Por volta das oito, a rotina matinal de todo o trabalhador assalariado já havia iniciado como o de costume, num centro comercial lotado de transeuntes indo de um lado a outro, alheios a tudo ao seu redor, só se importando com a própria luta diária.
Como esperado, eu também estava no meio dessa multidão, seguindo o script de todas as manhãs, mas uma balbúrdia havia se formado a poucos metros e os meus olhos curiosos não demoraram pra encontrar o centro da confusão.
Um homem de meia idade, claramente bêbado, havia agredido o artista de rua que estava panfletando pacificamente e que ao menos até então, não parecia ter dado motivos para aquele homem ser agressivo com ele.
O rapaz fantasiado continuou jogado no chão, sendo chutado e ouvindo todos os gritos furiosos que aquele verme de merda direcionava a ele, uma situação deplorável de se assistir.
O sinal fechou e as pessoas ao meu redor continuaram seus caminhos sem dar importância para a situação. Eu iria fazer o mesmo, mas vê o pobre palhaço nessa situação indefesa me fez hesitar.
Eu realmente não quero me meter em uma confusão que não me diz respeito, só quero ter certeza que alguém vai se compadecer com a situação e vai ajudar o artista.
-...Vermes-Murmurei ao esperar alguns instantes, até me dar conta que a única ação externa foi pegarem os celulares pra começarem a gravar.
Respirei profundamente, pois tenho certeza que vou me arrepender do que pretendo fazer agora, mas se ninguém vai fazer alguma coisa a respeito, então eu vou.
-Ei você! -Gritei, empurrando o homem embriagado para longe e me colocando entre eles dois -Qual o seu problema?
-Sai da frente, vadia! -O cara exalava um forte cheiro de vodka barata, ele mal se mantinha em pé, mas insistia em ir pra cima do artista fantasiado -Eu vou fazer essa aberração voltar do buraco de onde veio!
-Você é idiota? -Agarrei a manga de seu casaco, impedindo-o de continuar -Não vê que ele tá só trabalhando? O palhaço não tem nada a ver com a porra dos seus problemas!
-Trabalhando porra nenhuma! -Ele berrou para todos ouvirem -Foi só essas aberrações aparecerem nessa cidade, que as pessoas começaram a sumir!
-Você tá de sacanagem, né? -Gritei de volta, ainda mais alto -Isso é ridículo!
Me recordo de ter visto notícias sobre desaparecimento de pessoas na cidade, mas culpar o circo por algo assim chega a ser ridículo, é só um bando de gente fantasiada com maquiagem na cara, não são nenhum tipo de aberração como ele tá falando.
-Abra seus olhos! -O homem gritou ainda mais agressivo, gesto que me fez recuar -Essas aberrações sumiram com a minha Charlene e você vai ser a próxima!
Charlene? Esse não é o nome da última mulher que desapareceu? Talvez esse cara seja o marido dela, agora entendo o motivo pra tanto ódio. Mesmo sem uma solução concreta, a polícia seguia a ideia de que essa mulher havia fugido com o amante e talvez seja mais fácil pra ele culpar os circenses a ter que admitir que havia levado um chifre.
-É melhor você ir embora! -Saquei meu telefone e algo pra me defender -Ou vou ligar pra polícia!
Olhei ao redor, mais pessoas estavam se aglomerando, atentos para registrar qualquer coisa que fosse interessante, mas ninguém se atreveu a intervir, uns verdadeiros vermes, mas nada que seja uma novidade.
-Sua puta! -Aquele cara estava pronto pra avançar em mim, mas hesitou ao vê o splay de pimenta em minha mão -Ah, foda-se! Espero que seja a próxima a desaparecer, sua vadiazinha!
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O Auge de Colombina ~ The Freak Circus ~ Pierrot
Fanfiction. O grande circos dos horrores veio passar a tempora nos arredores da pacata cidade de Micefield, para apresentar seu show de bizarrices e entreter o público com as mais diversas apresentações. Voltado principalmente para um público mais adulto...
