– Pronto! Tudo impresso!– Joguei as duas folhas testes em formato A1 na mesa da FAU– É melhor não olhar demais para não ver os erros.
Encarei os olhos verdes de André Felipe sob aquela espessa cabeleira encaracolada. Ele possuía um olhar crítico enquanto avaliava a prancha da frente.
– Está faltando a indicação do Norte nessa planta-baixa, Olívia.
– Ô raiva, eu disse para não olhar demais.
Bati as duas palmas da mão na mesa de madeira, atraindo alguns olhares curiosos. Final de semestre era um caos, uma correria sem explicação.
A minha desculpa para não fazer esportes– eu sei cada um inventa a sua desculpa– era que eu corria tanto pelos corredores do prédio Minhocão que nem ganhava os indesejáveis quilinhos a mais.
– André, eu juro que fiquei olhando cada prancha ontem à noite, cada detalhe, para coisas assim serem evitadas– Choraminguei, jogando-me na cadeira ao meu lado.
– Pare de se martirizar, coisas assim acontecem. A gente imprime de novo sem problemas, não se preocupe!
Eu não sei como ele me enfeitiçava daquele jeito, ele apenas me acalmava com simples palavras. André é gentil e com um bom coração, também é alto, quase transparente de tão branco e possuía aqueles olhos verde esmeralda maravilhosos. Anjo André, eu o apelidara certa vez. A gente sempre fazia os trabalhos juntos, passávamos horas acordados na casa do outro, tínhamos uma sintonia que eu achava única.
– O que foi, flor? Apaixonou?– Ele me jogou uma piscadela que enfartava qualquer mulher. Mas para o azar delas, o perderam para Eduardo, seu namorado.
– Difícil é não apaixonar– joguei uma piscadela de volta e sorri.
– Eu sei, eu sei... sou assim, irresistível.
– OLÍVIA! OLÍVIA!
O grito vinha da entrada da FAU, girei a cabeça e visualizei Mariana Solar acenando e andando aos tropeços em minha direção. Ela me abraçou com força antes que eu pudesse dizer um mísero oi.
– Menina do céu! É hoje! Estou tão animada por você! Vai ser maravilhoso, chamei todo mundo, toda a galera da psicologia vai estar lá, posso garantir, serviços Mari de qualidade. Você vai ar-ra-sar, tenho certeza. Vou até...
– Mari, chega!– levantei-me da cadeira para acalmá-la– Eu já fiz isso inúmeras vezes, é natural, não precisa...
– Mas hoje é diferente, hoje você vai discursar no auditório! Isso é único, bem melhor que os palcos do gramado lá fora. E agora vai ter professores assistindo, os grandes mestres da faculdade, todos te escutando...
– Eu sei, eu sei. Batalhamos muito pelo auditório...
– Não acredito que você rebaixou aquela Terceira Guerra Mundial para uma batalha. A gente está tentando conseguir aquele auditório há muitos ANOS! Anos, Olívia, no plural!
– Mari!– Segurei as mãos dela, aumentando o meu tom de voz– Eu vou ali imprimir umas pranchas. Te encontro no almoço.
– Mas...
– Vamos André!
Segurei o braço dele e puxei em direção a saída, acenando ao mesmo tempo para a desamparada Mari.
– Coitada, Olívia– André cochichou.
– Coitada de mim! Estressada, com dois trabalhos incompletos de final de semestre para entregar amanhã, com um discurso sobre Miscigenação para hoje à tarde e ainda sou obrigada a escutar a Mari dando seus ataques de felicidade. Ela precisa ser cortada às vezes, você sabe muito bem disso, André.
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Negra
Historical FictionOlívia Ambrose Barros é uma estudante de Arquitetura que enfrenta com garra o dia a dia como qualquer outra garota de vinte e dois anos. Mas no dia 20 de Julho o inesperado acontece: ela volta no tempo e para no ano de 1871. E o maior problema nem f...