A manhã seguinte encontrou o castelo em frenesi. Lady Isabelle havia decidido que um banquete de boas-vindas em sua honra seria realizado ainda naquela noite uma jogada clara para reafirmar sua posição como futura rainha.
— Ela quer te colocar em seu lugar — Marie sussurrou enquanto me ajudava a vestir um simples, porém elegante, vestido de lã que Filipe enviara. — O banquete é uma armadilha.
— Tudo nesta corte é uma armadilha — respondi, ajustando o decote. — A diferença é que desta vez, eu sei cozinhar.
Os aposentos que Filipe me concedera eram adjacentes aos dele, com uma porta interconectada que ambos sabíamos ser vigiada. Mas era a cozinha que se tornara meu verdadeiro território. Ao entrar, senti os olhares dos outros cozinheiros alguns curiosos, outros abertamente hostis.
Bertrand, o mestre-cozinheiro, aproximou-se com seus braços cruzados.
— A nobreza quer um banquete que impressione — anunciou, despejando uma cesta de ingredientes exóticos na mesa. — Fazendas de faisão, cisne real, veado... Tudo providenciado por Lady Isabelle.
Examino os ingredientes com olhos profissionais. Tudo da melhor qualidade, mas...
— Algo está errado — murmurei, pegando um faisão. — O cheiro.
Marie cheirou e fez uma careta.
— Está... estranho.
Chamei um dos gatos da cozinha e ofereci um pedaço de carne. O animal cheirou, recuou e fugiu.
— Envenenado — concluí, sentindo um frio na espinha. — Isabelle está disposta a envenenar seus próprios convidados para me incriminar.
Foi quando Filipe entrou na cozinha, sua simples presença silenciando todos os sons.
— Problema? — perguntou, seus olhos imediatamente encontrando os meus.
Mostrei-lhe a carne estragada. Seu rosto endureceu.
— Ela ousou... — começou, mas interrompeu-se quando viu os outros cozinheiros ouvindo. — Sofia, comigo.
Na privacidade de meu aposento, sua fúria explodiu.
— Eu a enviarei de volta para Provença hoje mesmo!
— Não — contra-argumentei, surpresa com minha própria ousadia. — Isso só provaria que eu sou uma ameaça ao seu relacionamento.
Ele pegou meu rosto entre as mãos, sua fúria dando lugar a algo mais intenso.
— Você não entende? Eu me importo mais com sua segurança do que com qualquer aliança política!
A declaração pairou entre nós. Seus dedos afundaram em meu cabelo, puxando-me para perto.
— Desde que você chegou, eu voltei a me sentir vivo — ele sussurrou, sua testa encostando na minha. — O simples facto de você existir aqui comigo, me deixa em êxtase.
O som de passos do lado de fora nos separou. A realidade invadindo nosso momento frágil.
— O banquete — eu disse, minha voz trêmula. — Preciso de ingredientes ...não contaminados dessa vez .
Ele assentiu, seus olhos ainda escuros com a vontade contida.
— Você terá o que precisar. Mas, Sofia... — sua mão agarrou a minha com força possessiva — hoje à noite, você não será apenas a minha cozinheira. Você se sentará ao meu lado.
O banquete daquela noite tornou-se o evento mais comentado do castelo. Não pelos pratos incrivelmente elaborados que criei com ingredientes substituídos, uma torta de faisão com frutas cristalizadas, pães temperados com ervas do jardim real , mas pela disposição dos assentos.
Filipe ocupava o centro da mesa alta, com Isabelle à sua direita. E eu... à sua esquerda. Um lugar jamais concedido a um plebeu.
— Isto é um insulto! — Isabelle sussurrou para Filipe, embora eu pudesse ouvir cada palavra.
— É minha vontade — ele respondeu, servindo-me pessoalmente uma porção de torta. — Prove, Sofia. Quero ouvir sua opinião.
Enquanto eu descrevia os sabores, senti o ódio de Isabelle como um calor,minha orelha até aqueceu de tanto ódio. Suas aliadas entre a nobreza cochichavam, lançando olhares venenosos em minha direção.
Foi durante o terceiro prato que a crise aconteceu. Um dos nobres um aliado de Isabelle começou a tossir violentamente, alegando que sua comida estava estragada.
— Envenenamento! — ele gritou, apontando para mim. — A cozinheira plebeia tentou nos matar!
O salão caiu em silêncio. Todos os olhos se voltaram para mim. Isabelle escondia um sorriso triunfante atrás de seu leque.
Filipe levantou-se lentamente.
— Você tem prova dessa acusação? — sua voz era perigosamente calma.
— A comida tem um gosto estranho! — o nobre insistiu.
Foi quando Marie entrou no salão, carregando os ingredientes estragados que escondêramos.
— A prova está aqui, Majestade — ela anunciou, a voz trêmula mas firme. — Lady Isabelle trouxe carne estragada para o castelo, tentando incriminar a senhora cozinheira.
O escândalo que se seguiu foi histórico. Isabelle negou, é claro, mas as evidências eram esmagadoras. Enquanto a arrastavam para fora do salão, seus olhos encontraram os meus, prometendo vingança.
Mais tarde, na privacidade de seus aposentos, Filipe bebeu um gole de vinho e me estudou sobre a taça.
— Você sabia que ela tentaria isso — afirmou, não perguntou.
— Suspeitei — admiti. — Uma cozinheira aprende a reconhecer ingredientes estragados.
Ele pousou a taça e fechou a distância entre nós.
Seu beijo foi uma afirmação de posse, de proteção, de algo tão antigo quanto o próprio tempo. E quando suas mãos se moveram para o cadarço do meu vestido, eu não resisti.
— Fique — ele ordenou entre beijos. — Fique esta noite,Fica comigo, Fique para sempre aqui .
Eu não queria mais voltar para casa.
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A Cozinheira do Rei
RomanceSofia, uma chef plus size especializada em culinária histórica, é misteriosamente transportada para a França medieval do século XII. Quando acaba nas cozinhas reais, sua única chance de sobrevivência é conquistar o paladar do rei ,.um governante de...
