3 capitulo

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— Depois desse banho de mar , Deveríamos tomar banho e comer — Namping falou

Keng passou a toalha pelos cabelos, ainda pingando, e respondeu com o tom seco de sempre:

— Você só pensa em comer.

Namping riu, sentando-se na areia. — E você só pensa em reclamar. É um equilíbrio perfeito.

Keng revirou os olhos, mas o canto da boca quase entregou um sorriso. O sol já começava a descer no horizonte, pintando o mar com tons alaranjados. Namping se esticou preguiçosamente, o corpo ainda molhado, e observou o outro em silêncio por alguns segundos.

— Admito — disse, com um meio sorriso —, não achei que você fosse topar vir até aqui. Achei que ia me deixar falando sozinho.

Keng pegou a camisa e a vestiu com calma. — Eu só não queria que você ficasse reclamando depois, dizendo que eu estraguei o clima.

— Estragar o clima é a sua especialidade — respondeu Namping, divertido. — Mas olha só, hoje até que foi bom.

— Foi normal — corrigiu Keng, tentando manter a seriedade.

Namping se levantou e deu dois passos em direção a ele, inclinando o rosto de leve. — Normal? Então por que você está sorrindo?

Keng desviou o olhar, sentindo o coração disparar. — Tô com frio.

Namping riu alto, balançando a cabeça. — Claro que está. E eu sou o tipo quieto e disciplinado do set.

Ele começou a andar na frente, ainda rindo, e Keng o seguiu em silêncio. O som dos passos dos dois se misturava ao das ondas.

Quando chegaram de volta ao quarto, Namping jogou a toalha num canto e pegou o cardápio do hotel. — Então… banho e jantar. Eu escolho a comida, você escolhe quem vai pro chuveiro primeiro.

Keng cruzou os braços. — Você.

— Achei que fosse dizer “junto” — provocou Namping, piscando.

Keng fechou os olhos e respirou fundo. — Você é impossível.

— E você adora fingir que não gosta — respondeu Namping, já entrando no banheiro com um sorriso vitorioso.

O som da porta se fechando deixou Keng sozinho com o próprio coração batendo rápido demais. Ele se sentou na cama, olhou para a janela e murmurou para si mesmo:

— Isso vai ser mais difícil do que eu imaginei.

Keng ficou imóvel por um instante, olhando o reflexo dele e de Namping no espelho do quarto. O vapor do chuveiro começava a escapar pela porta entreaberta, e aquele som de água caindo parecia mais alto do que deveria. Ele respirou fundo, tentando afastar os pensamentos, mas era impossível.

Desde o Realyte Friendship, tudo parecia um jogo calculado — sorrisos no palco, olhares cronometrados, poses estudadas. O público via química, carinho, cumplicidade. Mas, fora das câmeras, só havia silêncio. Nenhum toque. Nenhuma conversa que passasse do profissional.

Keng sabia que Namping era carismático demais para manter distância por muito tempo, e talvez fosse por isso que agora o medo parecia crescer dentro dele. O medo de que tudo aquilo — o roteiro, as provocações, a proximidade — começasse a quebrar o muro que ele mesmo construiu.

As palavras do pai voltaram como uma ferida reaberta.
"Quer entrar na indústria BL para melhorar de vida, entre. Mas não ouse trazer isso para sua vida pessoal. Não aceitarei um genro. Te criei para casar com mulher e ter filhos."

O tom frio, a expressão dura… Keng ainda podia sentir o peso daquelas palavras. Desde então, aprendeu a controlar cada gesto, cada olhar. Nunca se permitiu sentir nada que pudesse ser mal interpretado.

"Apenas um quarto" Where stories live. Discover now