Pingos de Tinta

Um coreano novo no corpo de um londrino?

  Tudo aconteceu rápido o suficiente para eu não conseguir processar mais nada. Quando pisquei e tirei um suspiro profundo da garganta, Peter já estava ao meu lado, conversando com meus dois irmãos mais novos e dividindo balas com eles. Caleb estava incrivelmente feliz, quicando sua bola de vôlei no chão e, quando ela voltava para cima, ele dava um murro forte, a forçando de volta para o asfalto. Os três apertavam o passo quando percebiam uma garota ruiva passando em sua frente, mas antes mesmo de chegar até ela, recuavam e me esperavam. Peter e Aerys conversavam sobre seus gostos preferidos em garotas maiores, já Caleb, estava interessado demais em seu saco de balas, quando percebi, ele já estava do meu lado, mascando quatro chicletes de uma só vez.

  – Ei, assim vai ter de voltar para o dentista, pirata. - Sorri como sempre fiz, esperando chamar a atenção de meu irmão mais novo.

  – Não gosto do dentista. - Ele abraçou o próprio corpo, amassando o saco de balas e o jogando no meio da rua. - Não gosto do meio ambiente também.

  – Do que você gosta, aliás?

  Sempre incentivei Caleb a ajudar o meio ambiente e fazer a coleta de lixo toda a semana mas, depois que ele resolveu dar uma geral em sua lista de melhores amigos, tudo mudou. Agora ele realmente odiava tudo que se envolvia com a salva do planeta. Dizia que era perda de tempo, e que, se fosse para parar de existia, já teria parado a muito tempo. Desisti de questionar uma semana depois de sua escolha final, mas sempre paro para recolher o que ele joga no chão, pelo menos na maioria das vezes. Caleb segurou minha mão e ajeitou sua mochila em seu ombro, moldando uma careta de desgosto. Desde bem pequenininho, quando suas provas nem haviam começado ainda, tecnicamente, com seis anos, ele detesta aula, escolas, cadernos e tudo que envolva matemática e a ciência em si.

  Ainda me perguntava como Peter Hoseok havia parado aqui, sendo que a alguns minutos minutos atrás, eu o encarava com um olhar mortal, já que ele era o Peter. Não o Pan, mas era um Peter. Por algum motivo, me imaginei voando ao lado dele, mas não conseguir imaginá-lo naquela roupa verde e com aquele chapéu. Me pega imaginando eu de mãos dadas com Peter, sem ser o próprio Pan, e nós dois voando acima dos prédios de Londres, e tudo estava perfeito o suficiente para isso não sair de minha cabeça por um longo tempo, o que era ruim, já que eu não deveria me acostumar com isso. Caleb e Aerys pareciam gostar mesmo dele, já que ficavam juntos por um tempo indeterminado. Ainda fico confusa de como nós somos diferentes, eu e meus irmãos. Papai e mamãe ficam confusos com nossas características psicológicas, somos diferentes de todas maneiras possíveis. Caleb é cabeça quente, tem ideias formadas de tudo existente, de tudo que aprendeu... Ele é daqueles que não aceitam opiniões sem serem explicadas totalmente, tenho orgulho de tê-lo ao meu lado. Já Aerys é totalmente diferente, ele não liga para nada do que qualquer pessoa fale, caso ele não conheça ou não considera, apesar de que sua namorada, Amber, seja composta de opiniões sem graça e desnecessárias, na maioria das vezes se trata de assuntos que já foram resolvidos a muito tempo. Mas, eu escuto, discuto e presto atenção em uma boa parte das coisas, quando o assunto é criativo. Ela não é uma garota chata, é suportável. Paramos de andar quando cruzados mais duas esquinas, no exato local aonde o pai de Amber trabalhava. Ela não era filha de um dos melhores empresários de toda Londres, mas também não era filha de um açougueiro sem futuro algum. Eles estavam em uma classe média alta.

  – Nossa, vocês demoraram. - Reclamou a loira, arrumando seu rabo-de-cavalo ainda mais alto, estava quase chegando em sua testa! - Papai e eu pensamos que vocês nunca chegariam e... - Os olhos dela pararam em Peter, analisando-o por completo. - Oi...

  – E aí. - Ele devolveu um sorriso largo, erguendo o palmo para cumprimentá-la. Ela retribuiu. - Sou Peter.

  Os olhos dela vieram direto aos meus quando ouviram o nome de meu novo... Amigo. Desviei minha atenção para os carros que passavam ao nosso lado, apesar de meus ouvidos estarem ao domínio da conversa deles. Por que ela olhara para mim? Quer dizer, é apenas um nome... E eu não sei porque estou dizendo isso, apesar de tudo, é o nome. Mas não era ele, era o Peter do meu colégio, o que fazia aula de Biologia comigo e que não gostava de ser chamado de Hoseok.