Prólogo

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Mais uma vez sobrara para mim medir o nível de stress destas criaturas hediondas. Com o escâner retangular e banco já em minhas mãos, verifico a ultima leva de Konus. A luz amarela ascende.

Como?

Repito o procedimento. A seta do monitor move-se novamente para o campo amarelo.

Não é possível!

Viro minhas costas para ele e vou me afastando cautelosamente de seu território dentro da floresta. Já está amanhecendo, e logo a criatura acordará. O som de folhas se movendo a esquerda atrai minha atenção.

O que foi isso?

O sangue bombeia mais rápido pelo meu corpo e apresso o passo. Novamente penso ter ouvido algo, mas desta vez sou capaz de sentir olhos em minhas costas. Começo a correr, só o que importa agora é sair o mais rápido possível deste lugar.

Ouço seus passos ruidosos atrás de mim e aumento meu ritmo para uma corrida, me esgueirando entre árvores de copas roxas e arbustos com flores fosforescentes ainda fechadas pela escuridão da noite que já se esvai. Uma vozinha sarcástica persiste em sussurrar maldosamente em minha mente "Você não vai conseguir", "Desista". Não paro de correr, não posso parar. Galhos arranham meus braços e pernas como laminas afiadas, o liquido quente e rubro que corre nas entranhas do meu corpo escorre pelos cortes. Mais alguns metros e estarei seguro dentro da capsula cilíndrica que me levará para a segurança do subsolo.

De repente não escuto mais as pisadas pesadas me perseguindo. Diminuo o passo e olho para traz. Não há nada lá. Ondas de alívio me preenchem e acalmam as batidas descompassadas do meu coração.

Eu consegui despista-lo?

Me viro e olho para os lados para conferir se estou de fato sozinho. Aparentemente não há nada de errado. Volto minha visão novamente na direção em que estava correndo na intenção de me ver longe daquele lugar, mas logo percebo que isso não vai acontecer...

Me pegando de surpresa, ele aterrissa na minha frente com seus olhos amarelos brilhantes e seus dentes pontiagudos. Os braços enormes e brutos cobertos por uma camada rala de pelos negros se estendem acima de mim, sua coluna se arqueia em um gesto intimidador - tal como os gatos fazem ao se sentirem ameaçados - assim, tampando toda e qualquer luz e banhando minha alma na tenebrosa sombra que seu corpo faz sobre o meu. Um grito gutural irrompe de minha garganta, externando todo o horror que sinto por dentro. Dou passos hesitantes para trás, meus olhos presos a visão daquele ser.

Preciso contar aos outros!!

Porque isso está acontecendo?!

Desprendo meu olhar do dele e corro para a esquerda, me embrenhando novamente na mata. Não sirvo para isso, sou cientista não um atleta. Minha respiração pesada falha vez ou outra, o sangue bombeia mais rápido por minhas veias e o suor pinga de meu corpo. Já não chega ar suficiente em meus pulmões e tropeço em uma raiz grossa que saltava do solo. Meu rosto vai de encontro ao chão, folhas e terra adentram minha boca e as cuspo para fora. Então o escuto se aproximando, sei que é inútil lutar. Sinto sua respiração acima de mim e fecho minhas pálpebras firmemente, orando silenciosamente para que tudo não passe de um sonho, fruto de minha imaginação. Mas em seguida, suas garras perfuram a carne macia da minha perna direita, dor explode dentro de mim, grito o mais alto que posso mais sei que não serei ouvido. Sou arrastado para dentro de uma caverna ali próxima e a última coisa que vejo é o brilho de seus dentes afiados vindo de encontro ao meu rosto.

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