Capítulo1: Viva a Miscigenação!

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– "Cortada"no meu dicionário é bem diferente de humilhada.

– Ah, por favor, eu não a humilhei. Você é muito dramático.

– Falou a senhorita Ambrose Estresse.

Dei um soco de leve na barriga dele e o fitei indignada.

– Tenho muitos motivos para estar estressada, André Felipe– bufei– Agora vamos! Eu preciso das pranchas impressas e corretas até a hora do almoço.

– E eu de uma dupla nova.

– Como?!– Parei de andar para fitá-lo com o meu olhar de fúria novamente, mas ele continuou andando e ainda possuía um irritante sorriso no rosto, o safado.

Cheguei correndo no restaurante universitário para almoçar. Enquanto eu segurava os papéis do texto que eu treinara para falar no Auditório, coloquei alguns legumes e arroz branco no prato e corri os olhos pelo restaurante. Avistei meu grupo de amigos inseparáveis ao lado da janela e fui me juntar a eles, esbarrando em cadeiras, mesas e pessoas.

– Bom dia amores da minha vida– falei, sorridente, me ajeitando no único lugar vazio, com Amanda Martins do lado direito e Eduardo Oliveira do lado esquerdo.

– Amores... da sua vida?!– questionou Mari do outro lado da mesa– O que deu em você agora? Virou bipolar, amiga?

– Ah, me desculpe por mais cedo, Mari, eu estava estressada e com a cabeça no projeto– sorri antes de enfiar um pepino na boca.

– Olívia! Olívia!– chamou Eduardo– Tenho uma surpresa para você.

Olhei assustada para ele, eu não estava esperando uma surpresa. Encarei André na ponta da mesa com um olhar acusador por nunca me contar os segredos do seu namorado.

– Pois bem, qual é surpresa?– perguntei.

Eduardo abriu um grande sorriso cheio de dentes brancos, aquele sorriso era típico dele. Ele fez um sinal de espera com a mão e começou a vasculhar a bolsa, retirando de lá um papel A4 e colocando-o na minha frente. Avaliei o papel com atenção, era um cartaz com várias pessoas no centro, com diferentes tons de pele, diferentes estilos de roupa, mas nenhum rosto identificável. O título era "Viva a miscigenação", em vermelho vivo. Embaixo da imagem outra frase também se destacava: palestra com Olívia Ambrose Barros, estudante de Arquitetura e Urbanismo.

Avaliei o papel por alguns instantes, me sentido um pouco intimidada, envergonhada, mas ao mesmo tempo orgulhosa. Era um ótimo cartaz, muito bem feito pelo excelente estudante de publicidade que era Eduardo.

– O que achou?– ele apoiou a mão nas minhas costas, inseguro– Já está colado em toda a Universidade, várias cópias dele, me desculpe por não ter te consultado, eu queria fazer uma surpresa, mas sei que você é muito metódica...

– Ei!– o cortei– Está ótimo! Muito bom mesmo! Agora é certeza que o Auditório vai lotar.

– Ufa, que bom que gostou– ele suspirou.

– Só achei estranho eu não ter visto nenhum dos cartazes por aí.

– Claro que não viu– afirmou André– A sua cabeça está em outro lugar hoje. Se passar um dinossauro na sua frente por esses corredores, você não enxerga.

– E a cabeça dela está aonde?– perguntou Amanda confusa.

– No Gabriel, claro– riu Mari da própria piada.

– Mari, menos, bem menos... Gabriel é passado, é um passado bem enterrado, só para deixar claro– irritei-me.

– A cabeça– começou André, também censurando Mari– Está nos trabalhos da faculdade que nós dois temos que entregar. A Mari, que não faz nada da vida, não entende isso.

NegraWhere stories live. Discover now