— Eu não consigo… — sussurrou, a voz embargada — Se ele se for, isso vai acabar comigo. E eu… eu não…

O médico o observou por um momento, o semblante grave suavizando. 

— Eu entendo. Vou te dar um tempo pra pensar sobre isso — Sorriu fraco, tentando transmitir alguma esperança — Você o salvou uma vez, Isagi. E acredito que pode fazer isso de novo.

Ele fechou o prontuário com cuidado e o deixou sobre a mesa. 

— Quero te deixar responsável pelo caso. Vocês têm idades parecidas, talvez encontrem um ponto em comum. Isso pode ajudar na recuperação dele.

— Eu entendo, senhor — Isagi assentiu lentamente.

— Ótimo — O médico se levantou e olhou o relógio — Vai descansar. Você vem mais tarde, às sete da noite, ou só amanhã?

— Eu volto à noite — respondeu, ajeitando o crachá — Vou cobrir o horário do Yukimiya. Fizemos uma troca.

— Vocês, jovens… — o médico riu baixo, balançando a cabeça enquanto o acompanhava até a porta — Eu só vou pra casa depois de revisar os exames. Então, até mais tarde.

Isagi curvou-se educadamente antes de sair. Ele caminhou de volta em direção à sala de funcionários, mas, ao passar diante da porta do quarto 403, algo o fez parar. Respirou fundo. A mão hesitou na maçaneta. Por fim, abriu a porta.

E o choque o atingiu de imediato. Rin estava acordado.

— Bom dia — Isagi disse com um sorriso fraco, a voz quase um sussurro. Entrou devagar, temendo que qualquer movimento brusco quebrasse aquele momento frágil.

Os olhos verdes o observavam em silêncio. Havia algo neles: um vazio opaco, completamente diferente da foto do prontuário. O brilho que antes existia parecia ter sido apagado.

O coração de Isagi apertou, mas ele manteve o sorriso, mesmo sem resposta.

— Você sente dor? — perguntou, aproximando-se da cama.

 Nenhum som. Apenas o piscar lento de Rin.

— Certo — murmurou, interpretando o gesto — Vou considerar isso como um “sim”. Vou aumentar um pouco a dose, pode ser que sinta sono depois de alguns minutos.

Enquanto falava, Isagi trocou um dos pacotes do soro, substituindo-o por um analgésico mais potente. Ajustou a dosagem com calma e observou o líquido translúcido começar a pingar lentamente pelo tubo. Foi então que notou algo errado: as ataduras estavam completamente manchadas de sangue, algumas partes secas e outras ainda úmidas, como se tivessem sido arrancadas à força.

— Você tentou tirar, né? — ele murmurou, a voz baixa, entre um suspiro e um leve toque de repreensão. Levantou-se e foi até o pequeno armário trancado do quarto, pegando um novo rolo de gaze e o kit de primeiros socorros — Eu vou trocar, então… não tente tirar de novo. Quando seus braços cicatrizarem, aí sim posso remover.

Ao se aproximar, notou o olhar de Rin vacilar, não de medo, mas de resistência silenciosa. Isagi respirou fundo antes de tocar o braço dele.

— Vai doer um pouco — avisou com um sorriso tranquilo — mas juro que vou tomar cuidado, tá?

Com gestos leves, começou a retirar a faixa manchada. A pele de Rin estava pálida e fria, marcada por pequenos cortes e feridas recentes, além do corte maior e mais profundo.

— Não precisa falar nada — continuou Isagi, com uma serenidade — Sei que ainda está em choque. Só… tenta relaxar. Eu quero te ajudar.

Ele disse isso porque sentiu o leve tremor na mão de Rin, um movimento involuntário, quase imperceptível, mas suficiente para fazê-lo congelar por um instante. A lembrança veio de imediato, como um lampejo mental:

Quando A Chuva Cai | RinSagiWhere stories live. Discover now