Um breve sorriso curvou seus lábios. Será que é porque sou bonito? Pensou e riu baixo, sacudindo a cabeça, como se tentasse afastar a ideia absurda.

Pegou a prancheta ao lado da cama, conferiu os gotejamentos, anotou os horários dos medicamentos e o volume do soro. Tudo estava dentro do normal.

— Hoje eu tenho faculdade — comentou, mais para preencher o silêncio do que por real vontade de conversar — Sinceramente, não tô nem um pouco afim de ir. Mas é o último ano, sabe? Semana de provas no começo do mês. Faculdade de psicologia.

Falava enquanto se movia pelo quarto com uma naturalidade estranha, como se o som da própria voz o ajudasse a manter o controle. Deixou um copo de água sobre o criado-mudo, perto da cama.

— Você pode tentar tomar um pouco depois, se quiser — disse, num tom cuidadoso.

Caminhou até a janela e a abriu levemente; o ar fresco da manhã invadiu o quarto, dissipando o cheiro estéril de desinfetante. Por um instante, ficou parado ali, observando o céu nublado, antes de voltar o olhar para o paciente.

— Rin, eu tenho que ir agora — falou suavemente, ajeitando o jaleco — Se cuide, tá? Eu volto às dezenove.

Virou-se para a porta e, por um momento, hesitou. O silêncio atrás dele ainda parecia carregado, quase chamando-o de volta. Então, antes de sair, olhou por cima do ombro e lá estavam novamente aqueles olhos verdes, o seguindo até o último instante.

Isagi sorriu e saiu do quarto. A porta se fechou lentamente, e o som suave do trinco ecoou mais alto do que deveria.

Rin permaneceu olhando para a porta por um longo tempo, como se esperasse que ela se abrisse de novo. Só quando a quietude se instalou por completo é que desviou o olhar para a janela. Lá fora, os primeiros tons alaranjados do amanhecer tingiam os prédios altos, fazendo o vidro refletir uma cor quase dourada. O sol nascia devagar, indiferente à dor que o preenchia.

Moveu a mão com certa dificuldade até alcançar o copo sobre o criado-mudo. Os dedos ainda tremiam. Levou-o aos lábios, bebeu devagar, e o deixou no mesmo lugar. 

Seu olhar permaneceu preso lá fora — vazio, distante — como se tentasse encontrar algum ponto de sentido no horizonte.

Eu falhei…

O pensamento ecoou, mudo, dentro de si. Aquele sentimento conhecido de culpa e impotência tomou forma novamente, apertando o peito. Os tremores que antes ele disfarçava na presença de Isagi agora se tornavam mais evidentes. A mão direita sacudia de leve sobre o lençol, e ele tentava segurá-la com a esquerda, sem sucesso.

A visão começou a embaçar. As bordas do mundo se dissolviam lentamente, e os sons se misturavam em um ruído distante. Tudo o que restava era um lampejo de voz — a voz de Isagi — ecoando em sua mente, suave e quase dolorosa.

Os espelhos refletem o que a dor tá fazendo comigo, Isagi…

E, então, o vazio.

Do lado de fora, Isagi sentiu um arrepio súbito percorrer a espinha. Parou por um instante na calçada, ajeitou o casaco e soprou as mãos para afastar o frio. Não entendeu o motivo, mas algo em seu corpo reagia de forma estranha — como se uma parte dele ainda estivesse no hospital.

O caminho até sua casa foi silencioso. As ruas úmidas brilhavam sob os postes, e o som distante da chuva se misturava ao ruído abafado dos carros. Quando finalmente girou a chave no portão, sua casa estava igual a como deixara: silenciosa, limpa demais, e completamente sem vida.

Seguiu direto para o banheiro e deixou a água quente cair sobre o corpo, tentando relaxar os músculos rígidos e lavar o cheiro de desinfetante que parecia impregnado na pele. Depois, vestiu um moletom largo e macio, secou o cabelo com uma toalha e caminhou pela casa de forma automática.

Quando A Chuva Cai | RinSagiWhere stories live. Discover now