Manifestações clínicas: Tremores em extremidades (mãos e pés).

Isagi engoliu em seco. O som do próprio coração parecia alto demais enquanto segurava a mão dele um pouco mais firme, continuando a limpeza com cuidado redobrado.

— Você consegue mexer a mão? — perguntou hesitante, levantando o olhar.

Rin o encarava em silêncio. Não desviou, não piscou, só o observava, com algo indecifrável naqueles olhos verdes.

— Tudo bem — murmurou Isagi, tentando disfarçar o desconforto — Isso logo volta ao normal.

Terminou de limpar o outro braço, jogou as ataduras ensanguentadas no lixo e ajeitou o lençol sobre o peito do paciente.

— Deve estar com fome, né? — tentou um tom leve, quase brincalhão, enquanto checava os monitores e anotava algo na prancheta — Mas eu ainda não posso te dar nada. Preciso da autorização do médico. Pode ser que você tenha sofrido uma overdose, e qualquer coisa que ingerir agora pode te fazer vomitar… além disso, talvez nem sinta fome.

Nenhuma resposta.
Rin apenas continuou olhando para ele.

Isagi tentou ignorar o incômodo, mas quando seus olhares se cruzaram de novo, algo dentro dele se partiu em silêncio. Não havia palavras, apenas aquele olhar fixo, carregado de dor e um pedido mudo.

E o pensamento surgiu, inevitável:

Por que eu sinto que você acabou de me pedir ajuda?

Instantaneamente, naquele oceano esverdeado que o encarava, Isagi se viu anos atrás — mais jovem, mais frágil, sentado em uma cama de hospital, com o mesmo olhar vazio de quem não sabia se queria continuar. O ar pareceu sumir e o chão sob seus pés pareceu ceder, e uma pressão latejou em sua cabeça. Respirou fundo, buscando algum equilíbrio, e apoiou uma das mãos na cadeira. Jurou ter visto o olhar de Rin vacilar, um brilho passageiro entre o torpor e o medo, mas rapidamente afastou o pensamento, atribuindo à exaustão.

— Me perdoe — riu, seco, coçando a nuca com embaraço — Acho que exagerei na cafeína. Engraçado, eu vivo dizendo pros pacientes não tomarem tanto café, e aqui estou, o pior exemplo possível.

Tentou se distrair caminhando pelo quarto, ajustando pequenos detalhes que já estavam no lugar. Uma almofada aqui, o lençol ali. Fingir ocupação era mais fácil do que encarar o próprio desconforto. Mas Rin o seguia com o olhar até que, de repente, desviava sempre que seus olhos se aproximavam de um ponto específico.

Isagi percebeu.
E como um reflexo automático, foi até o pequeno espelho pendurado ao lado da porta do banheiro. Parou diante dele, fingindo se arrumar.

— Nossa, eu tô péssimo — murmurou, analisando o próprio reflexo pálido e os olhos cansados. No espelho, percebeu o que já suspeitava: Rin desviava completamente o olhar, quase encolhendo contra o travesseiro.

Espelhos incomodam ele?

Não perguntou. Não precisava.
Com um gesto simples e tranquilo, desencaixou o espelho da parede e o colocou dentro do armário onde guardava os medicamentos trancados. O barulho leve da porta metálica se fechando ecoou pelo quarto silencioso. Quando se virou, sentiu novamente o olhar de Rin sobre si. Isagi esboçou um sorriso fraco.

— Eu também não gosto muito de espelhos — disse em tom baixo — É como se eles me lembrassem… de que eu ainda existo e…

A frase ficou suspensa no ar, inacabada. O silêncio seguinte pesou. Ele desviou o olhar, respirou fundo e caminhou até o bebedouro, servindo um copo de água. Bebeu tudo de uma vez, tentando empurrar as próprias palavras garganta abaixo.

Quando A Chuva Cai | RinSagiWhere stories live. Discover now