Ela se aproximou com passos largos, tirando outro folheto amassado do bolso e mostrando para mim.

─── Era pra aquele cara ali, mas o vento não curtiu a ideia ─── apontou para um garoto distraído mais adiante. ─── Sou Dior.

─── Sarah ─── respondi, ajeitando a mochila no ombro.

─── Nome bonito ─── disse, já olhando para o papel que eu segurava. ─── Novo por aqui, né?

Assenti.

─── Então é você! ─── exclamou, como se tivesse descoberto um segredo. ─── A secretária me mandou vir atrás de uma "Sarah, 16 anos, olhar de quem quer fugir". ─── Ela riu, e eu senti minhas bochechas esquentarem. ─── Relaxa, é só o meu jeito de dizer "bem-vinda". Eu sou tipo a guia oficial dos novatos... embora eu normalmente não deixe os papéis voarem na cara deles.

Não pude evitar um pequeno sorriso.

─── Guia oficial?

─── É, assistente da secretária. Basicamente, eu te mostro onde fica tudo, te explico quem são os professores legais e quem são os vilões desse lugar, e tento impedir que você se perca... pelo menos nos primeiros três dias.

Dior falava rápido, com gestos exagerados, e tinha aquela energia que enchia o espaço. Eu, por outro lado, mantinha meu tom calmo, escolhendo as palavras com cuidado, mas já sentia que não seria difícil me acostumar com a presença dela.

─── Bom, podemos começar pelo seu quarto ─── ela disse, apontando para o papel que eu segurava. ─── Depois, seu armário. E, se der tempo, eu te apresento o refeitório e o melhor lugar pra sentar sem ter que lidar com os barulhentos do time de futebol.

Enquanto andávamos pelo corredor principal, percebi que, mesmo com a diferença de idade, ela estava no último ano, com seus 18, havia algo natural na forma como conversávamos. Dior parecia feita para preencher o silêncio, e eu, por mais reservada que fosse, começava a achar que talvez ter alguém assim por perto não fosse tão ruim.

Caminhamos lado a lado pelos corredores compridos do prédio principal, mas a conversa fluía como se nos conhecêssemos há semanas. Dior falava com um entusiasmo que enchia os espaços, descrevendo cada canto da escola, como se fosse um mapa vivo em sua cabeça. Descobri que ela fazia parte do time de skate, e não apenas como integrante, mas como alguém que claramente tinha um lugar de destaque.

Enquanto apontava portas, murais e pequenas escadas que levavam a setores diferentes, ela me contou que o começo do ano ali era sempre um caos organizado. As eleições para presidente de turma e líderes de times de atividades aconteceriam dali a uma semana, mas, antes disso, viria o que ela chamou de "o verdadeiro campo de batalha": as inscrições para atividades extracurriculares, marcadas para amanhã.

─── Você tem que se inscrever obrigatoriamente em três aulas no mínimo e três atividades no máximo ─── explicou, erguendo três dedos e depois balançando a mão no ar, como se aquilo fosse uma regra absoluta do universo.

─── Atividades?

─── Esportes, clubes, grupos artísticos... essas coisas ─── disse, virando para andar de costas na minha frente sem perder o ritmo, como se tivesse nascido com essa habilidade.

Ela ainda segurava uma das minhas bolsas nas costas, e, espiando por cima do ombro, leu o papel que eu tinha nas mãos.

─── Ah, tá brincando? Você tá no quarto 203? ─── perguntou, com um sorriso largo.

─── É... acho que sim ─── respondi, meio sem entender o entusiasmo.

─── Faz quatro anos que ninguém divide quarto com essas meninas. Você vai adorar.

𝗠𝗔𝗡𝗨𝗔𝗟 𝗗𝗘 𝗦𝗢𝗕𝗥𝗘𝗩𝗜𝗩Ê𝗡𝗖𝗜𝗔 𝗗𝗢 𝗔𝗠𝗢𝗥 ᵂᵃˡᵏᵉʳ ˢᶜᵒᵇᵉˡˡ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora