Pneumonia

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Querido diário,​​​​​​​                    11/09/1507

Não sei nem o que escrever. Lembra que semana passada eu escrevi que estava com pneumonia? Bem, até aí eu tinha chances de me curar, mas agora o Dr. Lewis disse que vou morrer. Não era para eu saber disso, mas ouvi-o dizendo que não havia mais jeito ontem, para meu pai, e só tenho mais uma semana de vida.

Uma semana, então, eu deveria aproveitar, não é? Mas nem consigo levantar da cama! Só me conforta que encontrarei minha mãe... Em algum lugar.

Alice fechou o diário violentamente, chorando. Era tarde da noite, e ela não conseguia dormir de modo algum. Havia duas noites ela só tinha pesadelos, e acordava sempre suada e arfando como se tivesse corrido uma maratona. Agora, com os cabelos longos e loiros voando no rosto pelo vento forte da madrugada, Alice lia o livro, pela terceira vez, que estava na mesa de cabeceira.

Assim que clareou, ela tentou levantar, mas nem aguentou a dor nas pernas por tempo suficiente para chegar à porta, e acabou caindo sentada na poltrona vermelha ao lado do armário, chorando desesperadamente.

– Querida, o que foi? – o pai, já um senhor de idade, curvado e de cabelos brancos, entrou num instante no quarto e abraçou a filha.

– Eu ouvi o que o médico disse a você, pai! Tenho só 16 anos! Eu não quero morrer! – Ela o abraçou, as lágrimas deixando os grandes olhos azuis turquesa muito brilhantes.

O pai, que era dono de uma província brasileira na época, abraçou Alice, sem ter o que dizer. O irmão mais velho, Daniel, entrou assustado com a confusão, mas logo pareceu compreender, mostrando que ele já sabia da irmã mais nova. A criada, Ellen, apareceu trazendo a bandeja de café da manhã para sua senhora, que voltou para a cama com a ajuda do irmão e pediu à criada que ficasse com ela no quarto.

As duas passaram a tarde jogando damas e xadrez, com Ellen ganhando todas as partidas de damas e Alice todas as de xadrez. À noite, esta foi deitar cedo, sem vontade de viver o pouco que poderia, mas Ellen ficou com ela no quarto.

Foi pelas duas da manhã que Alice ouviu um barulho na porta. Ela se sentou na cama, assustada, porém Ellen foi mais rápida e chegou à frente de um homem alto, bloqueando o caminho dele. Era alto e forte, com cabelos loiros cacheados totalmente bagunçados, sua pele era pálida e os olhos de um azul muito claro, brilhantes como de um gato, mas lindos.

Alice o reconheceu de imediato: era procurado pelos guardas do reino por matar onze pessoas. Ela tentou apressadamente sair da cama, mas o assassino já havia passado por Ellen, que olhava a senhora como se arrependida de algo.

– Não! - gemeu assustada Alice, e colocou o cobertor sobre a cabeça.

– O que é isso?! Deixe de ser infantil! – ele puxou o cobertor, junto com os cabelos dela, e cruzou os braços, observando-a. – Só pode estar brincando que quer que eu a transforme – disse quando Alice imitou seu movimento, tentando parecer corajosa.

– Está em débito comigo, depois que fizer isso terá se livrado de mim – Ellen foi dura e fria ao dizer isso.

– Me transformar? Em quê? – indagou Alice, apavorada.

– Não falou nada com ela?

– Em vampira – respondeu Ellen, quase para si mesma, com a mão na boca, balançando a cabeça, percebendo que chamar o vampiro ali fora um erro. Um grave erro.

– Não grite – avisou o homem quando Alice empalideceu. – Sou Robert. Você é Alice, não? – ela assentiu. – Bem, eu estava devendo um favor à sua criada, Ellen, e ela me pediu para "salvar" você da morte.

– Não! Eu não quero ser uma vampira! Não vou matar as pessoas como você! – Alice tentou gritar, mas sua garganta estava seca.

– Posso saber quem foi que falou que você tinha opção? Agora olhe para mim – e a voz de Robert se tornou monótona, mas clara, quando ele puxou o rosto da garota, fazendo com que ela olhasse nos olhos dele. – Vai deitar e dormir, e não importa o que eu fizer com você, não vai acordar até de manhã.

Alice não soube por que obedeceu, mas parecia hipnotizada.

Forever I - DegustaçãoWhere stories live. Discover now