• capitulo um •

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A luz amarelada da cozinha estava baixa e a casa silenciosa. Changbin constatou isso assim que virou a chave na maçaneta da porta da frente, após um dia exaustivo, carregando nos ombros o peso da produção musical que parecia nunca cessar.

Largou as chaves no balcão de mármore cinza, deixando que o som ecoasse no vazio da casa, embora não estivesse realmente vazio. Um murmúrio suave, quase imperceptível, vinha do andar de cima e imediatamente Changbin se lembrou do que estava acontecendo.

Ele retirou os sapatos, ficando apenas de meia, deixou a bolsa que carregava o notebook no sofá e caminhou devagar pelas escadas e depois pelo corredor estreito. O cansaço parecia menos importante diante daquela melodia familiar que se espalhava pelo ar. Reconheceu cada nota melódica de imediato – a canção que compôs na manhã em que receberam a ligação do orfanato onde Jihoon morou antes de ter seu verdadeiro lar.

Entre os braços de Changbin e Seungmin.

Subiu as escadas em silêncio com o coração acelerado no peito. No quarto de Jihoon, a porta estava apenas encostada. Changbin apoiou a mão no batente e espiou para dentro, sentindo a própria respiração falhar com a cena que presenciou.

Seungmin estava sentado à beira da cama, a voz baixa e doce preenchendo o espaço, acariciando o rosto de Jihoon levemente, que repousava febril com as bochechas redondinhas coradas e os olhinhos se fechando aos poucos. A canção saía de seus lábios com tanta delicadeza que parecia feita para curar, não apenas para adormecer.

“Your laughter lives within me,
even when I can’t hear.
I’m a man enslaved by time,
but through you I’ve learned to be here…”

Changbin sentiu um nó na garganta. A música era uma composição dele para o filho, mas naquele instante parecia pertencer aos dois — a Seungmin, que a cantava baixinho mas com muito sentimento, e a Jihoon, que a recebia como um abraço quente no dia que mais se precisava.

“If I get lost in the coldest nights,
my heart will still be yours.
Even silent, I’ll keep singing,
‘Jihoon, it’s daddy — I’ll return, of course."

Ele permaneceu parado, imóvel, preso entre o desejo de entrar e participar do momento lindo que via e o medo de quebrar aquela cena. O lar que havia perdido se desenhava diante dele como uma pintura viva: o ex-marido que ainda amava, o filho, e a vida que ele desejava eternamente ter para si de novo.

Changbin apoiou a testa contra a lateral da porta, como se o gesto pudesse aliviar o nó em seu peito. Mas Seungmin, que sempre fora sensível aos movimentos ao seu redor – principalmente depois da chegada do filho – não demorou a notar a sombra dele projetada pelo corredor. A canção foi se apagando de seus lábios até restar apenas o silêncio pesado entre eles.

— Achei que fosse demorar mais a chegar, ia ligar para sua mãe porque preciso ir embora. — disse Seungmin em tom baixo e duro, sem se virar.

O mais baixo respirou fundo, hesitando antes de abrir devagar a porta do quarto e adentrar. Seus olhos foram direto para Jihoon, que já estava adormecido. O pequeno peito subia e descia de forma irregular pela febre, e Changbin desejou mais do que nunca poder se apoiar novamente naquelas costas largas que um dia foram seu abrigo.

— Consegui fazer com que o Jinyoung me liberasse mais cedo… Fiquei na porta porque não queria atrapalhar vocês. — murmurou, a voz embargada.

Seungmin piscou rapidamente ao perceber que seu coração vacilou com o tom que lhe foi dirigido. Ajeitou a coberta sobre o filho e, só então, ergueu os olhos para o homem à porta. O brilho suave que havia em sua expressão enquanto cantava desaparecera, substituído por algo mais duro, cansado. Era como se toda a dor que tivesse passado antes ainda morasse ali.

forgive me [seungbin] Where stories live. Discover now