noite, eu soube que Camilla tinha vinte e quatro anos e um fardo: perdera o amor da sua vida em um terrível acidente, e só lhe restara Miguel, um garotinho de dois anos.

***

Tentei esquecê-la, mas eu sonhava com ela todos os dias. Em meus sonhos, Camilla me abraçava e beijava e eu só podia ser louco. Quem em sua perfeita sanidade se apaixonaria por alguém que não quer ser amada?

Não a vi por três anos. Meu amigo, que também era amigo do noivo daquele casamento, disse-me que ela chorava todos os dias, sorria para seu filho, mas havia se fechado para o mundo, como se o ele fosse culpado pela sua dor. Eu tentei, sem sucesso, esquecer o convite da dança. Será que eu teria feito uma idiotice daquelas se soubesse do seu coração partido? Como é possível viver com a dor da perda do seu grande amor?

***

Meu carro havia quebrado, eu estava atrasado para a reunião e, sem pensar, desci dele e saí andando. No caminho ligaria para o mecânico da empresa. Então, depois de caminhar por dois quarteirões, deparei com aquela cena: Camilla estava esperando Miguel no portão da escola. Quantos anos ele teria, cinco, seis?

E por que eu não podia fazer nada? E se a vida estivesse dando a ela uma segunda chance? E para mim, a felicidade de tê-la? Eu os amaria, cuidaria deles e...

— Oi?

— Camilla! Quanto tempo. Nossa, como seu menino cresceu! — Eu nem tinha notado quando ela se aproximou, nem que ela me reconhecera da festa.

— Fui tão injusta naquele dia! Nem sei o seu nome e você sabe o meu — disse ela segurando firmemente a mãozinha de Miguel e ambos sorriam para mim. Seria um sinal?

— Gabriel. Meu nome é Gabriel. — Eu não conseguia parar de admirá-la, ela parecia ainda mais bonita.

— Acho que fiquei te devendo uma dança, Gabriel — ela disse timidamente.

— Ficarei feliz em cobrá-la. Quando podemos nos ver? — perguntei, não deixando tempo para o silêncio dos nossos olhares.

— Anota meu número e me liga quando quiser — respondeu ela frisando o "quando quiser", abrindo a mochila de Miguel, rabiscando um número em um pedaço de papel.

— Pode ter certeza de que vou cobrar a qualquer momento, hein? — respondi e despedi-me com um beijo no seu rosto, sentindo um perfume doce e suave; depois agachei e falei para o seu filho:

— Nos vemos em breve, garotão. — Ele sorriu. E ambos partiram.

Eu estava feliz da vida, a mulher dos meus sonhos havia me dado uma chance de encontrá-la para aquela dança, a mesma que me tirou o sono por anos seguidos.

Agradeci a Deus pela oportunidade, pelo carro que havia quebrado, pelo meu dia que estava pela metade, mas que já tinha tudo para ser um dos melhores da minha vida.



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