1.Doce infância

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  Cruza, Thalles, cruza a bolaaaa que eu tô livre, seu fominha!!! Goooooooooooolllll do Mengão. Mengãoooo, eooooooohhhhh! - saía eu, feito louco, comemorando e gritando pela pracinha.
Assim crescia a molecada, na praça da Rua Tupi, esquina com a Jayme Gomes, bem em frente à minha casa, em uma clássica e bucólica fotografia do interior mineiro. Em Passos, no início dos anos 1980, apesar da difícil sobrevivência diária das famílias simples, fermentada , em cada coraçãozinho inocente de criança, um universo interminável de sonhos e vontades , e a pergunta mais comum era: "O que você vai ser quando crescer?". As respostas, geralmente, variavam, mas, sempre que surgia o assunto, cada um tinha sua resposta na ponta da língua - ainda que sempre diferente a resposta dada na semana anterior. O estranho é que, pelo que me lembro, eu era o único moleque da rua toda que sempre dava a mesma resposta.
Após a pelada na praça, a criançada, esparramada pelo chão, brincava de alimentar sonhos:

- Eu quero sê jogador de futebol, igual o Zico.

- Eu não . Eu quero sê carpinteiro igual o meu pai; ele já tem tudo as ferramentas.

- Eu quero sê médico. Pra ajudá os doentes.

- Eu não. Não quero sê médico nem a pau. Médico tem que ficá mexendo com o doente, pereba, credo ! Eu quero sê igual o Pelé.
O cara é rei do futebol e ainda por. cima namora com a Xuxa - argumentava o outro,dois anos mais velho que a média, com toda a sabedoria do mundo.

- E você, Thalles, o que quer sê quando crescer ?

- Quero sê artista, saca? Tipo internacional. Cantar pra um mundão de gente.

- Kkkkkkkkkkkkkkkkk. - A gargalhada sempre era geral na pracinha.

- De novo essa conversa de artista, Thalles? Kkkkk. Fica ativo, sô!

- Quer ficar igual aquele neguinho lá. Pireee, pireee, pireee, pireee. - Ironizava uma das crianças, imitando o passo moonwalk, de Michael Jackson.

- Então tá bom, ceis vão vê. - retrucava baixinho, até porque não dava para argumentar muito em uma roda com média de idade de seis anos.

De repente, da janela, minha mãe gritava:

- Coooorre, Cheiro-verde, vem que o almoço tá na mesa.

E, como em uma sinfonia, mães gritavam na janela ao redor da praça, anunciando a hora do almoço. A pracinha ficava deserta. Como em debandada, uma "manada" de crianças famintas levantava poeira atrás de um prato de arroz, macarrão, feijão e carne. Mais mineiro, impossível.

Nesse ritmo bom fluía a vida. Da casa para a escola, da escola para a pracinha. Bola, pipa, carrinhos, estilingue; tradicionais brincadeiras de criança, sempre acompanhadas de igreja, muita igreja.

Nascido em uma família evangélica, sempre tive a igreja como extensão de casa, e a casa como extensão da igreja; até porque filho de pastor não tem muita escolha. Quando está na igreja, o assunto é igreja; quando está em casa, o assunto é igreja; quando está na escola, ele é o "da igreja".

Todo domingo de manhã, não tinha conversar. Era passar cinco minutos da hora de acordar que mamãe já saía puxando as cobertas de todo mundo e abrindo a janela do quarto. Logo atrás vinha meu pai, ajudando a organizar a turma. Pastor Job, como é conhecido até hoje, sempre de bom humor, começava o dia gritando:

- Acoooooorda, molecada, que hoje é dia do Senhor! Vamos pra casa dEle, adorá-Lo e bendizê-Lo, e depois tem ensaio do coral.

Era uma correria só. Um escovava os dentes já colocando a roupa, outro tomava café enquanto batia na porta do banheiro querendo entrar. Às vezes, um de nós tentava ganhar cinco minutos a mais de sono, mas rapidinho tomava uma travesseirada ou um cutucão.

No fim da tarde de domingo, a correria era mas intensa. Um olho no pão com manteiga, outro na televisão, tentando ver o finalzinho de algum programa. Quando ia chegando a hora do culto, papai desligava o UHF da tomada e saía cantarolando um hino Unida, a família ia seguindo para a igreja, rumo ao ministério. Era oração, louvor, intercessão e música. Muita música.

"Minha vida é dos 3 (Pai, filho e Espírito Santo)"

Oi gente mais um capítulo para vocês lêem aí e vota, divulgue aí por favor .

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Olha o que ele fez comigoWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu