Prólogo

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30 de Abril de 2006

2 horas da tarde

O casamento

Ela preferiu ficar acompanhada apenas por duas das suas amigas. Não pretendia surgir ladeada por dezenas de pessoas. Era seu desejo sair discretamente, sem que ninguém se apercebesse.

Depois de se vestir, sentou-se em frente ao espelho, enquanto Adriana e Marta conversam na sala.

Núria envergava um elegante vestido de noiva, com saia lisa, corpete com flores bordadas a bordeaux apertado com atilhos atrás. Os cabelos estavam cuidadosamente penteados, com longos canudos, sobre os quais incidia um véu de renda claro, debruado, também ele, a bordeaux. O ramo de noiva era no mesmo tom, composto por rosas passion, freseas, hipéricum e verduras várias. Todos aqueles adereços tornavam a noiva visivelmente mais jovem, pese embora os seus trinta e dois anos.

Tudo podia estar perfeito, se não fossem os pensamentos que a assombravam. Deixou-se levar pela emoção e entregou-se ao mais profundo sentimento de desânimo. Viu toda a vida a flutuar à sua frente, como se de um filme se tratasse. Avistou várias passagens da sua existência, desde a adolescência até à idade adulta. Voltou a reviver com indignação as atrocidades a que Francisco a submeteu, o que lhe causou uma enorme angústia.

Para fugir aos sórdidos pensamentos relembrou os momentos passados naquela manhã na esplêndida igreja, inundada de flores. Flores brancas, que simbolizavam não só a paz e a inocência, como também o seu estado de espírito e a pureza daquele anjo. Um anjo em forma de bebé que lhe trouxera a energia positiva, a esperança e um novo sentido para uma vida que fora devorada pela infelicidade e pelos desgostos.

Perdida nas suas reflexões acabou por deixar derramar a mais pura lágrima de desespero. O medo de cometer mais um erro apoderou-se de si.

Pouco tempo antes, havia reconstruído a sua vida em termos materiais. Mas sentia falta de algo... algo sem o qual o ser humano não subsiste...

Faltava-lhe o Amor, e era esse facto que a conduzia à incerteza – estaria ele na disposição de a amar verdadeiramente?

Tinha que tomar a decisão, a cerimónia estava marcada para dali a menos de uma hora.

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